Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 21:22
O Ministério Público do Rio de Janeiro apontou suspeitas sobre mais um policial militar, uma loja de chocolate e imóveis do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) como meios para lavagem de dinheiro da suposta prática de "rachadinha", também conhecida como "rachid", no gabinete dele na Assembleia Legislativa entre 2007 e 2018.>
Os indícios constam dos pedidos de busca e apreensão feitos ao juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, cumpridos nesta quarta-feira (18) em operação da Promotoria do Rio. Eles foram revelados pela revista Crusoé e confirmados pela reportagem da Folha.>
Agentes da Promotoria cumpriram 24 mandados de busca e apreensão ligados à apuração sobre a prática de "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio, que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os deputados. Estão sendo investigados crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.>
Um dos alvos da operação foi a franquia da Kopenhagen do senador, localizada no Shopping Via Parque, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio).>
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Filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, Flávio é dono de 50% da franquia desde janeiro de 2015.>
A firma é citada num relatório do Coaf (órgão federal de inteligência financeira) que descreve oito transferências que somam R$ 120 mil dela ao senador entre agosto de 2017 e janeiro de 2018. A empresa também foi alvo de quebra de sigilo bancário e fiscal pela Justiça em abril.>
De acordo com a Crusoé, o Ministério Público identificou que o policial militar Diego Sodré e sua empresa, Santa Clara Serviços, realizaram depósitos bancários para a conta da Kopenhagen de Flávio entre 2015 e 2018.>
A Santa Clara e Sodré foram alvos de uma investigação da Corregedoria da PM sob suspeita de oferecer serviço de segurança privada ilegal em Copacabana, zona sul do Rio.>
A relação de Sodré com Flávio também se estende à aquisição de imóveis. A revista afirma que a Promotoria apontou que o policial pagou uma das prestações de R$ 16.564,81 para aquisição de uma cobertura em Laranjeiras. O boleto estava em nome da mulher do senador, Fernanda Bolsonaro, também proprietária do imóvel.>
A lavagem de dinheiro por meio de imóveis já era alvo do Ministério Público desde o início do ano, quando o Gaecc (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção) desarquivou em março um procedimento que apurava a lavagem de dinheiro por meio de operações imobiliárias.>
Ele tinha como base reportagem do jornal Folha de S.Paulo de janeiro de 2018 que apontava 19 transações imobiliárias realizadas por Flávio entre 2007 e 2017. As consideradas mais suspeita pelo Ministério Público referem-se à compra e venda de dois apartamentos em Copacabana, no qual o senador conseguiu lucro de 260% do investimento inicial num período de um ano.>
A Promotoria acredita que a fonte dos recursos para a lavagem de dinheiro é a devolução de parte do salário de servidores.>
A apuração sobre Flávio começou em janeiro de 2018 quando o antigo Coaf, órgão federal hoje rebatizado de UIF (Unidade de Inteligência Financeira) e ligado ao Banco Central, enviou espontaneamente um relatório indicando movimentação financeira atípica de Queiroz de R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.>
Além do volume movimentado, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia Legislativa do Rio.>
Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem o conhecimento do então deputado estadual. A sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores.>
Após a quebra de sigilo bancário do ex-assessor, o Ministério Público identificou, segundo a revista, que ele recebeu R$ 2 milhões de outros 13 assessores de Flávio entre 2007 e 2018 --metade de sua filha e mulher, que também eram funcionárias do senador na Assembleia do Rio.>
Também depositaram na conta de Queiroz a mulher e a mãe do ex-capitão Adriano da Nóbrega, foragido sob acusação de comandar uma milícia na zona oeste. As ex-assessoras de Flávio depositaram R$ 203 mil, segundo relata a Crusoé.>
Outros alvos da operação foram parentes da ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle. O relatório da Promotoria aponta, diz a revista, que dez pessoas ligadas a ela e já nomeadas no gabinete de Flávio sacaram R$ 4 milhões de suas contas bancárias entre 2007 e 2018, o que representa 83% da remuneração que receberam da Alerj no período.>
As buscas e apreensões ocorreram após quase dois anos do início das investigações contra o PM aposentado. A Promotoria fluminense recebeu em janeiro de 2018 relatório do Coaf apontando movimentações atípicas de Queiroz.>
Em 2019, após pedido de Flávio, as apurações foram suspensas a partir de julho por liminar (decisão provisória) do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, mas, após decisão do plenário, acabaram retomadas neste mês.>
O MPRJ solicitou as buscas no dia 5, um dia após o STF fixar os parâmetros para o uso de dados sigilosos compartilhados pelo Coaf. Itabaiana autorizou a operação na segunda-feira (16).>
A defesa de Flávio considerou a busca na loja do senador uma "invasão".>
"Até o momento, a defesa não teve acesso a medida cautelar que autorizou as investigações e, apenas após ter acesso a esses documentos, será possível se manifestar. Confirmo que a empresa do meu cliente foi invadida, mas garanto que não irão encontrar nada que o comprometa", afirmou, em nota, o advogado Frederick Wassef.>
A defesa da família de Queiroz afirmou que recebe a ação "com tranquilidade e, ao mesmo tempo surpresa, pois é absolutamente desnecessária".>
"Ele sempre colaborou com as investigações, já tendo, inclusive, apresentado todos os esclarecimentos a respeito dos fatos", disse o advogado Paulo Klein.>
"Ademais, surpreende que o mesmo MP reconhecendo que o juízo de primeira instância seria incompetente para processar e julgar qualquer pedido relacionado ao ex-deputado o tenha feito e obtido a referida decisão", disse o advogado.>
Ele se refere ao posicionamento da procuradora Soraya Gaya, que atua na 2ª Câmara Criminal, que foi favorável à concessão de foro especial ao senador em habeas corpus protocolado por Flávio. A defesa desistiu depois do pedido.>
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