Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 08:32
O investimento do governo federal em verbas de infraestrutura e viagens destinada aos atletas militares despencou de R$ 10 milhões, em 2019, para R$ 600 mil em 2020, um decréscimo de 94% no primeiro orçamento sob a presidência de Jair Bolsonaro. >
Esse é o menor aporte previsto desde o lançamento do Programa Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR), em 2008. A informação foi obtida pela reportagem via Lei de Acesso à Informação.>
"Se me dessem mais, eu teria. Não fui eu quem pediu R$ 600 mil", afirmou o general Jorge Antonio Smicelato, diretor do departamento de Desporto Militar do Ministério da Defesa. "Temos que atender a várias frentes, como a de formação e os programas sociais. Então, eu manobro com o orçamento de R$ 600 mil.">
É recorrente que haja uma redução de verba para o programa nos anos de Jogos Olímpicos, como será em 2020 com a Olimpíada de Tóquio. Isso porque não sai das Forças Armadas o investimento direto para a participação do país nesses eventos, mas sim do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Ainda assim, a queda nessa proporção é inédita.?>
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"Não precisamos de investimentos nos atletas que vão para Tóquio. O COB tem todo o seu planejamento, é até ruim para nós descolarmos atletas para competições antes da Olimpíada", diz Smicelato.>
A reportagem também teve acesso aos investimentos do programa desde a sua criação. Ele começou com R$ 1,6 milhão (em valores atualizados), em 2008, e chegou a R$ 6,2 milhões três anos depois.>
Para o ano dos Jogos de Londres, 2012, houve redução de 40% em relação ao ano anterior, mas ainda assim o PAAR contou com aporte de R$ 3,7 milhões. De 2015 para 2016, ano dos Jogos do Rio de Janeiro, a queda foi de 65% (de R$ 9,5 milhões para R$ 3,3 milhões).>
Esse valor não engloba os gastos com a remuneração dos atletas militares. Via assessoria de imprensa, o Ministério da Defesa informou que estima gastar R$ 28 milhões com a folha salarial (soldo, férias e 13º) em 2020.>
O programa também passa por uma redução no seu quadro de atletas. Caiu de 630 participantes, em 2018, para 534 em 2019.>
"São militares contratados temporariamente, alguns pedem desligamento, outros não se enquadram no programa e são afastados até por indisciplina", disse o general, sem citar casos específicos.>
Smicelato creditou a queda de orçamento em 2020 a diferentes fatores, como a necessidade de conter gastos com o efetivo das Forças Armadas. "Estamos passando por uma reestruturação do nosso plano de Seguro Social [Reforma da Previdência de militares], com necessidade de reduzir gradualmente o efetivo, e seria incoerente aumentar o número de beneficiados do programa.">
Além disso, apesar de o ciclo olímpico chegar ao seu encerramento em 2020, o ápice dos gastos da Defesa foi em 2019, com a 7ª edição dos Jogos Mundiais Militares, em Wuhan, na China.>
Para participar desse evento, foi necessário comprar uniformes, material de treinamento e passagens áreas para uma delegação bem mais numerosa em comparação à que o país terá na Olimpíada de Tóquio (são estimados cerca de 250 atletas no Japão).>
A equipe verde e amarela contou com 491 integrantes, entre atletas e comissão técnica, nos Jogos Militares, e conquistou 88 medalhas: 21 ouros, 31 pratas e 36 bronzes. O Brasil terminou em terceiro lugar no quadro geral, atrás de China e Rússia.>
O alistamento de atletas para o PAAR é feito de forma voluntária, e o processo de seleção leva em conta os resultados em competições nacionais e internacionais. Os integrantes do programa têm à disposição, além dos benefícios trabalhistas da carreira militar, acesso às instalações esportivas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.>
Apesar do vínculo empregatício, eles não precisam dar expediente e seguem a rotina de treinamentos em seus respectivos clubes -o maior compromisso é representar o país nos Jogos Militares. O salário alcança R$ 3.825, referente ao soldo de terceiro sargento.>
A meta do Ministério da Defesa para Tóquio-2020 é repetir o desempenho obtido na Rio-2016. Na última edição da Olimpíada, os militares representaram 31% da delegação brasileira, com 145 atletas classificados, e conquistaram 13 das 19 medalhas (68%) do país.>
A boxeadora Bia Ferreira, contratada pela Marinha, e o ginasta Arthur Nory, pela Aeronáutica, receberam o prêmio de melhores atletas de 2019 em cerimônia realizada pelo COB em dezembro.>
Neste mês, a Forças Armadas lançaram edital para preencher vagas nos seguintes esportes: atletismo, boxe, judô, natação, pentatlo militar, tiro, vôlei e vôlei de praia.>
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