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Vale a pena ter um oxímetro em casa para lidar com Covid-19?

Vale a pena ter um oxímetro em casa para lidar com Covid-19?

Para médicos, aparelho que mede nível de oxigênio no sangue pode levar pacientes leigos a uma interpretação errada, colocando-os em risco ainda maior

Publicado em 8 de maio de 2020 às 12:58

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Pessoa com aparelho oxímetro no dedo para medir a saturação do oxigênio no sangue
Pessoa com aparelho oxímetro no dedo para medir a saturação do oxigênio no sangue. ( wideshuts/Shutterstock)

A preocupação com as complicações da Covid-19 tem levado algumas pessoas a buscarem um aparelho portátil que pode indicar a hora de procurar um socorro médico. O oxímetro de pulso é um equipamento parecido com um pregador que se usa no dedo ou no lóbulo da orelha e que mede o nível de oxigênio no sangue, taxa que cai quando a pessoa sente falta de ar, um dos sintomas da doença. Ou seja, com a falta de ar, o paciente sofre de baixa oxigenação no sangue.

No Brasil, ele pode ser encontrado de várias marcas, dos mais simples aos mais completos, a preços que vão de R$ 80 a R$ 600. O aumento na procura pelo oxímetro pode ser constatado, por exemplo, no Google Trends, que mede o interesse dos internautas em pesquisar determinados termos.

Especialistas, no entanto, pedem cautela. A Sociedade Brasileira de Pneumologia já emitiu uma nota em que não recomenda o uso domiciliar do oxímetro durante a pandemia de coronavírus.

“Como não há estudos científicos sobre a referida monitorização em pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de COVID-19, sugerimos que a decisão sobre usar ou não a monitoração por oximetria, em casa, fique a cargo do médico que assiste o doente. Não existe indicação do uso de oxímetro domiciliar em indivíduos sem doenças pulmonares crônicas, ou como método de diagnóstico precoce do novo coronavírus”, afirma a entidade.

Sem orientação

A pneumologista Simone Prezotti acredita que as pessoas não são capacitadas para esse uso sozinhas, sem orientação profissional.

“O uso de maneira indiscriminada pode levar a muita confusão, no sentido de má interpretação dos dados por parte dos pacientes. E se não houver um médico tomando conta disso, levar a condutas erradas por parte das pessoas”, alerta a médica.

O aparelho faz uma medição numérica da saturação de oxigênio que circula no sangue. Essa taxa pode variar entre 0% e 100%. Mas uma pessoa em condições normais tem uma saturação acima de 95%. Percentuais abaixo desse valor já exigem uma atenção redobrada.

A questão, afirma Simone, é que não é só a baixa do oxigênio que é indicação de gravidade, de necessidade de procurar um serviço de saúde de urgência.

“A queda de saturação é um dos parâmetros. E não vai ser o primeiro sintoma. Se a pessoa sentir falta de ar, ela tem que procurar um serviço de saúde. Não é para ela ficar tomando conta da falta de ar dela sozinha. Sem falar que não é só a Covid-19 que causa falta de ar. A pessoa pode ter isso por uma ansiedade, uma crise de asma, por bronquite, doença no coração… Alguns vão ter queda na oxigenação e outros não”.

O anestesiologista Milton Favarato observa ainda que em pessoas idosas, esse percentual aceitável de saturação é menor. “Com o processo de envelhecimento, é normal a perda gradual de unidades alveolares dos pulmões. Consequentemente, a saturação no idoso é ajustada para sua idade”.

De fato, diz a pneumologista, é importante saber o nível de oxigênio no sangue. “Caso você tenha uma doença pulmonar, seu nível de oxigênio sanguíneo pode vir a ser menor do que o normal, indicando que que as células do corpo podem estar com dificuldade de trabalhar apropriadamente”.

A medição

Essa medição, porém, não é tão simples de ser verificada, segundo Favarato.

“O oxímetro é uma ferramenta valiosíssima, mudou a medicina, mudou totalmente nossa assistência no passar dos anos. Já existem diversos modelos, como os ultraportáteis, que têm inúmeras limitações, inclusive vários sem certificação, sem a devida liberação da Anvisa”.

Favarato também afirma que o aparelho pode gerar sim confusão para leigos. “Até porque há várias particularidades em sua interpretação. Ao fornecer um número só, ele pode gerar uma avaliação errônea e ansiedade no paciente”.

O oxímetro também tem suas limitações, dizem os médicos. Podem interferir na leitura do equipamento, por exemplo, fatores como uso de esmaltes, unhas postiças (de gel por exemplo), se a pessoa tiver as mãos frias ou tiver a circulação deficiente. O oxímetro pode também ser menos acurado em caso de níveis muito baixos de saturação de oxigênio (abaixo de 80%) ou de pele muito escura.

De acordo com Simone, se a pessoa fuma, o oxímetro pode mostrar um nível maior do que a saturação atual. Isso porque o tabagismo aumenta os níveis de monóxido de carbono no sangue, e o oxímetro não mostra diferença entre o monóxido de carbono e o oxigênio.

“Eu tive a oportunidade de ter uma paciente com Covid-19, com comprometimento do pulmão visto na tomografia, e optei por mantê-la em casa com um oxímetro. Ela é enfermeira, então tivemos, eu e ela, segurança para fazer isso. Ela ficou bem, se recuperou e já já voltará ao trabalho. Nós nos falávamos várias vezes ao dia para ela me passar os dados da oximetria e dos sintomas”, cita a médica.

"Em alguns casos de pacientes crônicos, que estão em terapia domiciliar, podemos indicar o oxímetro de pulso. Mas são pessoas com habilidade com o método,  que já passaram por internações, que têm um cilindro de oxigênio em casa. É uma condição diferente", complementa Favarato.

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