> >
TRE-ES mantém decisão que reconheceu fraude à cota de gênero pelo Podemos de Guarapari

TRE-ES mantém decisão que reconheceu fraude à cota de gênero pelo Podemos de Guarapari

Conforme a decisão, somente depois de esgotadas todas as possibilidades de recursos haverá novo cálculo para definir quem ficará com cadeira na Câmara de Guarapari, hoje ocupada pelo Podemos

Publicado em 23 de novembro de 2022 às 21:35

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Sessão da Câmara de Guarapari realizada em 01/09/2022
Sessão da Câmara de Guarapari realizada em 01/09/2022. (Comunicação/Câmara de Guarapari)
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

O Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) negou o envio de recurso dos candidatos do Podemos à Camara de Guarapari em 2020 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, manteve a decisão da Corte Eleitoral que acatou pedido do Ministério Público Eleitoral e reconheceu fraude à cota de gênero pela chapa de vereadores do partido nas eleições municipais de 2020, em Guarapari.

O vereador Denizart Zazá (Podemos) e os dois primeiros suplentes da sigla, Lennon Monjardim e Benigno Maioli, queriam suspender os efeitos da decisão, que tem como consequência a anulação dos votos de todos os candidatos da chapa e a realização de um novo cálculo do quociente eleitoral que vai redefinir a composição da Câmara de Guarapari eleita em 2020.

O Podemos tem apenas uma cadeira de vereador em Guarapari, ocupada por Zazá. Mesmo com a decisão contrária ao recurso dele, negado pelo presidente do TRE-ES, José Paulo Calmon, na última segunda-feira (21), o vereador do Podemos continuará exercendo o mandato até que sejam esgotadas todas as possibilidades de recursos, conforme esclareceu a assessoria de comunicação da Corte Eleitoral.

Em seus recursos, Zazá e Maioli alegaram que a legislação não prevê a responsabilização de candidatos que não participaram da fraude, mas o presidente do TRE-ES afirmou que eles não indicaram os dispositivos legais ou constitucionais supostamente violados.

TRE-ES mantém decisão que reconheceu fraude à cota de gênero pelo Podemos de Guarapari

Já Lennon, que era o presidente municipal do Podemos em 2020, elencou diversos artigos do Código de Processo Civil que teriam sido desrespeitados na decisão do TRE-ES. Contudo, Calmon também negou seguimento do recurso dele ao TSE porque foram apresentadas “alegações genéricas”, sem “a exposição clara e objetiva” do modo como a decisão da Corte Eleitoral capixaba teria ferido os artigos mencionados.

O vereador e os suplentes do Podemos já tiveram embargos de declaração negados pelo TRE-ES, em outubro, e agora o encaminhamento de recursos especiais ao TSE, pelo presidente do TRE-ES. Eles ainda podem contestar a decisão de Calmon e, por isso, ainda não houve determinação de recontagem dos votos encaminhada à Justiça Eleitoral de Guarapari.

Candidatura feminina fictícia

No caso de Guarapari, a fraude à cota de gênero foi reconhecida depois que o MP Eleitoral entrou com recurso contra a decisão de primeira instância, da Justiça Eleitoral de Guarapari, que não considerou a ocorrência de candidatura fictícia de candidata do Podemos. 

A decisão do TRE-ES que acatou o pedido do MP Eleitoral foi unânime ao reconhecer a fraude à cota de gênero, por entender que foram verificados cinco itens em relação à candidata do Podemos: votação zerada ou ínfima; ausência de despesas com material de propaganda; pedido de votos para outro candidato a vereador; disputa do mesmo cargo por parentes com quem não tinha animosidades, ou seja, mantinha boas relações; tirou licença remunerada do serviço público para disputar as eleições.

Conforme consta no processo, durante procedimento preparatório do MP Eleitoral, "a candidata declarou que só concorreu para cumprir a cota de gênero". Em juízo, ela não confirmou a declaração, mas a informação contribuiu para a decisão, que também cita o desvirtuamento do objetivo da candidatura ao cargo de vereador, pois a candidatura estaria apenas interessada na "visibilidade que a eleição acarretava em sua imagem, devido ao anseio pela vaga ao Conselho Tutelar".

"Além de se traduzir em um ato abominável e atentatório à própria democracia, a meu ver, consiste em forte indício de fraude à cota de gênero e muito se assemelha à situação de lançamento de candidatura para fins de gozo de licença de serviço público, reconhecido pelo Colendo Tribunal Superior Eleitoral como um dos parâmetros para o reconhecimento da fraude", diz o acórdão do TRE-ES.

A candidata ainda fez campanha para outro concorrente ao cargo de vereador de Guarapari, o que, para os membros do TRE-ES, evidencia que "desde o início da campanha eleitoral, a candidata não tinha autêntico interesse na disputa eleitoral".

Além de Guarapari, vários outros municípios capixabas têm processos relacionados à fraude da cota de gênero que resultaram na cassação de pelo menos cinco vereadores até o primeiro semestre deste ano. Neste mês de novembro, o TRE-ES confirmou a anulação dos votos dos vereadores de Colatina eleitos pelo Patriota por causa do mesmo problema.

Os partidos políticos precisam lançar no mínimo 30% e no máximo 70% de candidaturas por gênero, visando incentivar a participação feminina nas eleições. Sem coligações a partir das eleições de 2020, cada legenda teve de lançar chapa própria com esses percentuais, o que tornou mais evidente a prática de candidaturas fictícias de mulheres. Em contrapartida, a Justiça Eleitoral passou a ter uma atuação mais contundente no tema.

A reportagem de A Gazeta procurou o presidente estadual do Podemos, Gilson Daniel, para comentar a decisão do TRE-ES, mas ele não atendeu às ligações, nem deu retorno às mensagens enviadas nesta quarta-feira (23). Conforme dados do TSE, não há registro de órgão de direção partidária  do Podemos em Guarapari desde o final de 2020.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais