Publicado em 21 de abril de 2020 às 12:03
Na pacata cidade de Venda Nova do Imigrante, Região Serrana do Espírito Santo, a rotina de pouco mais de 24 mil moradores mudou no último mês diante do novo coronavírus. Com escolas e comércios fechados, eventos suspensos e supermercados funcionando sob restrições, as ruas do município ficaram vazias.
A cidade mais bolsonarista do Estado tem se mostrado preocupada com o avanço do vírus e ignorado o discurso do presidente, que minimiza o poder da Covid-19 e se refere a doença como uma "gripezinha". Mesmo com 81% dos eleitores tendo votado em Jair Bolsonaro (sem partido), em 2018, a população de Venda Nova, em sua maioria, segue as normas de distanciamento social recomendadas pelo Ministério da Saúde e por autoridades internacionais.
Devani Peterle
EsteticistaAssim como Devani, o professor de inglês Henrique Pagotto, 35 anos, tem cumprido rigorosamente as recomendações do governo estadual e da cidade. Mesmo jovem e considerado fora do grupo de risco atingido pela Covid-19, ele busca praticar o isolamento social.
"Eu não tenho saído muito de casa, faço o básico e volto. Inclusive suspendi minhas aulas há um mês, e na escola onde dou aula, outros dois professores também pararam."
Até a noite da última sexta-feira (17), Venda Nova do Imigrante registrava três casos confirmados da Covid-19, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. O número baixo de pacientes infectados, porém, não é visto com desprezo no município. A notificação do primeiro caso serviu de alerta para os moradores.
João Vitor Silva
GarçomAlém de acatar todas as medidas de restrição determinadas pelo governo estadual, que incluem fechamento de escolas, academias, comércios e serviços não essenciais, a Prefeitura de Venda Nova do Imigrante emitiu seus próprios decretos para evitar aglomerações na cidade. As feiras livres foram suspensas por tempo indeterminado, assim como o calendário de eventos.
"A gente tem reforçado as questões técnicas, orientando a população com base nas recomendações do governo estadual e do Ministério da Saúde. Os primeiros dias foram mais difíceis, mas acredito que agora as pessoas já entenderam a gravidade da situação. A maior parte da população está seguindo os decretos e entende que nossa prioridade é a saúde", disse a secretária municipal de Saúde, Marise Vilela.
O apoio às orientações do Ministério da Saúde, contudo, não é unânime. Alguns moradores ainda se negam a praticar o distanciamento social, justificando questões políticas, falta de medo e até mesmo fé que a situação vai passar.
Marise Vilela
Secretária municipal de SaúdeAlguns comerciantes também têm pressionado pela flexibilização das medidas restritivas. Na última semana, uma carreata foi realizada na cidade para pedir a reabertura do comércio. A reportagem conversou com moradores que participaram da manifestação, mas não quiseram se identificar. Muitos deles colocam em xeque a existência do vírus e se apoiam no discurso do presidente Jair Bolsonaro para propor um isolamento vertical na sociedade.
"A gente ouve pessoas falando que não é nada, que não tem perigo. Uma minoria, é claro. Tem gente agindo com naturalidade, fazendo churrasco, se reunindo com vizinho, não querendo enxergar a realidade", disse o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Venda Nova, Flávio Mareto.
Mesmo assim, segundo Flávio, muitos comerciantes têm compreendido a gravidade da situação e se adaptado. Alguns estão atendendo com portas fechadas, outros iniciaram serviços por meio das redes sociais. A CDL tem participado da reuniões da sala de emergência da prefeitura e apresentado uma posição de apoio ao que vem sendo feito até o momento.
"Tem muita gente com medo do vírus. De 65% a 70% dos lojistas apoiam as medidas de isolamento, outros estão preocupados em como vão sobreviver financeiramente, o que a gente também entende. Mas temos trabalhado junto com a prefeitura para que as medidas sejam eficazes no município", concluiu Mareto.
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