Colatina chega ao primeiro centenário como uma das cidades capixabas mais importantes
Colatina chega ao primeiro centenário como uma das cidades capixabas mais importantes. Crédito: Heriklis Douglas

União pela segurança e pelo bem-estar no Centro-Oeste capixaba

Cidades do Centro-Oeste buscam soluções em conjunto para oferecer água de qualidade à população. Municípios também acreditam que economia e turismo vão se fortalecer

Publicado em 24/11/2021 às 05h00

Às margens do Rio Doce, municípios da microrregião Centro-Oeste tentam descobrir formas de superar a tragédia que abalou a economia local, principalmente as atividades ligadas ao agronegócio, e atingiu em cheio o bem-estar dos habitantes dessas comunidades. A queda da barragem em Mariana (MG), em novembro de 2015, acabou despejando mais de 40 milhões de metros cúbicos de lama de resíduos da mineração nesse recurso hidrográfico, o mais importante desse território e também do Espírito Santo.

Além da água usada para abastecer casas ter sido prejudicada pela ocorrência, faltaram também fontes para matar a sede dos animais e para irrigar a produção agrícola. A pesca ficou proibida, na época, tirando o sustento de muitas famílias e elevando o desemprego. Para quem produzia em pequena ou grande escala, o prejuízo também foi incalculável: o solo se tornou impróprio em alguns lugares, durante o auge da crise.

Dentro dessa divisão do Espírito Santo, Colatina Baixo Guandu foram as cidades mais afetadas pelo desastre ambiental. Além das consequências, que seis anos depois ainda são sentidas, essas cidades precisam conviver com períodos de estiagem prolongada, como a percebida no meio deste ano, ou com épocas de fortes chuvas fortes, que causam também enchentes.

Diante das questões da natureza, que não são dominadas pela humanidade, ou por reações causadas pelo mau uso dos recursos ambientais, os dez municípios que compõem essa área querem virar a chave para construir um futuro mais promissor, com investimentos no agro, no comércio e também na indústria.

Também buscam uma integração e soluções em conjunto para problemas em comum. Todos eles têm como meta: crescer, desenvolver a economia e levar qualidade de vida à população, principalmente para não faltar o básico: a água.

Colatina, cidade polo da região, planeja construir barragens para armazenamento de água com o objetivo de levar segurança ao uso doméstico em momentos críticos, explica o prefeito da Cidade, Guerino Balestrassi.

Guerino Balestrassi

Guerino Balestrassi

Prefeito de Colatina

"Vamos trabalhar para a captação de recursos, com foco também em saneamento, principalmente após a tragédia. Toda a água consumida é captada desse manancial"

“Até hoje os munícipes não acreditam no saneamento básico, pois têm a imagem de que a água está contaminada. A população compra água mineral até para tomar banho. É um problema grandioso. Por isso, queremos construir barragens para melhorar a captação de água”, explica Balestrassi.

A construção de barragens comentada pelo prefeito faz parte do plano estratégico para o período de 2022 a 2040, que deve ser lançado no início do próximo ano. Também fazem parte das iniciativas de desenvolvimento local a construção da terceira ponte e obras no sistema viário.

“Se tudo sair como o combinado, há possibilidade de construirmos até a quarta ponte sobre o rio que corta a cidade”, complementa Balestrassi.

O conceito de cooperação na microrregião começou não apenas em relação ao problema da água, explica Balestrassi, ao falar ainda sobre a instalação de um aterro sanitário em Colatina que poderá atender aos municípios da microrregião e outras sete cidades que ficam em outros territórios.

A ideia é melhorar os indicadores de saneamento. Conforme dados de panorama construído pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), 71% da população da microrregião são atendidos por abastecimento de água da rede pública, 73% por coleta de lixo e 65% por coleta de esgoto.

Segundo a diretora de Estudos e Pesquisas do órgão, Latussa Laranja, o maior desafio local continua sendo a integração de algumas ações em prol do desenvolvimento da microrregião, como o saneamento.

