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O labirinto ideológico de Audifax Barcelos

Ex-prefeito da Serra, que disputou o governo do ES pela Rede, declarou apoio a Manato (PL) e apareceu em foto com Tenente Assis (PTB). Na legenda do petebista: "Vamos banir a esquerda"

Vitória
Publicado em 07/10/2022 às 02h10
O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos foi lançado como candidato ao governo do ES em convenção da Federação Rede/Psol
O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos, em julho, na convenção estadual da Rede. Crédito: Thiago Coutinho/A Gazeta

O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos tem uma longa trajetória política, sempre filiado a partidos de esquerda: PT, PDT, PSB e, desde 2015, Rede.

Ele integrou a gestão do pedetista Sérgio Vidigal, na Prefeitura da Serra, chefiou o Executivo municipal, foi deputado federal e, em 2022, tentou chegar ao governo do Espírito Santo. Ficou em quarto lugar, com 135.512 votos (6,51%).

O ex-prefeito se esforçou para não nacionalizar a campanha e, assim, não apoiou ninguém para a Presidência da República.

Em entrevistas, sempre frisou que a questão ideológica não era tão relevante e que muitos que assim se apresentam, na verdade, não são tão fiéis aos preceitos das legendas que representam.

O próprio Audifax se define como de esquerda, considerando o combate às desigualdades sociais; de direita, nos costumes, e de centro em relação à economia.

Nesta quinta-feira (06), ele passou a pedir votos para Manato, o candidato do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, ao governo do estado.

O oponente de Manato no segundo turno é Renato Casagrande (PSB), a quem Audifax criticou duramente na campanha.

O PL, apesar de ser do Centrão, desde que filiou o presidente da República ganhou contornos de direita, ao menos em tese.

Manato, que, assim como Audifax, já foi do PDT, dispara petardos contra a esquerda dia sim, dia também.

O ex-prefeito da Serra considera que não deu nenhuma guinada ideológica.

"Melhorar a vida das pessoas e a justiça social sempre foram as minhas lutas, muitas vezes, contrariando o partido. Essas coisas de princípio, de uma visão pelo social, eu vou continuar lutando por ela", afirmou.

No primeiro turno, Audifax já deu sinais de um posicionamento mais conservador. A vice dele era a Tenente Andresa (Solidariedade), militar do Corpo de Bombeiros simpatizante de Bolsonaro. O candidato ao Senado que Audifax apoiou foi o pastor Nelson Junior (Avante), também bolsonarista.

Coordenador estadual da Rede, o equivalente a presidente da legenda, o ex-prefeito da Serra anunciou nesta quinta que pediu para sair da sigla.

O motivo foi a decisão da direção nacional do partido de apoiar a reeleição de Casagrande.

"Seria incoerente da minha parte, depois de meses fazendo duras críticas ao governo, agora apoiá-lo para ficar mais quatro anos no poder. Já disse e repito: quem não fez em oito anos não fará em 12", afirmou Audifax.

Ele ainda não definiu a qual partido deve se filiar.

Mas tem se aproximado do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). E de outras figuras.

"BANIR A ESQUERDA"

Nesta quinta à noite, o Tenente Assis, militar do Corpo de Bombeiros que foi candidato a deputado federal pelo PTB, sem sucesso, postou uma foto que, há poucos meses, seria improvável.

Na imagem, estão o deputado estadual reeleito Capitão Assumção (PL), um dos principais representantes do bolsonarismo no estado; o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD), que ficou em terceiro lugar na disputa pelo governo; Assis; Manato e Audifax. Todos sorrindo.

Na legenda, Assis escreveu que o grupo vai "banir a esquerda".

A publicação ocorreu poucas horas após Audifax afirmar que a candidatura de Manato não representa risco à democracia. A democracia, cabe frisar, não comporta o banimento de adversários políticos.

Capitão Assumção, Guerino Zanon, Tenente Assis, Carlos Manato e Audifax Barcelos
Capitão Assumção, Guerino Zanon, Tenente Assis, Carlos Manato e Audifax Barcelos. Crédito: Reprodução/Instagram Tenente Assis

Enquanto isso, a convite do futuro presidente da Câmara de Vitória, Armandinho Fontoura (Podemos), Audifax aceitou, inicialmente, passar a trabalhar no Legislativo da Capital.

Isso foi alinhavado com o atual presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), e Pazolini, que assinou um decreto colocando Audifax à disposição da Casa.

O ex-prefeito da Serra é servidor efetivo da Prefeitura de Vitória. O Portal da Transparência mostra que o cargo é o de "analista em gestão pública - economista", lotado na Secretaria de Gestão e Planejamento.

A remuneração, bruta, de Audifax lá é de R$ 4.501,71.

Audifax reavalia se vai mesmo atuar na Câmara, o que faria a partir de segunda-feira (10). O motivo é o título de uma reportagem que diz que ele ganhou um cargo após perder as eleições, o que pegou mal.

"Isso não é verdade", rebateu o ex-prefeito. Ele diz que seria apenas cedido para a Câmara, sem ocupar cargo comissionado, e recebendo o mesmo valor com o qual contaria se permanecesse na prefeitura.

Audifax passou anos licenciado do cargo no Executivo municipal, enquanto desempenhava as funções de secretário, prefeito e deputado.

Agora, pensa até em se aposentar, se for possível. Ou entrar em férias.

Mas vamos desconsiderar esse imbróglio. A questão é a movimentação política do ex-prefeito.

Questionado se pode se aliar ao grupo de Pazolini, composto também pelo presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, Audifax destacou que tem uma postura independente.

"Talvez seja um erro meu, preciso avaliar, mas tenho uma certa independência. Em função desses resultados (eleitorais), em função desse posicionamento que adotei a partir de hoje, provavelmente eu vou conversar com essas pessoas que vão estar apoiando Manato", adiantou.

"Isso significa que daqui a dois anos, quatro anos, eu vou estar junto com esse grupo? Não necessariamente", complementou o ex-prefeito.

Audifax já disse que não pretende disputar a Prefeitura da Serra em 2024 e continua sonhando em se tornar governador.

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