Publicado em 17 de novembro de 2019 às 22:00
Um ano após a eleição que mudou metade dos membros da Assembleia Legislativa e metade dos integrantes da bancada na Câmara dos Deputados, partidos considerados tradicionais, como MDB, PDT e PT perderam filiados no Espírito Santo, enquanto siglas médias e nanicas, como Patriota, PSL e Podemos aumentaram os quadros no Estado. >
É o que mostram números de setembro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os mais recentes, comparados com os de outubro de 2018. No período, o Patriota foi a agremiação capixaba que mais ganhou filiados. Eram 1.787 no ano passado. Agora, são 6.616, um crescimento de 270,%. O partido fundiu-se com o PRP, em abril, e recebeu os filiados deste. >
"Além da fusão, estamos tendo filiações em inúmeros diretórios no Estado. Temos meta de ter um maior número de vereadores, prefeitos e vices. Também temos que ultrapassar a cláusula de barreira. E estamos trabalhando para isso", afirmou o presidente do Patriota, deputado estadual Rafael Favatto.>
Em segundo lugar, quem mais ganhou filiados no Estado, em números absolutos, foi o PSL do Jair Bolsonaro. A legenda do presidente da República vem em franca expansão no Espírito Santo e tem, inclusive, a maior bancada da Assembleia, com quatro deputados. Atualmente, tem 9.444 filiados, contra 5.528 em outubro passado. A sigla, entretanto, pode sofrer uma debandada em breve, com o anúncio do presidente de que criará uma nova sigla, Aliança pelo Brasil. >
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Em seguida, aparece o Podemos, com 78% de crescimento no total de filiados. Hoje, eles são 8.751. O partido também foi inflado após uma fusão. Recebeu integrantes do antigo PHS. É o mesmo caso do PCdoB, que recebeu membros do PPL e passou de 6.191 para 7.230 integrantes. >
"Esse processo de conectar o partido com as bases é uma diretriz inclusive nacional. O novo PSDB é um movimento nacional puxado pelo Dória. É um processo meio que natural dentro do partido", comentou. O deputado também acredita que o PSDB funciona como alternativa à polarização e isso atrai integrantes.>
Embora sejam os mais destacados entre os que mais ganharam adeptos, nenhum desses partidos exerceu forte protagonismo nos últimos anos na política nacional e local. A exceção é o PSDB. Os tucanos capixabas filiaram mais 1.939 pessoas desde outubro passado, o que representou 7,8% a mais no total anterior de 24.808 filiados.>
O partido, agora sob comando nacional do governador de São Paulo, João Doria, tem fortes pretensões eleitorais. O dirigente paulista, inclusive, tem buscado rivalizar com Bolsonaro. Essa reorganização geral é um dos motivos para o crescimento, na avaliação do presidente estadual, o deputado estadual Vandinho Leite.>
Já outros partidos que estavam no centro dos acontecimentos políticos nos últimos anos têm registrado saldo negativo. É o caso, por exemplo, de MDB, PT e até PSB de Renato Casagrande. A legenda do governador tinha 21.493 filiados no Estado e passou a ter 20.713, uma redução de 3,6%. Os petistas eram 24.850 e agora são 24.027, queda de 3,3%. >
Em números absolutos, quem mais perdeu filiados no Estado foi o PP. Comandada pelo secretário de Desenvolvimento Urbano, Marcus Vicente, a sigla tem 28.140 filiados, 2.926 a menos do que em outubro de 2018. Logo em seguida entre os que mais perderam está o MDB. São 2.453 membros a menos. Os emedebistas perderam o assento na bancada federal capixaba e deixaram de ter a maior bancada da Assembleia. >
Boa parte do crescimento de partidos de menor expressão na história política nacional é explicada pelo desgaste das siglas tradicionais, avaliam cientistas políticos. Para o professor da UFMG Fábio Vanderley, a situação de partidos como o PT é ainda mais delicada por conta do conflito com Bolsonaro e aliados.>
"Evidentemente tem o desgaste dos partidos protagonistas. E também claro que houve um desgaste de posições de partidos de esquerda no enfrentamento ao Bolsonaro. Em algum nível, isso também tem a ver com o embate entre direita e esquerda", comentou.>
Professor de Ciência Política da FGV, Leandro Machado também atribui as mudanças nas proporções de filiados a desgastes dos partidos, mas avalia que o revés às agremiações não é novo. Antecede, inclusive as consequências da Operação Lava Jato. >
Ele observa que a sociedade, a tecnologia e até as empresas vêm avançando de maneira que não é acompanhada pelas instituições de representação como os partidos. Assim, os mais prejudicados acabam sendo aqueles que estavam há mais tempo sob os holofotes. >
"Os partidos não caminham pari passu (no mesmo passo) com a sociedade, como as empresas precisaram fazer. As pessoas querem ver isso acontecer também na política, na representação. Pesquisas há muito tempo mostram que o grau de confiança sempre foi baixíssimo. Aí a Lava Jato foi uma pá de cal", comentou.>
Como as siglas têm monopólios das candidaturas eleitorais, eles continuam necessários. E os partidos periféricos acabam absorvendo a demanda. Para o especialista, trata-se de uma crise de longa data que não está sendo combatida por dirigentes partidários com mais transparência e mudança de práticas. >
"É natural que os menos conhecidos absorvam a demanda, mas o quadro que antevejo para o futuro não é muito bom para esses que recebem muita gente porque eles não estão renovando práticas. Querem mais dinheiro e menos transparência. O ideal seria que, com a crise nos grandes partidos, tivessem surgido partidos renovados, mas não foi o que aconteceu. Vejo um ou outro tentando ainda sem saber muito como", disse. >
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