Publicado em 7 de maio de 2020 às 18:24
Depois de sofrer uma série de derrotas na arena judicial, o presidente Jair Bolsonaro levou nesta quinta-feira (7) de última hora uma comitiva de empresários para a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de constranger o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, ao alertá-lo sobre os riscos de o Brasil virar uma Venezuela com os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia. >
Enquanto enfrenta desgastes perante a opinião pública, Bolsonaro buscou terceirizar responsabilidades e dividir com o tribunal o ônus da crise política, econômica e sanitária que abala o seu governo, avaliam integrantes do STF ouvidos reservadamente. >
Entre os empresários que acompanharam Bolsonaro estavam representantes dos setores têxtil, farmacêutico, de produção de cimento, automóveis, energia, cimento, máquinas e calçados, entre outros (veja lista abaixo). >
As movimentações do presidente da República foram vistas no tribunal como um jogo de cena midiático para jogar na Corte uma culpa que não é dela. Segundo o Estadão apurou, causou incômodo especialmente a transmissão ao vivo da reunião pelo perfil de Bolsonaro no Facebook sem conhecimento prévio do Supremo. >
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Interlocutores de Toffoli, no entanto, observam que, se Bolsonaro não tem respeito pela liturgia, o presidente do STF não tinha como não atender ao pedido de audiência do chefe do poder Executivo, em nome da institucionalidade.>
Para um ministro do STF, mesmo que Bolsonaro tente dividir responsabilidades de uma eventual recessão com o Poder Judiciário, o papel da Justiça não é fazer controle prévio da validade de nenhuma medida do governo. Se o presidente abrir segmentos, e isso for questionado, o Judiciário vai ouvir a ciência, as autoridades sanitárias, sem prejuízo de uma postura consequencialista, afirmou esse ministro. >
Durante a reunião, o governo traçou um cenário desolador. O ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a mensagem de que a economia pode desintegrar, está perdendo os sinais vitais e alertou para os riscos de desabastecimento. Bolsonaro, por sua vez, demonstrou preocupação com saques e manifestações populares com o avanço do desemprego. >
A estratégia do Palácio do Planalto é afrouxar o distanciamento social para reativar a economia, apesar de o país ainda não ter chegado ao topo da curva de infecções e óbitos provocados pelo novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde.>
Economia é vida. Um país em que a economia não anda, a expectativa e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) vão lá pra baixo. Queremos que o Brasil ocupe um lugar de destaque no mundo, afirmou Bolsonaro, classificado no mês passado pelo Washington Post o pior líder mundial no enfrentamento da Covid-19.>
Se o objetivo era pressionar o Supremo, Bolsonaro teve de ouvir de Toffoli recados sobre governança. O presidente do STF propôs um comitê de crise para acompanhar os desdobramentos da pandemia, em uma crítica sutil à falta de uma política centralizada do governo federal. Toffoli também defendeu uma saída de maneira coordenada com Estados e municípios e lembrou que a Constituição garante competências específicas para os entes da federação, algo que o próprio presidente parece esquecer.>
A mensagem do ministro foi interpretada por auxiliares como um puxão de orelha em Bolsonaro, que está em um cabo de guerra com prefeitos e governadores para a reabertura do comércio. Toffoli ainda defendeu a Bolsonaro que as medidas de combate ao novo coronavírus sejam tomadas a partir de critérios científicos>
Além da comitiva de empresários, acompanharam a reunião no Supremo os ministros Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Os três foram foram convocados para depor no âmbito do inquérito que investiga as acusações de interferência política na PF feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro contra Bolsonaro.>
Os ministros militares do governo se disseram ofendidos com a decisão do ministro Celso de Mello de que os depoimentos sejam tomados até por "condução coercitiva" ou "debaixo de vara". >
Outros nomes que entraram no radar do Supremo também participaram da audiência: o secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o chefe da assessoria especial da Presidência, Célio Faria. Os dois foram citados em despacho de Celso de Mello que determinou a entrega do vídeo de uma reunião ministerial citado em depoimento do Moro.>
O encontro de Bolsonaro e empresários com Toffoli foi convocado às pressas enquanto o presidente do Supremo se dirigia para o tribunal. >
Ao longo das últimas semanas, o STF proibiu o Palácio do Planalto de veicular campanhas contra o distanciamento social, impediu Bolsonaro de empossar um nome próximo de sua família (Alexandre Ramagem) para a direção-geral da Polícia Federal e decidiu que Estados e municípios podem adotar medidas de isolamento para enfrentar o avanço da covid-19.Mais cedo, ao falar com apoiadores sobre o fim de medidas de restrição adotadas por governadores, Bolsonaro disse que não pode "passar por cima" do Supremo. Pelo visto, a estratégia agora é outra - constranger a Corte.>
Empresários que acompanharam Bolsonaro:>
- Marco Polo de Mello Lopes, Presidente-Executivo do Instituto Aço Brasil e Coordenador da Coalizão Indústria>
- Antonio Sérgio Martins Mello, Vice-Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA);>
- Ciro Marino, Presidente-Executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) (videoconferência)>
- Elizabeth de Carvalhaes, Presidente Executiva da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (INTERFARMA);>
- Fernando Valente Pimentel, Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT);>
- Haroldo Ferreira, Presidente-Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (ABICALÇADOS);>
- Humberto Barbato, Presidente Executivo da Associação Brasileira Indústria Elétrica Eletrônica (ABINEE) (videoconferência)>
- José Carlos Rodrigues Martins, Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC);>
- José Ricardo Roriz Coelho, Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST);>
- José Jorge do Nascimento Júnior, Presidente-Executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos (videoconferência)>
- José Velloso Dias Cardoso, Presidente-Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) (videoconferência)>
- José Augusto de Castro, Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) (videoconferência)>
- Paulo Camillo Penna, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento Portland (ABCP);>
- Reginaldo Arcuri, Presidente-Executivo do Grupo FarmaBrasil (FARMABRASIL) (videoconferência) ;>
- Synésio Batista da Costa, Presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (ABRINQ).>
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