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Publicado em 25 de julho de 2025 às 09:50
Confeitarias estão mudando a rotina de produção para dar conta de um doce que virou febre nas redes sociais: o famoso “morango do amor”. Da internet para a cozinha, a tendência tem movimentado o mercado e impulsionado os negócios de confeiteiras no Espírito Santo. A procura é tanta que algumas profissionais conseguiram dobrar as vendas, algo inédito fora das datas comemorativas, de acordo com elas. Tem até quem esteja faturando R$ 12,8 mil por dia com o queridinho da vez.
A mentora de confeitaria Jucy Freitas explica que essa alta no mercado abre margem para que as confeitarias se consolidem no setor. Segundo ela, é possível atingir um lucro entre 40% e 60%, mas é preciso atenção ao fluxo do mercado. Jucy alerta que há regiões sem produção local de morango e, mesmo no Espírito Santo, o quilo da fruta sofreu alta recente. “É preciso ter muito cuidado com a precificação. O produtor aumentou o valor? Então, você também precisa ajustar o preço de venda”, orienta.
Millena Moreira, de 26 anos, tem uma loja no bairro Alecrim, em Vila Velha, há dois anos. Mesmo acostumada a ver o estabelecimento sempre cheio, ela está impressionada com o movimento dos últimos 15 dias. A produção saltou de 400 para 800 unidades por dia.
“Nesta terça (22), eu nem abri a loja para focar na produção de amanhã (quarta, 23). Semana passada eu não estava conseguindo atender nem o delivery, era doce só pra venda na loja mesmo. Tá uma loucura!"
Ela conta que uma fila de pessoas querendo o bombom se formou na porta de seu estabelecimento. "Quando eu vi a fila, nem acreditei. É como se fosse uma segunda Páscoa para as confeiteiras, até mais, não só para mim, mas para todas. Todo mundo está falando isso”, contou Millena.
A confeiteira estima que as vendas estão quatro vezes maiores desde que começou a fazer o doce, há duas semanas, em comparação com o mês anterior. Além de preparar o morango do amor tradicional, com brigadeiro branco ou de ninho e a calda vermelha, Millena criou também versões de pistache e maracujá, e está gravando aulas para ensinar as alunas a fazerem o bombom. Cada doce é vendido a R$ 16.
“A gente depende muito do morango, de ser de qualidade. E precisa ser um morango grande, isso também conta para deixar o doce bonito. Eu estou deixando o meu fornecedor doidinho. [...] Enquanto o público quiser, vou produzir. Se vai continuar no auge e por quanto tempo, não sabemos. Mas espero, futuramente, manter no cardápio, nem que seja pelo menos alguns dias na semana”, avalia.
A confeiteira Rosamaria Borges, à frente da marca Consem Açúcar, na Serra, atua há 10 anos no ramo. Ela relata nunca ter visto tamanha procura por um único produto. Desde que começou a vender o morango do amor, na terça-feira (22), já ultrapassou a marca de 100 unidades em apenas dois dias.
Rosamaria Borges
ConfeiteiraCom a alta demanda, Rosamaria precisou de reforços. Além da freelancer que costuma ajudá-la nos fins de semana, convocou a mãe e o filho para dar conta das encomendas. Atualmente, ela tem obtido um lucro líquido de cerca de 20% por unidade e arrecadou aproximadamente R$ 1,2 mil em dois dias de produção.
Para ela, este é o momento certo para estruturar o negócio. “Da mesma forma que estudamos para fazer a receita, também precisamos entender como organizar a empresa. É muito fácil quebrar na confeitaria”, alerta.
Em Cariacica, a confeiteira Elizabeth Almeida também está a todo vapor. Com sua marca Fazendo a Festa, começou a vender o doce na quarta-feira (23) e, em apenas um dia, faturou o equivalente a dois fins de semana inteiros de vendas de bolos confeitados. Vendendo cada unidade a R$ 12, ela obtém uma margem de lucro de R$ 7,75 por unidade.
Sem suspender a produção de outros produtos, Elizabeth organizou horários específicos para a retirada dos morangos, mantendo o fluxo da confeitaria. Em nove anos de atuação, só lembra de uma procura tão intensa na Páscoa de 2020 e 2021, quando os ovos confeitados também viralizaram. “A gente brinca que é uma Páscoa em pleno julho”, comenta.
A confeiteira tem cuidado da parte financeira com atenção. “Separei uma parte do valor para ir comprando material conforme a demanda e deixei metade para investimento”, explica.
De olho nas tendências, ela já começou a explorar novas versões do doce, como o sabor maracujá, que também vem ganhando espaço nas redes. “Isso faz com que o cliente continue comprando”, afirma.
A confeiteira Laís Lara, proprietária do Pedacinho de Amor, viu sua rotina ser completamente transformada após a viralização do morango do amor. Com cinco anos de experiência na confeitaria — sendo os dois últimos em dedicação exclusiva —, ela relata que nunca presenciou uma demanda tão intensa por um único produto.
Laís Lara Lemes
ConfeiteiraPara dar conta da produção, Laís precisou paralisar a fabricação de brownies e delícias no pote, além de chamar reforços. “Tenho uma freelance que já me ajuda aos fins de semana, mas precisei trazer mais uma pessoa. Está surreal”, afirma. Com uma estrutura ainda artesanal, a produção acontece numa cozinha reduzida e é focada na qualidade.
Segundo a confeiteira, a viralização nas redes sociais trouxe, além das vendas, visibilidade e novos seguidores. “Foi um divisor de águas. Meu WhatsApp não para. A gente vende tudo o que produz. Já aconteceu de uma pessoa parar o carro na rua, me ver com a cesta e comprar sete unidades de uma vez”, relembra.
Ela estima uma margem de lucro entre 20% e 25% por unidade e já traça planos: abrir um ponto fixo na Prainha, em Vila Velha. “Já pago o aluguel do espaço para garantir. Quero investir na cozinha e aumentar a produção. Com essa onda, consegui atingir minha meta diária e acredito que vou fechar o mês com a meta alcançada também”, estimou ela.
A expectativa é que o produto continue no cardápio. “Talvez reduza a procura, mas veio para ficar, como aconteceu com o pistache. O morango do amor virou uma marca”, conclui.
Roberta Carolina Soares, 38 anos, confeiteira há oito anos, também não está conseguindo dar conta da produção. Na terça-feira (22), ela abriu a loja em um horário reduzido, só na hora do almoço. Nos outros horários, ficou de portas fechadas para se dedicar à produção.
Na frente da loja dela, no bairro São Diogo 2, na Serra, tem cliente se deitando no chão, literalmente, para procurar o doce que ficou famoso. A produção começou na última sexta-feira (18) e cada unidade é vendida a R$ 12.
“Não estou reservando, não estou jogando no delivery e não estou atendendo por mensagem. [...] Hoje tinha gente sentada na porta, esperando a loja abrir. Uma deitou no chão para poder olhar pela porta abaixada, para saber se eu ia abrir, para não perder o horário”, relatou Roberta.
“No sábado, foram vendidos 30 em menos de 5 minutos. Ontem (segunda, 21), eu já fiz 50; hoje (terça, 22), aumentei para 100 e já estou pensando em aumentar mais.”
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