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De correnteza a águas-vivas: capixaba relata desafios no Canal da Mancha

De correnteza a águas-vivas: capixaba relata desafios no Canal da Mancha

O engenheiro mecânico Marcio Junqueira é o primeiro capixaba a realizar, a nado, a travessia do Canal da Mancha, uma via aquática no Oceano Atlântico que liga a Inglaterra à França

Publicado em 10 de agosto de 2020 às 12:34

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Engenheiro Marcio Junqueira atravessa Canal da Mancha
Engenheiro Marcio Junqueira atravessa Canal da Mancha. (Reprodução / Instagram)

No final do mês passado, o capixaba Marcio Junqueira passou 11 horas dentro da água e se tornou o primeiro capixaba  a realizar, a nado, a travessia do Canal da Mancha, uma via aquática no Oceano Atlântico que liga a Inglaterra à França. O feito histórico foi fruto de mais de dois anos de treinamento e muita dedicação. Para realizar o sonho, Marcio relata que enfrentou desafios físicos e psicológicos.

Para se preparar para o desfaio, o capixaba treinou até com paraquedas – espécie de balde acoplado ao corpo para simular a correnteza da água. A correnteza, aliás, foi um dos maiores desafios enfrentados durante a travessia, segundo Junqueira.

“Foi um projeto longo, de dois anos e meio. Fizemos vários tipos de treinos: treinos à noite, em alto-mar, com paraquedas, com longa duração e sozinho. Paraquedas é tipo um balde que você amarra nas costas para simular a correnteza. A preparação psicológica é até maior do que a física. É 60% psicológico, 40% físico – talvez até 70% a 30%. Uma das principais dificuldades é a correnteza. Saímos de uma praia na Inglaterra, e quando você chega na parte francesa, a correnteza é muito forte. Vencer a correnteza francesa é um dos maiores desafios. Quanto mais você se aproxima da França mais difícil vai ficando”, contou Marcio em entrevista ao Bom Dia ES, da TV Gazeta.

A água gelada, enfrentada sem o uso de roupa especial, foi outro desafio superado. Experiente em competições nacionais, com a participação em três mundiais de piscina no currículo, Junqueira usou a correnteza a seu favor para "encurtar" a distância da travessia.

"A água variou entre 14 °C e 18 °C. A distância em linha reta do Canal da Mancha são 34 km, mas eu utilizei uma estratégia para usar a correnteza a meu favor, que foi tangenciar até o meio do canal e depois a correnteza me empurrar até o ponto de chegada. Quando está nadando você não tem noção do ponto em que você está em relação ao mar e em relação ao continente, você tem que se guiar pelo bico do barco. Contratei um barco para me acompanhar durante a prova, nele estavam meu técnico, minha esposa e um cinegrafista amador. Fui o 25° brasileiro a atravessar pela Associação Inglesa de Natação e o 33° no geral", detalhou.

CARDUME DE ÁGUAS-VIVAS

Para além da água gelada e de correnteza forte, a região também é a casa de alguns tubarões. No entanto, o equilíbrio ecológico da região faz com que nenhum acidente envolvendo nadadores e tubarões tenha sido registrado na competição. Márcio não viu tubarão, mas precisou enfrentar um cardume de águas-vivas. 

“Tubarão tem, mas não tem registro de ataque. O nadador de ultra maratona trabalha com estatística, se você vai para um mar que não tem estatística de ataque, você já relaxa. O equilíbrio ecológico é muito grande, tanto que eu passei por um cardume de águas-vivas e eu via todas elas. Tomei várias queimadas e pude escolher por qual água-viva eu queria ser queimado”, explicou.

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O canal da mancha é o Everest da natação. Era um sonho de muito tempo, um desafio pessoal. Queria provar para mim mesmo e para as pessoas normais que quando você se prepara, tem foco, disciplina é possível realizar, mesmo sendo amador, uma aventura como essa e ter sucesso”

Marcio Junqueira
Atleta, primeiro capixaba a atravessar o Canal da Mancha
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ALIMENTAÇÃO

Para conseguir ficar tanto tempo no mar, o capixaba contou com uma alimentação especial a cada 30 minutos de prova. "São géis específicos, ricos em carboidratos, aminoácidos, vitamina, que fazem a reposição da energia que você perde”, contou.

Tanto empenho e planejamento, não deu certo. Marcio concluiu a prova depois de 11 horas no mar. Chegou inteiro, porém cansado e teve que deixar a comemoração para o dia seguinte. 

"Cheguei nadando borboleta, que era um planejamento meu. Na história ninguém chegou nadando borboleta. Tomei um escorregão na pedra e não validaram a travessia. Tive que subir na pedra de novo, aí sim a travessia foi validada. Eu queria comemorar, mas infelizmente não tive força. Deixei a comemoração para outro dia, mas muito feliz por ter alcançado o objetivo”, finalizou.

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