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"Cenário da economia do Brasil é de pouso suave", diz Samuel Pessôa

"Cenário da economia do Brasil é de pouso suave", diz Samuel Pessôa

Pesquisador do BTG Pactual e do FGV IBRE participou de painel sobre o panorama econômico do país, ao lado do ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, no Pedra Azul Summit 2025

Publicado em 18 de outubro de 2025 às 12:56

Summit 2025
Samuel Pessôa e Paulo Hartung participaram de painel do Pedra Azul Summit 2025 Crédito: Carlos Alberto Silva

Diante da alta na safra, câmbio favorável e previsão de desinflação, o cenário para a economia do Brasil é de pouso suave, com desaceleração, mas sem recessão. Essa é a avaliação feita pelo economista Samuel Pessôa, que é pesquisador do BTG Pactual e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE ), no Painel Panorama Econômico, do Pedra Azul Summit 2025, neste sábado (18).

 O evento, realizado pela Rede Gazeta, na região serrana capixaba, chega à 20ª edição, reunindo lideranças políticas e econômicas, para desenhar o futuro do Espírito Santo, do país e do mundo. 

O painel foi mediado pelo editor-chefe de A Gazeta e CBN Vitória, Geraldo Nascimento, e contou também com a participação do ex-governador do Espírito Santo, o economista e presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), Paulo Hartung. 

"Vejo um cenário de pouso suave, o que não é ruim para o presidente Lula. O grande risco desse cenário é que esse ciclo monetário muito longo, que é consequência da escolha que o presidente fez, pode gerar um soluço. E aí, a grande dúvida que fica é como que a política vai tratar do desequilíbrio fiscal no próximo mandato, seja quem for o vitorioso", analisou Pessôa.

O professor explicou que "pouso suave" pode ser traduzido como uma economia que está desacelerando, mas não está em recessão. A principal força motriz dessa desaceleração é o fato de que a política monetária está vencendo a fiscal. No ano passado, segundo Pessôa, a política fiscal prevaleceu. Mas, neste ano, o aperto monetário mais rigoroso está superando o fiscal, levando a um crescimento esperado de 2% para este ano e 1,5% para o ano que vem.

Embora a economia como um todo desacelere, ele apontou que os componentes mais cíclicos da economia, aqueles mais sensíveis aos juros, devem registrar uma queda de crescimento de 4% para 1%. O crescimento deste ano tem sido sustentado, em parte, por setores como a agropecuária e a indústria extrativa mineral.

Como resultado, Pessôa revisou as projeções inflacionárias. Ele acredita que, neste ano, a inflação deve fechar em 4,6% ao invés de 6%, como se imaginava em dezembro do ano passado. Para o próximo ano, a perspectiva é chegar em 2%.

Fatores para queda da inflação

  1. Câmbio favorável: a desvalorização do dólar, fruto de uma percepção de piora institucional dos Estados Unidos, gerou uma pressão desinflacionária em todo o mundo, o que ajuda o Brasil.
  2. Super safra: o Brasil registrou alta na safra, o que ajudou a segurar a inflação de alimentos em 4%, patamar menor ao de 9%, projetado no início do ano.
  3. Melhora no mercado de trabalho: há uma melhoria no funcionamento do mercado de trabalho, devido a fatores como demografia, escolaridade, reforma trabalhista e novas ocupações na economia digital.
  4. Taxa neutra de desemprego: em função dessas mudanças, a taxa neutra de desemprego, que é o nível que equilibra oferta e demanda, mantendo a inflação estável, caiu de 10% (cerca de 20 anos atrás) para cerca de 7%.

Pessôa concluiu sua análise ressaltando o legado misto do atual governo. Embora o presidente Lula deixe "uma herança muito boa na microeconomia com a reforma tributária", ele também deixa "uma herança pesada com o aumento da dívida pública". Na projeção do especialista, a dívida atingirá 83% do Produto Interno Bruto (PIB). 

Hartung critica política econômica atual

Já Hartung descreveu o cenário que o próximo governo federal terá que assumir como uma "herança maldita", resultado de uma política econômica que, em sua visão, está falhando em duas vertentes muito graves.

Uma delas é a trajetória de crescimento da dívida pública, sublinhando que o Brasil, como um país que não possui poupança interna e depende da poupança alheia, precisa ser extremamente cauteloso com o indicador da dívida em proporção ao PIB. O segundo ponto de erro é a taxa de juros. Hartung destacou que o país opera com a taxa Selic em 15% e juro real acima de 10%.

Essa política monetária está, de fato, contendo a inflação, mas a um "custo pesadíssimo", sendo ajudada ainda pela desvalorização do dólar, pontua Hartung. 

Ele enfatiza que o alto custo dessa política recai sobre a microeconomia e, principalmente, sobre os mais vulneráveis. A justificativa populista de que os gastos e as políticas visam melhorar a vida dos pobres não se sustenta, pois são os pobres que estão se endividando a essas taxas de juros, apontou Hartung.

"Eu tenho a certeza que o que está sendo construído é muito ruim para a nação, é muito ruim para o Brasil. E a gente vai pagar caro, de novo, essa conta. É o que eu chamo de marcha da insensatez", disse Hartung.

Comparação com recessão

O professor Samuel Pessôa traçou um paralelo entre o cenário econômico projetado para 2025 e 2026 e o período que antecedeu a maior recessão recente do país, 2013 e 2014.

Contudo, o economista enfatizou que, embora preveja que 2027 será um ano difícil, ele acredita que a crise resultante "não será tão difícil quanto 2015".

O principal contraste entre o momento atual e o passado, segundo Pessôa, reside no grau do desajuste e desorganização da economia. Ele afirmou que o ciclo de desorganização atual está "muito menos intenso".

O economista lembrou que o período que levou à crise de 2015/2016 foi resultado de "oito anos desarrumando" a economia -   começou no governo Lula e se estendeu até o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Entre 2015 e 2021, ele lembra que a economia passou por um período de arrumação promovido por diversos governos e lideranças. A atual desorganização começou apenas a partir de 2022. Portanto, o "grau de desajuste é menor agora", justifica o economista.

Consequências para governos estaduais

Ao analisar a crise anterior, Pessôa alertou que a crise de 2015 teve um desdobramento nas finanças estaduais importantes. E usou a semelhança entre 2025/2026 e 2013/2014 como um aviso: os governos estaduais, especialmente os que assumirão o próximo mandato, têm que saber que eles vão começar apertando o cinto".

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