“O desastre de Mariana que atingiu o Rio Doce é um bom exemplo. É necessária uma atuação conjunta entre os entes federados para um desenvolvimento sustentável, respeitando as diferenças e com qualidade de vida para todos. Essa é uma bandeira dos tempos futuros. Questões maiores só terão respostas se o trabalho for feito de maneira integrada”, afirma.

Ela ainda alerta que, sem cooperação e sem respeito à recuperação do meio ambiente, não há produção saudável. “Sem florestas, não tem água. A integração deve ser contínua, em todos os níveis e em todos os setores”, pontua.

Economia

Ainda que o perfil seja bastante rural em boa parte das cidades, o Centro-Oeste capixaba tem como ponto forte a oferta de serviços de educação, com campi do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) em duas localidades, além de ser um território que há anos conta com opções de faculdades particulares para atender aos moradores em busca de ensino superior, principalmente nas áreas de Direito e Medicina.

A indústria de confecções é um dos mercados mais desenvolvidos. Colatina, polo econômico da região, é referência nas fabricações de roupas e calçados e viu essa importante atividade se expandir para os vizinhos, como São Gabriel da Palha e Baixo Guandu.

Agora um novo investimento deve provocar uma onda de chegada de novos negócios. Pelo menos é o que esperam gestores locais. O governo federal disponibilizou verbas para a duplicação da BR 259. As obras serão relevantes para o desenvolvimento e para promover uma conexão mais eficiente com a BR 101, rodovia mais importante do país, levando até esses muncípios novos possíveis mercados e ainda ampliando o interesse turístico.

O Produto Interno Bruto da região, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de R$ 6,3 bilhões, sendo o setor de serviços o maior peso (62,2%), depois a indústria (20,9%) e a agropecuária (7,13%). Colatina detém mais da metade desse PIB (R$ 3,4 bilhões). A segunda cidade em tamanho econômico é Baixo Guandu com (R$ 723,98 milhões) e depois aparece São Gabriel da Penha (R$ 603,34), cidade muito voltada para a produção de café.

Segundo Balestrassi, somente Colatina tem 20 empresas interessadas em se instalarem na cidade. “Colatina é organizada, tem bons serviços públicos. Temos todas as condições de atrair algumas companhias a fim de termos um crescimento controlado”, complementa.

Na vizinha Baixo Guandu, muitas empresas negociam se instalar na comunidade. E os investimentos devem se intensificar com obras em infraestrutura, segundo o prefeito Lastênio Cardoso. Ele afirma que aguarda o asfaltamento da estrada de Novo Mutum, que dará acesso ao porto seco. O local, segundo ele, vai atender principalmente a indústria de beneficiamento de rochas.

Lastênio Cardoso

Lastênio Cardoso

Prefeito de Baixo Guandu

"A produção do Estado, de Minas Gerais e Mato Grosso vai passar por aqui. Queremos nos tornar referência com esta logística"

Ele anuncia ainda a construção de um novo hospital em Baixo Guandu. “Os empresários buscam investir em cidades onde há uma boa infraestrutura. No município, a saúde é muito bem qualificada, com 35 médicos em 15 especialidades, além de não ter exames e atendimentos represados”, finaliza.

Mas uma das preocupações na área da economia é o apagão de mão de obra. O município, para atrair mais negócios, deve promover cursos de qualificação para ter profissionais prontos para atender à demanda de novas empresas, de acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Ismail Marcelino Ramos.

“A partir do ano que vem, com a recuperação econômica muitas oportunidades vão surgir, por isso, vamos investir pesado na qualificação para atender as empresas que já estão instaladas e as que vão chegar no município”, destaca Ramos.

Segundo ele, este ano já foram realizados cursos na área de costura, para atender à indústria de confecção que é bem forte no município. Novas turmas já estão previstas. São 18 mulheres matriculadas para receber os treinamentos.

