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Políticos testam seus nomes para prefeitura em mais de uma cidade no ES

Políticos testam seus nomes para prefeitura em mais de uma cidade no ES

Na eleição para prefeito, pelo menos cinco candidatos no Espírito Santo aparecem como opções para eleitores de mais de um município. Especialistas comentam o fenômeno: falta de compromisso ou sinônimo dos novos tempos?

Publicado em 12 de fevereiro de 2020 às 05:00

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Amaro Neto, Lorenzo Pazolini, Alexandre Quintino, Ted Conti e Torino Marques são cotados para disputa neste ano. (Reprodução)

Ao chegar o ano das eleições, muitos nomes de candidatos começam a ser especulados antes do início da campanha. Até o momento de definições dos partidos, durante as convenções que acontecem a partir de julho, as principais lideranças políticas de cada município se lançam e testam seus nomes na praça, a fim de conquistar eleitores e aliados. Mas e quando um mesmo político aparece como opção em mais de uma cidade?

Este é o caso de alguns parlamentares do Espírito Santo – da Câmara e da Assembleia – que são cogitados em mais de um município para disputar a eleição para prefeito. No Estado, ao menos cinco políticos aparecem como possíveis "candidatos nômades", que podem se lançar em mais de uma cidade – a lei eleitoral diz apenas que o candidato deve disputar a eleição onde tem domicílio eleitoral, o que é firmado com a apresentação de um comprovante de residência.

São eles o deputado federal Amaro Neto (Republicanos), que já foi cogitado em Vitória (onde foi candidato nas últimas eleições municipais), Vila VelhaCariacica e SerraLorenzo Pazolini (sem partido), que decide se será candidato em Vitória ou na Serra; Alexandre Quintino (PSL), que não definiu se vai se lançar em Castelo ou Cachoeiro de ItapemirimTed Conti (PSB), que tem reduto em Guarapari, mas foi lançado pelo partido como pré-candidato em Vila Velha; e Torino Marques (PSL), que pode ser candidato em Vitória, Vila Velha ou Serra.

Para especialistas, "barganhar" para disputar entre uma cidade ou outra não é algo natural. O movimento, em que muitos políticos deixam seus nomes serem testados nas praças antes de definirem se serão candidatos ou não, pode trazer prejuízo para a democracia. É o que acredita o cientista político Fernando Pignaton. Para ele, a indefinição do local onde os candidatos vão disputar a eleição torna o pleito ainda mais voltado para um personagem, desprestigiando o debate de ideias.

"Não vejo isso como algo saudável para a democracia. É como se fosse uma espécie de alpinismo político, onde o candidato busca os interesses dele, o de se eleger, e não o debate da proposta que ele tem para a cidade. O município fica como um joguete na mão desses políticos, que vão usar a cidade para se fortalecer politicamente e alçar voos maiores", comentou.

E completou: "Para o eleitor, isso é ainda pior. Pois digamos que um cidadão opte por um candidato que se coloca em um município e depois vai para outro. Para ele o que vai ficar é a decepção. Será alguém que terá grandes chances de votar nulo na eleição. Em vez de se discutir uma proposta ou ideologia para a gestão da cidade, se discute qual será o melhor personagem".

Eleições 2020: candidatos ainda podem mudar o domicílio eleitoral. (TSE/Divulgação)

LIDERANÇAS NÔMADES REFLETEM MUDANÇAS NA SOCIEDADE

O cientista político João Gualberto Vasconcellos pondera que o fato de um político ser cogitado em locais diferentes não chega a ser algo negativo, mas demonstra um novo modelo da sociedade onde o alcance midiático de um candidato pode ser maior que os limites geográficos. É o caso de Amaro Neto, Ted Conti e Torino Marques, que, por terem sido projetados pela TV, e não por suas ações com a comunidade, acabam tendo boa recepção para além da região onde moram.

“De certa forma, essa indecisão de um candidato entre uma cidade e outra foge da tradição política de se eleger candidatos enraizados em seus locais, alguém que vivencia a mais tempo a política e a realidade de um lugar. Por outro, é um elemento dos novos tempos. Principalmente para estes candidatos que tinham um espaço maior na mídia, por apresentar programas de TV ou serem usualmente entrevistados."

Vasconcellos pontua que, nestes casos, o alcance dessas pessoas se torna maior, "pois eles não falam só para os moradores de onde vivem, mas estão presentes em mais bairros, as pessoas estão vendo eles na TV". "Não creio que seja um fator negativo, mas é algo que é um elemento da nova política", analisou.

QUEM SÃO OS CANDIDATOS NÔMADES?

