
O Espírito Santo - governos e setor produtivo - precisa olhar com mais atenção para o início do fim do ciclo do petróleo. Os dados públicos da Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural (ANP), compilados pelo Anuário da Indústria do Petróleo e Gás Natural 2025 da Findes, apontam para uma vigorosa e persistente queda das atividades exploratórias e de produção nos últimos anos. É claro que uma atividade deste tamanho, com o volume de capital já investido, não acabará do dia para a noite, mas é muito importante (e estratégico) observar entender os dados de um setor que responde por algo perto de 25% da indústria capixaba.
Entre 1998 e 2014, era frequente que o número de poços exploratórios (destinados à descoberta de novas jazidas) perfurados no Espírito Santo ficasse acima dos 20 por ano. Grande parte deles no mar, onde fica o grosso da produção. Entre 2015 e 2024, nunca a quantidade de perfurações superou os cinco poços. Sendo que, em 2016 e 2017, nada foi feito. A consequência deste movimento, óbvio, aparece nos registros de Notificação de Descoberta de Indício de Hidrocarbonetos no Estado. Entre 2000 e 2014, quase sempre as notificações anuais ficaram acima de quinze, superando 30 em 2010. Entre 2016 e 2024, todos os anos ficaram abaixo das cinco notificações, sendo quase todas em terra.

Explorando menos, a reposição das reservas não acontece. Em 2013, as reservas totais de petróleo do Espírito Santo eram estimadas em 2,516 bilhões de barris de petróleo. Em 2023, fecharam em 1,2 bilhão de barris, ou seja, queda de 52,3% no período. As de gás encolheram 65,3%: de 92,3 bilhões de metros cúbicos para 32 bilhões de m³.
Na chamada Declaração de Comercialidade junto à ANP (que marca o fim da exploração e o início da fase de produção), mais um alerta emitido. De 1999 para cá, foram 64, mas apenas 16 de 2013 em diante. A única declaração offshore dos últimos tempos ocorreu em 2021, no campo de Wahoo, da Prio. O resultado de toda essa equação é uma evidente tendência de queda da produção total de petróleo no Espírito Santo, em que pese o ligeiro incremento nos últimos dois anos. Em 2014, a extração média de óleo ficou em 367 mil barris por dia. Em 2024, foi de 154,9 mil barris/dia, encolhimento de 57,8% em dez anos.
Até 2027, com a entrada de Maria Quitéria, novo navio-plataforma da Petrobras, e do campo de Wahoo, a perspectiva é retomar um patamar acima dos 200 mil barris por dia, mas, logo na sequência, de 2028 em diante, a tendência é de queda. Altos e baixos na indústria do petróleo não são anormais, mas o problema capixaba é a baixa atividade exploratória dos últimos anos. Com o foco da indústria, destacadamente a Petrobras, no pré-sal e Margem Equatorial (Norte e Nordeste do Brasil), o desafio (e a necessidade de se preparar) fica ainda maior.
O Estado, que está na zona do pré-sal, precisa trabalhar firme para atrair investimentos observando, por exemplo, questões tributárias. Também é importante acompanhar muito de perto a busca por uma solução para a situação onshore, já que a norueguesa Seacrest, que comprou os principais campos que eram da Petrobras no Norte capixaba, entrou em grave crise financeira e não alavancou a produção em terra como se esperava (está pouco acima dos 7 mil barris por dia e a expectativa era de alcançar os 14 mil). O trabalho em terra nem impacta tanto o tamanho da produção, mas é muito importante para a cadeia de fornecedores locais.
Além disso, é fundamental observar o pós-petróleo. O mundo está em uma transição energética e o Espírito Santo já se mostrou competitivo para a produção, por exemplo, de energia eólica no mar e hidrogênio verde em larga escala. As estruturas de gás já montadas - caso da Unidade de Tratamento de Gás de Anchieta, que está completamente parada - têm tudo para serem ocupadas por operações de captura de gás carbônico. Além disso, as empresas do Estado poderão continuar sendo importantes fornecedoras para a indústria de óleo e gás brasileira, que, ao que tudo indica, crescerá por mais tempo. Estaleiro Seatrium Aracruz e unidades de descomissionamento de plataformas são atividades acessórias que podem, se bem planejadas, ajudar o Espírito Santo a fazer um pouso seguro e menos turbulento de uma indústria que surgiu com mais força no final dos anos 90, explodiu nos anos 2000 e, ao que parece, está entrando em um importante declínio.
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