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A nova gestão da Ufes e os desafios para a universidade pública

Assumo a reitoria da Ufes em meio a um quadro de inquietudes, marcado especialmente pela pandemia da Covid-19, que exigirá ainda mais iniciativas, participação, criatividade e afinco

  • Paulo Vargas
Publicado em 31/03/2020 às 10h00
Atualizado em 31/03/2020 às 15h42
Paulo Vargas, o novo reitor da Ufes
Paulo Vargas, o novo reitor da Ufes. Crédito: Divulgação/Ufes

Assumir a reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo, sob as circunstâncias que me foram impostas e as dificuldades deste momento atípico pelo qual estamos passando, é um desafio que exige muita serenidade e determinação. Antes de expressar os desafios que estão postos para a nossa gestão, registro a minha solidariedade para com a comunidade universitária e com a nossa ex-vice-reitora, professora Ethel Maciel, escolhida pelos estudantes, professores e técnicos administrativos em educação, em consulta pública, para ocupar a reitoria da Ufes, encabeçando a lista tríplice enviada à Presidência da República, como exige a lei.

Ante a possibilidade de não ser considerada a escolha democrática da Ufes, em face de decisões deste tipo terem acontecido previamente em outras universidades, sempre ao lado da professora, cuidamos para que fosse garantida a implementação do projeto eleito, disputando nos conselhos superiores da Ufes os votos por uma lista tríplice alinhada com a vontade da comunidade universitária.

Fiel ao compromisso assumido previamente com o projeto vencedor na consulta pública realizada e em apoio à Ethel, juntamente com o professor Rogério Faleiros, aceitei participar da lista tríplice enviada à Presidência da República.

Ao ser nomeado no seu lugar, fui tomado de assalto por sentimentos de surpresa, frustração e indignação. Mas, mesmo contrariado, me impus o dever de assumir a reitoria e dar curso ao projeto para a nova gestão da universidade que foi aprovado por ampla maioria da comunidade universitária.

A cautela com que foi encaminhado todo o processo sucessório na Ufes, a visão estratégica, o companheirismo e o diálogo que sempre nortearam a atuação de todos nós, consoante a estratégia traçada, acabaram me colocando neste lugar, por decisão alheia à minha vontade. Esta não é uma posição confortável, já que o ato em si que me coloca neste lugar contraria a minha própria história de compromisso com as liberdades democráticas e a autonomia universitária.

Portanto, não me envaideço com a indicação que recebi para o cargo de reitor nas condições atuais, mas aceito a minha nomeação com gravidade e responsabilidade, consciente do meu dever de dirigente público, comprometido com a universidade. Sabedor da enorme tarefa que assumo, reafirmo o meu compromisso com a defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, comprometida com os direitos humanos e a inclusão social e espero poder contar com a compreensão e colaboração de todos, para que possamos enfrentar e superar os reveses por que estamos passando nestes tempos.

Assumo a reitoria da Ufes em meio a um quadro de inquietudes, marcado especialmente pela pandemia da Covid-19, que exigirá ainda mais iniciativas, participação, criatividade e afinco. Nos últimos anos, a Ufes alcançou inúmeras vitórias e se posicionou no elenco de universidades mais destacadas do Brasil.

Com seus quase 24 mil estudantes de graduação e de pós-graduação, seus mais de 1.700 docentes e 1.900 técnicos administrativos em educação, a Ufes pode se orgulhar de ser um centro de excelência que constrói oportunidades, promove inclusão social, incrementa o conhecimento científico, filosófico e artístico, presta serviços à comunidade e contribui para o desenvolvimento local e nacional.

Há pouco tempo, o grande desafio era assegurar verbas para a universidade e buscar novas fontes de financiamento para dar sequência ao seu crescimento dentro de um quadro econômico global e nacional de crise e mudanças que concentram cada vez mais a renda e precarizam a vida de muitos. Crise que é ainda mais intensificada por políticas públicas que restringem direitos e oportunidades e por decisões que esgarçam princípios democráticos.

Agora, devemos acrescentar a este quadro a primeira grande desaceleração planetária desencadeada pela pandemia do novo coronavírus que exige decisões e soluções de curtíssimo, de médio e de longo prazo, sobretudo inovadoras e por vezes extraordinárias.

Acreditamos que as universidades, que afinal abrigam as ciências, possuem um papel de extrema relevância na busca dessas soluções que podem ser obtidas considerando um largo espectro de parcerias possíveis de serem firmadas com o setor público e a iniciativa privada.

Nosso compromisso é o de manter a Ufes no seu percurso ascendente, oferecendo as respostas que a sociedade demanda, fortalecendo seu papel estratégico, promovendo o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociada, com uma gestão participativa e transparente, direcionada para a promoção de um mundo mais sustentável e de uma sociedade mais justa, fraterna e inclusiva, onde a meta seja primeiro a vida e a felicidade, em contraste com o simples lucro e a voracidade do poder econômico.

O autor é reitor da Ufes

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