Publicado em 8 de maio de 2020 às 17:40
A secretária especial da Cultura, Regina Duarte, não estava entre os integrantes do governo mais queridos por bolsonaristas. Até faixas pedindo "Fora, Regina" já foram vistas em protestos pró-Bolsonaro. Após entrevista à CNN Brasil em que elogiou a ditadura militar, fez pouco caso da prática de tortura e minimizou as mortes por Covid-19, Regina ganhou apoio entre a militância digital governista. É o que mostra levantamento feito pela AP Exata, empresa especialista em inteligência em comunicação digital.>
Fora da bolha, ela também foi alvo de críticas. No Twitter, as duas hashtags mais usadas foram #cnnlixo, por usuários que defendiam a secretária, e #reginafascista, usada por quem teve outra percepção da entrevista. Ao todo, foram 600 mil interações.>
A novidade, no entanto, surgiu nos grupos bolsonaristas no WhatsApp, em que a atriz ganhou um apoio com o qual nunca havia contado. Nas redes pró-governo já se discutia, antes desta entrevista, quem seria o sucessor dela no cargo, afirmou Sergio Denicoli, CEO da AP Exata. A empresa monitora constantemente cerca de 100 grupos públicos no aplicativo.>
Os apoiadores do governo apontavam como possíveis substitutos o ator Mário Frias ou Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares que chegou a ter a nomeação suspensa por dar declarações consideradas racistas em redes sociais. Embora não fosse a escolha preferida das redes bolsonaristas para ocupar o cargo, quando foi nomeada a atriz não enfrentou grandes críticas. Após demitir pessoas ligadas ao olavismo, no entanto, passou a ser odiada nos grupos que a consideravam esquerdista, aponta Denicoli.>
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O cenário mudou durante a entrevista desta quinta-feira. Denicoli conta que o jogo se inverteu enquanto ela cantava músicas da ditadura, relativiza mortes e minimizava a tortura. Os grupos passaram a fazer a defesa efusiva dela, como nunca tínhamos visto antes, mostrando que a postura da atriz a aproximou da ideologia seguida por eles. >
Além de ter abordado, ainda de forma confusa, temas caros aos bolsonaristas, Regina também deu o que ela mesma chamou de "chilique" durante a entrevista, ao se recusar a responder a declarações da atriz Maitê Proença.>
Regina Duarte
Secretária especial da Cultura, em entrevista à CNN Brasil, ao ser questionada sobre mortes durante a ditadura militarA AP Exata faz análises quantitativas e qualitativas de assuntos relacionados à política em geral. Nós acompanhamos tendências, geralmente as reações começam nos grupos de WhatsApp, vão para o Twitter e depois se espalham pelo Facebook, narra Denicoli, que é pós-doutor em comunicação. >
O governo Bolsonaro, pelas análises da empresa, conta com uma militância muito atuante que determina, inclusive, o jogo político. Um exemplo citado é o do ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, que começou a ser atacado nas redes antes de ser demitido.>
Regina Duarte foi nomeada para o cargo de secretária da Cultura após a demissão de Roberto Alvim da pasta. O ex-secretário foi exonerado após postar um vídeo em que citava trechos do ideólogo nazista Joseph Goebbles. >
A atriz, convidada por Bolsonaro para assumir a vaga, defendeu o presidente durante a campanha eleitoral e chegou a protagonizar embates com colegas de profissão na internet. Quando aceitou o cargo, Regina se envolveu em polêmicas após postar imagens de artistas que seriam apoiadores de sua nomeação, mas que depois pediram para serem excluídos da publicação no Instagram.>
No mesmo dia em que foi nomeada, Regina exonerou Dante Mantovani, presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte). Mantovani é ligado a Olavo de Carvalho, ideólogo que tem grande influência entre o grupo bolsonarista.>
Com a exoneração, a secretária passou a ser atacada e perder espaço na própria pasta. Ao tomar decisões sem consultá-la, a própria atriz passou a entender que Bolsonaro poderia estar querendo dispensá-la. Durante a entrevista à CNN, no entanto, Regina disse que ficará no cargo.>
Para Denicoli, as últimas manifestações nas redes sociais sugerem que ela ganhou uma sobrevida no governo.>
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