Deputado federal Amaro Neto na Câmara dos Deputados. (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

AMARO NETO (REPUBLICANOS)

Na última semana, Amaro, que atualmente tem domicílio eleitoral em Vitória, conversou com a direção nacional do partido, que vê nele uma boa oportunidade da legenda conquistar uma prefeitura em 2020. Segundo membros da sigla, o parlamentar ficou de definir nos próximos dias o município pelo qual vai disputar. A decisão deve ficar entre Serra, Vitória e Cariacica, já que em Vila Velha o partido deverá contar com a candidatura do deputado estadual Hudson Leal (Republicanos).

Outra possibilidade não descartada por interlocutores, embora com menor chance de acontecer, é o deputado se manter no Congresso Nacional. Procurado pela reportagem, Amaro afirma que, neste momento, vai se dedicar ao mandato em Brasília. "Nosso foco está na aprovação de projetos e nas oportunidades de trazer recursos e investimentos para os capixabas", afirmou.

Lorenzo Pazolini durante sessão no plenário da Assembleia. (Lissa de Paula/Ales)

LORENZO PAZOLINI (SEM PARTIDO)

Outro que também ainda não definiu o município onde vai colocar seu nome nas urnas é o deputado estadual Lorenzo Pazolini (sem partido). Ele, que hoje tem domicílio eleitoral na Capital, chegou a ser apontado como candidato do PSDB em Vitória, mas as articulações esfriaram e, oficialmente, o único nome que é tratado como opção na Capital é o da vereadora Neuzinha de Oliveira (PSDB). O DEM é outro partido com quem conversou, mas, com a futura filiação do presidente da Câmara de Vitória, Cléber Lucas (hoje no PP), é com o vereador com quem a sigla deve contar para a eleição.

Com as portas se fechando na Capital, outras se abriram para Pazolini na Serra. Ele tem conversado com ao menos dois partidos, o PSL e o Rede, para se candidatar na cidade. Desde dezembro, o parlamentar vem conversando com o prefeito da cidade, Audifax Barcelos (Rede), que está em busca de um sucessor. A reportagem tentou contato com o deputado, mas não teve sucesso.

Deputado Coronel Alexandre Quintino. (Ellen Campanharo)

ALEXANDRE QUINTINO (PSL)

No Sul do Espírito Santo, quem está balançado entre duas cidades é o deputado estadual Alexandre Quintino (PSL). Coronel da Polícia Militar, o parlamentar trabalhou por 12 anos em Cachoeiro de Itapemirim, onde também deu aulas em uma faculdade particular. Contudo, atualmente ele mora em Castelo, onde também pode se colocar como candidato.

"Tenho conversado com colegas do PSL e ainda não decidi em qual município vou ser candidato. Mas tenho uma boa relação com as duas cidades", contou.

Torino Marques: entre Serra, Vila Velha e Vitória. (Tati Beling | Ales)

TORINO MARQUES (PSL)

Outro possível "nômade" das eleições é o deputado estadual Torino Marques (PSL), que também estudou ser pré-candidato em Vitória ou Serra. Como na Capital o partido tem apontado que deve ter como candidato o também deputado estadual Capitão Assumção (PSL), resta a Torino tentar se viabilizar na Serra ou em Vila Velha. Ele cita boa votação também em Cariacica, mas diz que, por enquanto, quer focar no mandato na Assembleia.

"Nasci e vivi a maior parte da minha vida em Vila Velha, hoje moro em Vitória e fui bem votado na Serra e Cariacica. Fico agradecido pela confiança, mas meu compromisso com a população é representá-los na Assembleia. Meu desafio nestas eleições, até o momento, é estar à disposição do partido e ajudar na condução dos nossos pré-candidatos. Não descarto ser candidato, mas quero ajudar os quadros que já estão definidos na Grande Vitória", explicou.

Deputado federal Ted Conti (PSB). (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

TED CONTI (PSB)

Já o deputado federal Ted Conti (PSB) deixou de lado a pretensão de se candidatar em Guarapari e o partido lançou o nome dele em Vila Velha, evitando uma disputa interna com Gedson Merízio (PSB), hoje subsecretário de Turismo do governo Casagrande.

Em nota, Ted se tornou pré-candidato em Vila Velha por acreditar que pode colaborar com políticas inovadoras na cidade e destaca que Guarapari já tinha Gedson Merízio como pré-candidato. "De qualquer forma, as definições só vão ocorrer no período das convenções partidárias", escreveu.

Também membro da bancada capixaba na Câmara, Evair de Melo (PP), com base eleitoral no Sul do Estado, principalmente em Venda Nova do Imigrante, também teve seu nome ventilado para a disputa em Vitória. Procurado, o parlamentar preferiu não comentar a possibilidade.

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