Publicado em 4 de maio de 2020 às 11:09
A demanda menor das famílias e as políticas de isolamento social aplicadas em estados e municípios a partir de março deste ano levaram a uma queda recorde no nível de utilização da capacidade instalada da indústria brasileira.>
A redução na atividade econômica ocorreu na tentativa de reduzir a circulação do novo coronavírus. No Brasil, o número de mortes passa de 6.000.>
O indicador calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) para o setor, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), aponta que, em média, as fábricas estão operando em 57,5% do que poderiam.>
Esse nível representa 15,9 pontos a menos do que os 73,4% registrados em dezembro de 2016, o pior momento do ciclo de crise econômica entre os anos de 2014 e 2016.>
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O tombo na produção foi tão grande agora que ele levou a utilização da indústria, de um mês para o outro, ao menor patamar em 20 anos.>
"Na crise anterior, tivemos um ciclo de 37 meses em queda até o pior momento. Agora, em dois meses, a queda no Nuci foi duas vezes maior do que no ciclo 14-16", diz a economista Renata de Mello Franco, do Ibre. Em fevereiro deste ano, o índice estava em 76,2%.>
A queda também não foi homogênea, afetando mais os setores considerados não essenciais, como a produção de automóveis, de calçados e artigos em couro e de vestuário.>
No segmento automotivo, a indústria está operando com 12,5% da capacidade. Renata Franco explica que os setores não operam com 100% da capacidade, mesmo que alguns fiquem próximos da utilização total.>
Ainda assim, a ociosidade da indústria de veículos está em 66%. Em apenas um mês, a queda foi de 61,5%. No pior momento do último período de crise, a produção ocupou 56,5% da capacidade.>
A redução foi ainda maior na produção de peças de vestuário. De uma capacidade instalada média de 88,3%, o setor utilizou, em abril, 20,5% do que poderia estar produzindo. No setor de couros e calçados, o nível está em 24,8% -a média de utilização é de 79,6%.>
Renata diz que há duas diferenças principais na reação da indústria da transformação no período de crise anterior e o de agora.>
A primeira refere-se ao modo brusco como as atividades foram reduzidas na crise do coronavírus. >
"Naquele momento, a partir do esgotamento do modelo de desenvolvimento, as empresas vinham se adaptando à queda na demanda. Dessa vez, o que se viu é que em dois meses, 18 pontos da capacidade instalada deixaram de ser usado. É algo que a gente não tinha visto antes", afirma. >
Além de uma queda imediata na demanda das famílias, que estão dando prioridade a despesas consideradas essenciais, as medidas de isolamento social que, em alguns casos, obrigou o fechamento de fábricas para atender às medidas sanitárias, colaboraram para uma redução mais intensa na produção. >
Para Renata, os setores que menos tiveram alteração nos níveis de utilização são aquelas ligados às necessidades da crise sanitária e de saúde e ao que as famílias priorizam quando perdem renda ou estão inseguras quanto ao futuro. >
Na indústria de alimentos, o nível atual de utilização da capacidade está em 74,5%, pouco abaixo dos 78,5% da média para o segmento. No setor farmacêutico, o mês de abril ocupou 81,1% do que a indústria do segmento consegue atender, operando acima do nível médio, que é de 76,7%. >
A economista considera o cenário desanimador, diante do aumento no nível de incerteza. Outros indicadores calculados pela FGV apontam que os estoques do setor industrial continuam altos. Pelos próximos três meses, a previsão é de desaceleração na produção. >
Outro indicador pesquisado pela FGV, o índice de confiança da indústria fechou abril em 58,2 pontos, umas queda de 39,3 pontos, a maior desde janeiro de 2001, quando a pesquisa começou a ser feita. >
"Os empresários estão mais pessimistas agora do que estavam em 2016", diz a pesquisadora da FGV. >
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