Publicado em 4 de maio de 2020 às 18:10
Em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, a dívida pública do Brasil deverá bater recorde neste ano. Com isso, a marca de 90% do PIB (Produto Interno Bruto) poderá ser ultrapassada. Em dezembro de 2019, era de 75,8% do PIB. >
Esse indicador é usado por agências de classificação de risco para avaliações sobre a solvência do país. Quanto maior a dívida, maior o risco de calote.>
A dívida bruta do governo geral (DBGG) reúne todos os débitos do governo federal, dos governos estaduais e dos governos municipais, com o setor privado, setor público financeiro e instituições internacionais.>
Projeções do governo mostram que esse índice subiria para 90,9% do PIB se a economia recuar 3% neste ano e as contas públicas fecharem com um rombo de R$ 634 bilhões.>
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A previsão está no projeto de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2021, enviado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) ao Congresso neste mês.>
Esse cenário tem se mostrado realista nos últimos dias. Analistas de mercado já esperam 3,7% de recuo no PIB em 2020, segundo o boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (4).>
Na projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia brasileira encolherá 5,3% em relação ao ano passado.>
Mesmo assim, a equipe econômica ainda mantém, oficialmente, a estimativa de avanço de 0,02% no PIB.>
O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, já prevê que as contas públicas poderão encerrar o ano com rombo de aproximadamente R$ 600 bilhões.>
Com o aumento dos gastos durante a pandemia da Covid-19, há uma tendência de expansão do déficit primário (resultado entre receitas e despesas sem considerar os juros da dívida pública).>
Um exemplo é a necessidade de ampliar o orçamento para o auxílio emergencial pago pelo governo para trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores (MEI) na crise.>
Num cenário de elevado déficit primário e forte queda do PIB, a dívida pública não sairia da casa dos 90% pelo menos até 2023, de acordo com as projeções do Ministério da Economia.>
Técnicos dizem que a estratégia do governo é atenuar esse quadro, se confirmado, com o corte de gastos obrigatórios, a partir do próximo ano, já que em 2020 o plano de ajuste nas contas públicas foi afrouxado diante da crise do novo coronavírus.>
Para isso, a equipe econômica conta com o avanço de reformas estruturantes, como a administrativa, que reduz as despesas com funcionalismo público.>
Em outra frente, técnicos do Ministério da Economia avaliam que o governo dependerá de receitas extraordinárias para dar algum fôlego ao caixa da União a partir do ano que vem.>
Por isso, afirmam que será ainda mais necessário dar andamento à pauta de privatização de estatais, abandonada neste ano diante da piora no ambiente de negócios e da desvalorização de empresas.>
Em outubro do ano passado, a projeção do Tesouro Nacional era que a dívida bruta do governo geral alcançaria seu pico em 2020, em 81,8% do PIB e, a partir desse ponto, começaria a cair, considerando um recuo nas taxas de juros e crescimento econômico do país.>
No projeto da LDO de 2021, mesmo com o cenário oficial do governo (crescimento quase zero), a dívida continua subindo até 2023, chegando a 86,4% do PIB.>
Quando a estimativa inclui o cenário de queda de 3% da economia e ampliação do rombo fiscal, essa trajetória se encerra em 91,5% do PIB, em 2023.>
Em dezembro do ano passado, o Banco Central divulgou que a dívida bruta do Brasil recuou pela primeira vez em seis anos.>
O indicador da capacidade de honrar compromissos financeiros ficou em 75,8% do PIB, ante 76,5% em 2018.>
Sem a ajuda de fatores considerados não recorrentes, a tendência já era para que a dívida voltasse a subir em 2020.>
A queda no ano passado foi influenciada pela antecipação de pagamentos do BNDES ao Tesouro Nacional, a venda de reservas internacionais e a melhoria da relação entre receitas e despesas do governo.>
Porém, o governo não esperava, até a eclosão da crise do novo coronavírus, que esse índice poderia chegar ao patamar de 90% já em 2020.>
Em outro fator que impulsiona esse cálculo, o governo não deve contar com um dos instrumentos usados no ano passado no abatimento da dívida pública.>
Para fazer frente à crise, o BNDES decidiu suspender as devoluções antecipadas de recursos ao Tesouro Nacional.>
Com o objetivo de ampliar a capacidade de implementar programas emergenciais de crédito, o banco deve segurar R$ 25 bilhões que seriam devolvidos à União neste ano.>
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