Anchieta tem potenciais além do petróleo e da mineração
Anchieta tem potenciais além do petróleo e da mineração. Crédito: Carlos Alberto Silva

Riquezas no Litoral Sul vão da pesca ao petróleo e gás

Municípios da microrregião têm mais de 23,8 mil trabalhadores atuando no setor privado, principalmente no segmento de serviços e de agropecuária

Publicado em 24/11/2021 às 04h00

No mapa do Espírito Santo, a microrregião Litoral Sul tem uma localização privilegiada. Ao norte, faz limite com a Região Metropolitana capixaba. Já ao sul, situa-se na divisa com o Estado Rio de Janeiro. Além disso, a maior parte do seu território é banhada pelo Oceano Atlântico. Esse conjunto de fatores geográficos possibilitou que a localidade desenvolvesse sua indústria extrativa mineral, pesca e prestação de serviços.

A microrregião é composta por oito municípios: Alfredo Chaves, Anchieta, Iconha, Itapemirim, Piúma, Presidente Kennedy, Marataízes e Rio Novo do Sul. Ao todo, eles representam apenas 6% de todo o território do Espírito Santo, cerca de 2,7 mil km², de acordo com estimativas do IBGE.

Ao contrário de outras regiões do Estado que têm uma grande diferença entre o percentual de habitantes e a área que ocupa em relação ao total do Espírito Santo, o Litoral Sul é bem mais equilibrado. Os oito municípios têm uma população equivalente a 4,37% dos habitantes do Estado.

Segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, as cidades do Litoral Sul têm bons índices de saúde, educação, renda e emprego, se comparados à média estadual, porém, ainda tem espaço para esses indicadores melhorarem.

“O Produto Interno Bruto (PIB) per capita dessa microrregião é maior que a média do Estado. Presidente Kennedy, por exemplo, está sempre entre os maiores PIBs per capita do país, mas, quando falamos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM), ele é o penúltimo da sua região, e considerado como médio”, comenta a diretora de Estudos e Pesquisas do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Latussa Laranja.

Desenvolvimento

A microrregião Litoral Sul é lar para cerca de 20 mil negócios de todos os portes que empregam pelo menos 23,7 mil trabalhadores. “Temos uma forte presença do setor de serviços (49%) e da agropecuária (6%) compondo o PIB desses municípios. Porém, a indústria tem um papel fundamental para a economia das cidades”, afirma Latussa.

O economista e coordenador-geral da Faculdade Pio XII, Marcelo Loyola, explica que a principal atividade da microrregião é a indústria, mesmo correspondendo a 41% do valor do PIB microrregional (índice menor do que o de serviço). Isso ocorre devido à capacidade da atividade industrial de ampliar a rede de fornecedores locais para atender a suas demandas.

“Além do café, os principais produtos da agropecuária são as frutas e a pecuária bovina, de corte e de leite. A cana-de-açúcar também está presente, em razão da existência de uma usina situada em Itapemirim. Além disso, há uma série de investimentos anunciados para a região, os quais poderão configurar uma verdadeira plataforma logística, integrando rodovias, ferrovia, aeroportos e portos e ampliando a área de influência da microrregião para o Rio de Janeiro”, aponta.;

Encontrar saída ao “ouro negro“ deve ser prioridade no Sul

Olhando para os desafios que as cidades da microrregião Litoral Sul precisará enfrentar, é possível indentificar alguns pontos comuns. Eles esbarram em problemas históricos e sinalizam que é preciso planejar o futuro.

Nos últimos anos, a região passou por grandes perdas. Em 2016, o município de Anchieta sofreu o impacto do fechamento da Samarco, após o desastre de Mariana (MG). A paralisação das atividades fez trabalhadores serem demitidos e empresas do comércio local fecharem as portas.

O superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Espírito Santo (Sebrae-ES), Pedro Rigo, aponta que a economia da região tem muita expectativa para a volta total da Samarco. “As cidades conseguiram passar pelo momento mais difícil daquele período de atividades paralisadas pela empresa. Isso ocorreu principalmente devido aos pequenos negócios que ajudaram a segurar a economia local, mas a retomada total da companhia é muito importante para toda a região”, comenta.

Já olhando para um futuro nem tão distante assim, a microrregião Litoral Sul, beneficiada pela alta arrecadação de royalties de petróleo por ter municípios de Presidente Kennedy (primeiro local onde ocorreu a exploração de pré-sal no Brasil), Itapemirim e Marataízes, deve reduzir seu percentual de arrecadação ano após ano. Um dos motivos é a queda na exploração de petróleo em mar. “Neste caso, os municípios precisam criar condições para o desenvolvimento de outras atividades econômicas, atraindo a implantação de novos negócios, com incentivos e investindo em educação e inovação. Além disso, é necessário criar uma infraestrutura adequada e moderna para melhorar a mobilidade na região”, aponta o economista e coordenador-geral da Faculdade Pio XII, Marcelo Loyola.

O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Heldo Siqueira, complementa afirmando que não se trata de fazer com que essas regiões não dependam desse repasse, mas sim de que esses repasses sejam reinvestidos na região gerando uma dinâmica que ajude a diversificar a economia desses municípios.

“Nesse sentido, a ampliação do mercado consumidor melhora a massa salarial das empresas desse setor. Além disso, a aplicação dos recursos na contratação de servidores do sistema de saúde, educação e segurança pública que, se estabelecendo nesses municípios, gerarão mercado consumidor”.

Ele ainda comenta que a utilização dos recursos dos royalties para incentivar o desenvolvimento, por meio de financiamentos produtivos ou criação de infraestrutura, de atividades de serviços para os trabalhadores dessas atividades, é fundamental. “Dessa maneira, se criará uma dinâmica econômica na própria região que atrairá investimentos em outras áreas que não somente a de exploração de petróleo”, diz.

O fato de cinco de seus oito municípios serem litorâneos e de abrigarem uma dos maiores entrepostos de atum do país pode e deve contribuir para que o Litoral Sul se desenvolva, apesar dos contratempos, como aponta Marcelo Loyola:

“Ampliar os encadeamentos nas cadeias produtivas existentes e dos novos investimentos anunciados, a exemplo de petróleo e gás e o Porto Central; da maior integração com outras regiões do Estado com o Rio de Janeiro; da exploração de suas potencialidades turísticas, de forma sustentável e aproveitando a diversidade dos recursos naturais existentes, do mar às montanhas, são alguns desafios para que esses municípios continuem se desenvolvendo”, comenta.

Mas para fortalecer a atividade turística na região, é preciso também monitorar alguns pontos. “Nossa preocupação volta a ser coleta de esgoto, pouco mais de 30% do esgoto da região é tratado, enquanto no Estado já estamos em torno de 61%. Apesar disso, temos um bom índice de coleta de lixo, com quase todos os municípios passando de 80%, mesmo nas áreas mais rurais”, aponta Latussa.;

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