Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Os motivos da vitória de Magno Malta no Espírito Santo

Após quatro anos sem mandato, ex-senador vai voltar ao cargo. Ele derrotou outros oito adversários, em especial Rose de Freitas (MDB)

Vitória
Publicado em 03/10/2022 às 11h55
Magno Malta
Magno Malta em entrevista coletiva após ser eleito senador pelo Espírito Santo. Crédito: Gedyson Viana

O ex-senador Magno Malta (PL) foi um dos grandes derrotados nas eleições de 2018 no Espírito Santo. Após 16 anos ininterruptos no cargo, ele perdeu a cadeira. Viu a ascensão de Fabiano Contarato, na época filiado à Rede, o primeiro senador gay da história do estado, que depois passou a integrar as fileiras do PT.

De lá pra cá, Magno ficou na planície, ativo nas redes sociais e fiel ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). 

Repetiu durante esse tempo o discurso bolsonarista contra o Supremo Tribunal Federal, entre outros tópicos. 

Em 2022, Magno postulou a cadeira no Senado novamente. E o jogo virou.

Com pouco tempo no horário eleitoral, ele optou por uma abordagem, digamos, ousada. Apareceu dando um soco na câmera. No programa de despedida, lançou um olhar ameaçador.

O que aconteceu fora das telas provavelmente pesou mais. Pastor e cantor gospel, Magno apostou no eleitorado evangélico, percorreu igrejas. Em uma delas, em meio ao culto, foi veiculado um vídeo em que Bolsonaro o elogiava.

Os adversários do ex-senador, entretanto, na avaliação desta colunista, foram um fator determinante para a vitória do candidato do PL. Houve a divisão do voto útil. 

A senadora Rose de Freitas (MDB) tentou a reeleição. Ela aparecia, nas pesquisas de intenção de voto, empatada tecnicamente com Magno. No sábado (1), o Ipec a mostrou na liderança. 

Havia, ao todo, nove candidatos ao Senado no estado. O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), era, com exceção de Rose, o único que tinha tempo de TV suficiente para realmente se apresentar ao eleitorado.

E recebeu recursos consideráveis para a campanha: R$ 3,5 milhões.

Muitos eleitores de Rose optaram por ela para evitar a vitória de Magno.

Erick adotou a estratégia do Ele não, Ela não. "Figurinha repetida não completa álbum", entoou a campanha do republicano. Assim, alguns votaram nele para impedir não apenas a volta de Magno, mas a reeleição de Rose, numa tentativa de renovação.

O presidente da Assembleia alcançou 337.642 votos, o que corresponde a 17,25%. O percentual foi acima do previsto pelo Ipec, que era de 11%.

Ainda assim, Erick não chegou nem perto de esboçar chance de vitória. Rose recebeu 747.104 votos (38,17%) e Magno, 821.189 (41,95%).

O resultado alcançado pelo candidato do Republicanos foi suficiente, entretanto, para dividir os votos úteis.

Ironicamente, quem mirou na renovação acertou no Magno Malta.

CONSERVADORISMO

Não menosprezo aqui a força do próprio Magno e dos valores que movem os apoiadores dele.

Em 2018, alguns eleitores desavisados, sem observar ao menos o partido de Contarato, votaram no redista imbuídos do espírito de renovação, mais uma vez, elevando também Marcos do Val (então filiado ao Cidadania) ao Senado.

Contarato, delegado da Polícia Civil e defensor de leis mais duras contra quem comete crimes no trânsito, representava, assim, alguns temas caros à direita. Ele, entretanto, nunca foi desse espectro ideológico.

Em 2022, o episódio foi relembrado lateralmente por Magno, que não citou o nome de Contarato em momento algum. Entre os adeptos do ex-senador, no entanto, era comum ouvir "não podemos errar de novo", num tom de revanche.

É fato que o eleitor capixaba é conservador. As palavras conservador e conservadorismo têm sido usadas à exaustão ultimamente. 

Observo apenas que, algumas vezes, na verdade estamos falando não de conservadores, que querem, em linhas gerais, manter as coisas como estão, mas de reacionários, inspirados por um passado turvo.

BOLSONARISMO

Jair Bolsonaro, recém-eleito presidente da República, ao lado do então senador Magno Malta, em 2018
Jair Bolsonaro, recém-eleito presidente da República, ao lado do então senador Magno Malta, em 2018. Crédito: Reprodução

Magno usou bastante a imagem de Bolsonaro durante a campanha. Fotos, vídeos, frases. No estado, o presidente mostrou-se mais popular do que na média do Brasil.

Se dependesse apenas do Espírito Santo, Bolsonaro teria sido reeleito em primeiro turno, com 52,23% dos votos.

O candidato bolsonarista ao governo, Manato (PL), surpreendeu e foi ao segundo turno contra o governador Renato Casagrande (PSB).

Logo, a onda bolsonarista certamente ajudou Magno.

"RATAIADA"

No último programa do horário eleitoral, o ex-senador antecipou o que faria, caso voltasse ao Senado:

“Voltando ao Senado, as minhas bandeiras vão continuar: a luta contra as drogas, contra a pedofilia, ideologia de gênero, aborto, defesa da nossa fé, liberdade de expressão. Agora, eu vou dizer: ‘rataiada’, trabalhem muito pra eu não voltar, porque, se eu voltar, os senhores também, que se sentem semideuses, vai ser o tempo ruim o tempo inteiro pros senhores!”

Logo após eleito, neste domingo (2), em entrevista coletiva e em meio à alegria da comemoração, Magno adotou um tom mais ameno:

"Não vou chegar lá para ser inimigo de ninguém. Nunca desrespeitei ninguém. As pessoas não entendem uma pessoa que tem posição firme e criam narrativas. Mas quem teve uma vitória retumbante como essa, que Deus me deu, tem que ignorar tudo isso. Eu estarei lá como senador do Espírito Santo, defendendo o Espírito Santo".

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