“Há diversas fábricas que estão sem funcionários. No distrito de Ibituba, por exemplo, será estruturado um polo com costureiras. A ideia é que elas prestem serviços para as empresas”, explica. Outro curso que será oferecido é o de eletricista para motocicletas, em parceria com o Senai. “Também acredito que há uma necessidade de se ter programas que despertem o espírito empreendedor do jovem. Com um curso de mecânica, por exemplo, a pessoa pode montar uma oficina em casa e atender seus clientes. Dependendo do serviço, os clientes da cidade precisam ficar meses na lista de espera até conseguir atendimento”, ressalta o secretário.

Para centralizar a oferta de vagas e acolher os currículos, a prefeitura conversa com o governo do Estado para instalar na cidade, em breve, um balcão de oportunidades e empregos.

E por falar em trabalho, novas vagas deverão surgir nos próximos anos. O polo empresarial do município deve abrigar novas empresas a partir do ano que vem. Ramos explica que, no local, já foram entregues 42 lotes na primeira fase do projeto. Funcionam no local empreendimentos nos ramos de vidraçaria, confecção, madeireira, oficina mecânica, além da Coopeavi. “Uma segunda etapa de obras de infraestrutura, de responsabilidade do Estado, deve começar até fevereiro de 2022. A expectativa é que os 42 novos lotes estejam prontos até dezembro do próximo ano. Já temos cerca de 30 empresários interessados em investir no polo”, afirma.

Turismo

Além do agro e do setor de confecções, o turismo de aventura é uma das características do Centro-Oeste. Municípios como Pancas e Baixo Guandu são bastante procurados por quem pratica saltos de parapente. Nessas cidades estão os pontões capixabas, área de grande beleza e também ideal para a modalidade esportiva.

Os principais atrativos são a rampa de voo livre, onde são realizados campeonatos nacionais e internacionais, e cachoeiras. “Estamos em conversa com o governo do Estado para que sejam feitas obras de pavimentação de estradas, pois poucas são asfaltadas. A ação vai ajudar na estruturação do roteiro da rota das cordilheiras e o agroturismo”, avalia Ramos.

Baixo Guandu quer atrair mais visitantes interessados em conhecer suas belezas. Crédito: Fred Loureiro/Secom-ES
Baixo Guandu quer atrair mais visitantes interessados em conhecer suas belezas. Crédito: Fred Loureiro/Secom-ES

Na BR 259, a Prefeitura de Baixo Guandu quer construir um portal do turismo com informações dos potenciais da cidade e quiosques para exposição e venda de artesanato. O projeto já está sendo elaborado pela administração.

Na avaliação do economista Sebastião Demuner, há potenciais na região, tão bonitos quanto Pedra Azul, mas que não contam com infraestrutura adequada para receber os visitantes. “O pontapé inicial têm que ser as obras de pavimentação de estradas.”

Para o economista, algumas ações podem impulsionar o turismo. Dentre as metas estão a criação de rotas turísticas e investimentos em infraestrutura. “Isso, certamente, alavancaria a atividade turística na região. Acredito que precisaria de um projeto político para isso”, pontua.

Demuner ressalta que Colatina tem dois focos principais, Saúde e a Educação. Apesar do bom desempenho, o economista avalia que ainda são necessárias melhorias. Uma delas seria um investimento pesado na rede hospitalar. “São cinco hospitais na cidade, mas não há nenhum de referência na região. Quando um paciente precisa de exames mais específicos ele precisa ir para Vitória para se consultar. É preciso criar referências regionais”.

Para diversificar a economia e ir além do turismo, confecções, agro e comércio, para Demuner, é necessário ainda a criação de um polo de tecnologia na região. “É preciso aproveitar toda essa estrutura para trazer novas oportunidades. Uma boa estratégia seria apostar em tecnologia e inovação até para reter os talentos”, aponta.

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