Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 13:31
O servidor da Receita Federal Odilon Alves Filho, irmão da deputada federal Norma Ayub (DEM), fez um acordo com a Justiça para encerrar o processo em que é investigado por ter acessado dados sigilosos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Durante as eleições de 2018, Odilon usou o sistema do órgão, ao qual tem acesso na agência em que trabalha em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, para ver informações cadastrais do então candidato à Presidência da República. >
A denúncia foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF) e foi a própria instituição que sugeriu o acordo. Odilon vai pagar uma multa de R$ 5 mil, que será dividida em duas parcelas. O acordo ocorreu no último dia 21, na 1ª Vara da Subseção Judiciária de Cachoeiro de Itapemirim, e a transação penal já foi homologada pelo juiz federal André Luiz Martins da Silva. >
Caso ele não pague o valor, será dado prosseguimento ao processo criminal. O servidor responde pelo crime de uso indevido do acesso restrito a sistema de informações da administração pública. A pena para este crime varia entre dois e seis anos de prisão.>
Advogado e irmão de Odilon, Yamato Ayub disse que a multa terá sua primeira parcela paga no próximo dia 5 de fevereiro. Ele diz que o ato do servidor foi feito de "forma ingênua", para atender a uma mera curiosidade de saber a idade do presidente eleito. >
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"Ele não chegou a acessar o conteúdo das declarações, apenas viu dados cadastrais, como nome, endereço e telefone. O sistema que ele tem acesso, que é chamado Via, não dava acesso às contas do presidente, que é feito por outro sistema. Ele se aposenta daqui a cinco anos e não queria que este processo ficasse se arrastando na Justiça. Por isso, aceitou o acordo", disse Yamato Ayub.>
Apesar de se ver livre da ação criminal, caso pague a multa, Odilon ainda responde a um processo administrativo disciplinar na Corregedoria da Receita Federal, que pode levar à suspensão ou exoneração do servidor. Atualmente, ele continua trabalhando na agência da Receita em Cachoeiro de Itapemirim, de acordo com o advogado dele.>
Poucos dias após o segundo turno das eleições de 2018, quando Bolsonaro se elegeu presidente, Odilon visualizou informações fiscais do político. A Receita Federal abriu uma sindicância e a Polícia Federal foi acionada em janeiro de 2019 para investigar o caso. >
De acordo com a denúncia feita pelo MPF, em outubro do ano passado, ele teve contato com os dados cadastrais e os rendimentos e ganhos de capital percebidos e tributados pelo imposto de renda do pesquisado. >
Os sistemas de consulta da Receita são monitorados. Como Bolsonaro, na época deputado federal, era considerado uma "pessoa politicamente exposta", há um controle ainda mais rígido sobre o acesso de dados. Quando algum servidor entra em uma conta com esta classificação, os seus superiores recebem um alerta. Se a consulta não for justificável, o caso passa a ser investigado pela Corregedoria.>
A investigação partiu da informação de que foram acessados dados confidenciais de Jair Bolsonaro e de CPFs relacionados à família dele. Foram levantados dados de irmãos e tios do atual presidente. Os acessos foram feitos em datas próximas a convenções de partidos, no início do segundo turno e logo depois do resultado das eleições.>
Em abril de 2019, Odilon foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimento sobre a consulta que fez. A PF também apreendeu computadores usados pelo servidor. Ele prestou depoimento e foi liberado. Além de Odilon, outro servidor, vinculado à delegacia da Receita Federal de Campinas, que acessou dados em Sumaré, interior de São Paulo, é investigado. Os dois funcionários teriam agido de forma separada.>
Procurada pela reportagem em abril do ano passado, a deputada federal Norma Ayub afirmou que se tratava de um "caso isolado do Odilon, sem nenhuma relação com a atividade parlamentar" dela. >
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