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Após debate caótico entre Trump e Biden, vices mantêm civilidade e discutem propostas

Após debate caótico entre Trump e Biden, vices mantêm civilidade e discutem propostas

Normalmente relegado a um segundo plano e com pouco impacto na corrida, o debate ganhou um peso especial na disputa deste ano à Casa Branca

Publicado em 8 de outubro de 2020 às 07:45

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O presidente Donald Trump e o ex-vice-presidente Joe Biden debatem pela primeira vez
O presidente Donald Trump e o ex-vice-presidente Joe Biden realizaram uma debate caótico, com troca de xingamentos. (Reuters/Folhapress)

Marcado por discussões educadas, o debate entre os candidatos à Vice-Presidência dos EUA, Mike Pence e Kamala Harris, passou civilizadamente por diversos pontos das plataformas de campanha -num grande contraste com o caótico embate entre Donald Trump e Joe Biden no fim de setembro.

"Não vamos deixar ninguém subverter nossa democracia, como Trump fez na semana passada", disse Kamala.

Normalmente relegado a um segundo plano e com pouco impacto na corrida, o debate ganhou um peso especial na disputa deste ano à Casa Branca. Com presidenciáveis septuagenários (Donald Trump tem 74, e Joe Biden, 77) e um deles se tratando de Covid-19, a possibilidade de Pence ou Kamala assumir a Presidência se tornou mais palpável.

Do lado republicano, o atual vice-presidente buscou convencer os eleitores de que a resposta do governo federal à crise sanitária está à altura da pandemia que até o momento infectou mais de 7,5 milhões de americanos e deixou mais de 211 mil mortos.

A missão se tornou mais complexa depois que Trump anunciou na sexta (2) que havia contraído a doença. O presidente passou três dias no hospital militar Walter Reed e retornou à Casa Branca na terça (6), onde segue recebendo tratamento médico.

Pence lidera a força-tarefa especial de combate ao novo coronavírus, formada no fim de janeiro. Ele anda uma linha tênue entre fazer valer as orientações de especialistas e não desautorizar o presidente. Trump consistentemente minimiza a pandemia e já chegou a afirmar que a doença "desapareceria como mágica".

"O povo americano testemunhou o maior fracasso de qualquer administração presidencial em nossa história", disse Kamala em resposta à primeira pergunta da noite, sobre o que o governo Biden faria para combater a pandemia.

"Acreditamos que teremos dezenas de milhares de doses de vacinas [contra a Covid-19] até o fim deste ano", disse Pence, repetindo uma promessa de Trump.

O vice-presidente citou a suspensão de voos vindos da China logo em janeiro, após apenas cinco casos terem sido detectados no país. Embora, segundo cientistas, a medida tenha sido efetiva e tenha contribuído para desacelerar a chegada do novo coronavírus, o país continuou recebendo viajantes vindos da Europa, que já vivia um surto da Covid-19.

À época, Biden se opôs fortemente, descrevendo a decisão como xenofóbica e excessiva.

Ao longo da noite, Kamala manteve o tom energético condizente com seu passado como Procuradora-Geral da Califórnia, cargo que deixou em 2016 para assumir uma cadeira no Senado. A candidata a vice ganhou atenção na mídia nacional durante depoimentos de membros do governo Trump à Casa, quando incisivamente fez perguntas levando-os a perder a linha de raciocínio.

Longe do clima de constante interrupção do debate entre Trump e Biden, o evento marcou uma volta ao tradicional estilo dos debates americanos. No entanto, Pence, um calmo orador, cortou a fala de Kamala algumas vezes.

"Senhor vice-presidente, estou falando. Estou falando. Se você não se importar de me deixar terminar, podemos ter uma conversa", disse ela em um dos momentos em que deixou claro que estava sendo interrompida.

Respondendo a perguntas sobre relações exteriores, o atual vice defendeu a guerra comercial com a China, afirmando que durante os oito anos do governo Obama, de quem Biden foi vice, o país se deixou levar por Pequim.

Pence acusou os democratas de terem sido ineficazes na luta ao Estado Islâmico, apontando para os pais de Kayla Mueller, uma americana refém do Estado Islâmico que foi morta pelo grupo terrorista -eles foram convidados para o evento pelo republicano.

Kamala, por sua vez, focou na relação próxima entre Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. A Inteligência americana já apontou diversas vezes para a interferência estrangeira de Moscou na política americana, relatos ignorados por Trump.

Kamala tentou se desvencilhar da narrativa republicana de que é uma expoente da ala radical do partido pronta para se apropriar dos poderes de Biden.

Enquanto discutiam políticas sobre a mudança climática, Pence afirmou que o plano de investimentos públicos em energias renováveis era uma proposta que fazia parte da plataforma esquerdista radical da chapa democrata.

Os protocolos de saúde do evento foram ainda mais rígidos do que os adotados no embate entre Trump e Biden. Depois de ao menos 11 funcionários da Casa Branca receberem diagnóstico da Covid-19, além do próprio presidente, a campanha democrata fez pressão para que fossem instaladas barreiras de acrílico entre os debatedores.

A distância entre eles também foi ampliada -passou de 2,2 m para 3,6 m.

Todos os participantes do evento foram obrigados a usar máscaras durante todo o tempo. Esta regra também valeu para o debate Trump-Biden, mas familiares e pessoas ligadas ao republicano retiraram o item depois que se sentaram na plateia.

Tanto Kamala quanto Pence foram testados para o novo coronavírus na terça-feira (6) e tiveram resultados negativos. O republicano, no entanto, compareceu a um evento na Casa Branca que é apontado como foco de contágio de várias autoridades e funcionários. Segundo o New York Times, especialistas afirmam que é possível que Pence ainda esteja carregando o vírus.

O debate aconteceu na cidade de Salt Lake City, capital de Utah, um estado tradicionalmente republicano. Ali, Trump está à frente nas pesquisas com 51,7% das intenções de voto, contra 38,8% de Biden, segundo o site FiveThirtyEight.

Em 2016, Trump venceu no estado com 45% dos votos. A democrata Hillary Clinton levou 27% e o independente Evan McMullin, natural de Utah, levou 22%.

No entanto, o estado tem pouco peso na eleição nacional: é dono de apenas 6 dos 538 votos do Colégio Eleitoral, que decide o resultado no complexo sistema eleitoral americano.

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