Publicado em 6 de outubro de 2020 às 08:04
Donald Trump deixou o hospital Walter Reed, em Washington, nesta segunda-feira (5), após três noites internado com Covid-19. Sean Conley, médico do presidente, disse que ele "cumpriu os critérios para alta" e passará os próximos dias confinado em um quarto na Casa Branca. Especialistas, porém, questionam se a alta foi dada cedo demais e se perguntam por que Trump recebeu três tratamentos diferentes, normalmente reservados a pacientes graves, se o caso dele é leve, como alegam seus médicos. >
Segundo assessores, Trump estava ansioso para voltar para a Casa Branca. Ele vinha pressionando para ter alta desde domingo (4), para mostrar ao país que ele está ativo - e não acamado. "Não tenham medo da covid. Não a deixem tomar conta de sua vida", escreveu o presidente no Twitter, pouco antes de deixar o hospital. "Estou melhor que há 20 anos." >
O tom do presidente é ainda desafiador e mostra que ele deve usar o fato politicamente, argumentando que superou a doença. No domingo, ele disse que, por ter contraído o vírus, ele "entendia" a Covid melhor que os médicos. "Aprendi muito sobre a Covid. Aprendi indo realmente à escola. Esta é a escola real. Não é como ler livros", disse o presidente, em vídeo de 73 segundos, no fim de semana. "Agora eu entendo.">
O presidente tem pressa. Nos últimos dias, enquanto estava confinado, o democrata Joe Biden cruzou o país realizando comícios. Em muitos Estados, milhões de eleitores já votam pelo correio. A 28 dias da eleição, Trump está atrás nas pesquisas e corre contra o tempo.>
>
Uma oportunidade é o segundo debate, marcado para dia 15, em Miami. Ontem, seu comitê de campanha disse que ele estará no encontro, embora o protocolo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) determine quarentena de dez dias após o surgimento dos primeiros sintomas, dependendo da evolução do paciente. Biden disse ontem que aceita debater, desde que os médicos digam que é seguro.>
Embora tenha recebido alta e retornado à Casa Branca, o estado de saúde de Trump ainda é um mistério. Mesmo Conley, seu médico, admitiu que ele "não está totalmente fora de perigo". No entanto, muitos especialistas questionam não só aspectos do tratamento dado ao presidente como também a própria credibilidade de Conley. >
Ontem, por exemplo, o médico disse a jornalistas que o presidente estava há mais de 72 horas sem febre e sem antitérmicos, mas admitiu que Trump vem tomando o corticoide dexametasona, que alivia inflamações - e pode também mascarar a febre. Pelo Twitter, a infectologista Céline Gounder criticou o médico. "O doutor Conley disse que o presidente não toma medicamentos para reduzir a febre há 72 horas. Ele está errado", escreveu. "A dexametasona reduz a febre.">
Outros especialistas alertaram para o risco de dar alta para um paciente com Covid no momento mais delicado da doença. "Para alguém tão doente que precisou tomar remdesivir e dexametasona, não consigo imaginar como um paciente estaria bem para sair no terceiro dia, mesmo com a capacidade médica da Casa Branca", disse Robert Wachter, diretor do Departamento de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Francisco. >
Os médicos dizem que pacientes com Covid são especialmente vulneráveis pelo período de uma semana a dez dias após os primeiros sintomas. Alguns infectados que parecem saudáveis pioram repentinamente em razão do vírus ou de uma resposta imunológica que pode causar danos a vários órgãos, incluindo o coração. "A pessoa pode estar bem, mas a coisa pode ficar complicada muito rapidamente", afirmou Amesh Adalja, da Universidade Johns Hopkins.>
Reforçando as preocupações está o fato de Trump ser o primeiro paciente - ou um dos primeiros - a receber uma combinação incomum de três tratamentos fortes, com suplementos e até um medicamento não regulamentado. "Ele passou por tratamentos diferentes", disse Rochelle Walensky, infectologista do hospital Massachusetts General. Segundo ela, quando a dexametasona foi testada, no início do ano, nenhum dos pacientes recebeu junto o coquetel experimental de anticorpos dado a Trump.>
Do ponto de vista dos números, a campanha segue inalterada. Os republicanos tinham esperança que os eleitores ficassem ao lado de um presidente doente. No entanto, as primeiras pesquisas mostraram que não houve o chamado "salto de compaixão", que eles esperavam. >
Duas pesquisas realizadas após o diagnóstico de Trump mostram Biden à frente. Na sondagem Ipsos-Reuters, o democrata lidera com 10 pontos porcentuais de vantagem (1 a mais do que na semana passada). Os números da pesquisa YouGov-Yahoo colocam Biden 8 pontos à frente (3 a mais que na semana passada). >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta