Publicado em 9 de outubro de 2021 às 12:46
O governo pretende aumentar as despesas com a contratação de servidores em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) almeja a reeleição.>
Pelos dados do projeto de Orçamento do próximo ano, a admissão de funcionários públicos deve ser recorde no governo de Bolsonaro.>
Ao enviar a previsão de gastos de 2022, a equipe econômica solicitou ao Congresso que sejam liberados recursos para a contratação de quase 70 mil servidores ao longo do ano eleitoral.>
No projeto de Orçamento de 2021, esse número foi de quase 51 mil admissões, enquanto que nos dois primeiros anos de governo a média foi de 37,7 mil.>
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O gasto com a contração de servidores em 2022 é estimado em R$ 4,7 bilhões, bem acima dos R$ 2,6 bilhões reservados para 2021. Nos dois primeiros anos de governo, esse custo ficou em torno de R$ 3 bilhões, com base em números corrigidos pela inflação.>
Os contratos para novos funcionários no ano em que Bolsonaro estará em campanha eleitoral estão programados para todos os Poderes. No entanto, 66,6 mil vagas –mais de 95% do total– se referem a vagas no Executivo.>
Pelo menos 14 mil vagas atendem a corporações que compõem a base eleitoral de Bolsonaro.>
Há contratos previstos para postos, efetivos e temporários, das Forças Armadas, além de cargos comissionados na área militar.>
Também houve pedido para a admissão de servidores na Polícia Civil, Militar e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, que são custeados com os recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal, ou seja, pelo Orçamento federal.>
Procurado, o Ministério da Economia afirmou que a despesa com pessoal estimada para 2022 em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) será menor do que em anos anteriores.>
Essa proporção, segundo a pasta, caiu de 4,31% do PIB em 2020 para 3,85% neste ano e 3,65% em 2022.>
O ministério argumentou que a proposta para o Orçamento de 2022 tem caráter meramente autorizativo, ou seja, não obriga o governo a executar esse gasto.>
Segundo a pasta, essa aplicação poderá deixar de ocorrer caso, por exemplo, seja necessário adotar medidas de contingenciamento orçamentário ou em razão de novas diretrizes do governo.>
Ainda de acordo com a Economia, 46% das vagas previstas para o Executivo destinam-se ao provimento de cargos em universidades e institutos de ensino federais, que têm autonomia de gestão.>
O presidente da Fonacate (Fórum Nacional de Carreiras Típicas de Estado), Rudinei Marques, afirmou que houve uma contenção na reposição de pessoal nos últimos três anos, o que teria levado diversos órgãos a situações precárias. Ele questionou, no entanto, o momento escolhido para aumentar esse gasto.>
"Acelerar as contratações é algo necessário, mas fazer isso em ano eleitoral revela o caráter do atual governo", disse.>
De acordo com dados do governo, o número de servidores ativos no Executivo federal recua desde o início da gestão Bolsonaro. Em 2019, eram 607,8 mil. Atualmente, são 586 mil.>
Integrantes da equipe econômica adotam a estratégia de não repor todas as vagas abertas por motivo de aposentadoria. Isso tem controlado os gastos com pessoal.>
No entanto, para Juliana Damasceno, economista e pesquisadora de finanças públicas do Ibre FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), surpreende o fato de o governo, que tem ressaltado a redução do quadro de servidores ativos, propor um aumento nas contratações em 2022.>
"Eu acho que existe essa questão eleitoral por atender a esses determinados órgãos e agências, para convocação e realização de concursos, no próximo ano. Houve represamento, de fato, de concursos nos últimos três anos. Mas, se houve muita contratação no passado, não precisamos continuar contratando", afirmou Damasceno.>
Ela avalia que o funcionalismo público é desigual no país, com divergência salarial entre carreiras, e que o governo precisaria comprovar a necessidade desses novos cargos diante da discussão em andamento no Congresso para a reforma administrativa, que visa diminuir o tamanho do gasto com pessoal e elevar a eficiência de servidores.>
Mesmo aliados de Bolsonaro descartam o cenário de que a reforma administrativa será votada até a eleição de 2022, por mexer em regras de servidores públicos, que fazem parte da base de apoio do presidente.>
Bolsonaro acumula uma série de medidas que beneficiam, especialmente, categorias da segurança pública. Ele intercedeu por regras de aposentadoria mais brandas a essas corporações durante a reforma da Previdência –atuando contra a proposta encaminhada ao Congresso por ele mesmo.>
O presidente também adiou a sanção da lei que determinou o congelamento temporário de salários de servidores públicos diante da crise da Covid-19. Com isso, deu tempo para ele mesmo assinar atos que favoreceram policiais federais e militares do Distrito Federal.>
De olho nas urnas de 2022, o Orçamento do próximo ano tem sido alvo de pressões da ala política para abrir mais recursos que possam alavancar a popularidade perdida por Bolsonaro no último ano.>
Além de prever um aumento nos gastos com contratação no próximo ano, o governo sofre ainda a pressão para conceder um reajuste de salários ao funcionalismo em meio à campanha de Bolsonaro.>
Pela primeira vez no mandato de Bolsonaro, o governo incluiu na estrutura do Orçamento uma autorização de reajuste salarial aos servidores públicos federais.>
A liberação foi inserida nas diretrizes orçamentárias para 2022. Em etapa posterior, ao apresentar o Orçamento propriamente dito, no entanto, o governo não previu esses aumentos por falta de espaço nas contas. A peça orçamentária tramita no Congresso e ainda pode ser alterada.>
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