Publicado em 20 de novembro de 2019 às 19:33
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Erick Musso, está em uma situação confortável. Se conseguir a aprovação da PEC 28/2019, de sua própria autoria e que permite a antecipação da eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, o presidente da Casa, Erick Musso (Republicanos), vai ficar com a faca e o queijo na mão. >
O texto prevê que a eleição ocorrerá em data e horário previamente designados pelo Presidente da Assembleia Legislativa, antes do início do terceiro ano de cada legislatura, ou seja, no momento mais conveniente para ele e não mais obrigatoriamente em 1º de fevereiro de 2021.>
A eleição é para escolher o presidente que vai comandar a Casa de 1º de fevereiro de 2021 até 31 de janeiro de 2023. >
Assim, se estabelecer o pleito enquanto ainda está no comando em vez de no primeiro dia da próxima legislatura, o fará em pleno exercício do poder da caneta, que pode tanto beneficiar quanto atrapalhar os colegas de plenário, que mantêm indicados em cargos ligados à Mesa Diretora da Assembleia. >
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O mesmo vale para o governo do Estado que, se tentasse costurar outro nome em vez do de Musso para a presidência da Assembleia, teria que lidar com um presidente insatisfeito por meses à frente da Casa, e os projetos do Executivo enviados para lá poderiam ficar na gaveta. É o presidente que decide quando colocar as matérias em votação. >
A PEC da antecipação da eleição já foi endossada pela maioria do plenário, o que sinaliza que, hoje, Erick Musso conta com o apoio dos pares para se manter à frente da Casa. E é de se imaginar que prefira que a eleição ocorra enquanto essa vantagem se mantém.>
Esta é uma análise corrente entre alguns dos próprios deputados. E ainda há outra leitura: a de que, diante do quadro, o governo, em busca da aprovação de projetos relevantes, como os que dizem respeito às mudanças na previdência estadual, deixou os deputados da base livres para apoiar a PEC da eleição antecipada, apesar de o próprio governador Renato Casagrande (PSB) ser contrário à iniciativa. Em troca, Musso coloca os projetos relacionados ao tema em votação. >
Ninguém confirma, oficialmente, tal acordo, apesar de, coincidentemente, as PECs da eleição antecipada e a que trata da previdência estarem tramitando ao mesmo tempo. E isso em meio à convocação de sessões ordinárias em série, que aceleram o trâmite. "Seria muita coincidência, não é?", questiona um parlamentar.>
Secretário chefe da Casa Civil, Davi Diniz, que estava em plenário na manhã desta quarta-feira (20), garante que o Executivo não interfere de nenhuma forma na questão da eleição da Mesa, considerado um assunto interno da Assembleia. Casagrande e Erick Musso já trataram do tema, como registrou a coluna Vitor Vogas. E foi nesse encontro que o governador demonstrou ser contra a ideia, mas avisou que respeitaria a decisão do Legislativo. >
Se a eleição da Mesa ocorrer após a posse de deputados eventualmente eleitos como prefeitos, o número de aliados pode mudar, já que alguns parlamentares, se vitoriosos na eleição municipal, serão substituídos por suplentes. >
Aliado de primeira hora de Erick Musso, Marcelo Santos (PDT), relator da PEC na comissão especial designada para emitir um parecer sobre a proposta, tem outra versão: >
"A manifestação de alteração de data não tem nada a ver com perpetuar alguém na liderança da Assembleia Legislativa. É uma possibilidade que você abre de não ter uma data específica. A lógica do parlamento não é como a do Executivo, a do Judiciário. Você pode ter questões que você pode estar votando no momento que entender ser necessário diante de uma maioria". >
"O plenário tem a intenção de reconduzir o Erick", complementa Marcelo Santos. >
Já quanto a possível mudança de quadros no plenário após a eleição municipal, ele também tem uma resposta: "Não temos na disputa 15 parlamentares (há 30 deputados estaduais, no total), é muito pequena a disputa. Não quer dizer que essa mudança seja capaz de afetar esse sentimento do plenário de que o Erick tem sido um bom presidente".>
Marcelo Santos já adiantou que seu parecer na comissão especial será pela constitucionalidade da PEC 28.>
Dos 30, 25 apoiam a PEC da antecipação da eleição. Ou seja, quase todos, mas nem todos. Fabrício Gandini (Cidadania) é um dos que não assinaram a proposta. "Por que permitir que o presidente do biênio final seja escolhido no biênio inicial? Enfraquece a instituição quando deixa isso para a conveniência das pessoas que estão à frente (da Casa)", avaliou Fabrício Gandini. >
Erick Musso deixou a sessão que começou às 9h desta quarta-feira a passos tão largos e ligeiros que nem foi possível à reportagem de A Gazeta interpelá-lo sobre o assunto. Num dia com três sessões ordinárias, convocadas de forma a acelerar a tramitação de projetos como a própria PEC da eleição da Mesa Diretora, o presidente decidiu discursar na última delas, iniciada às 15h10 e encerrada às 15h17. "Esta Casa não peita ninguém", declarou o presidente. "Esta Assembleia não é mais um cartório carimbador de projetos, ela tem vida própria", complementou. >
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