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90% dos adolescentes do ES ainda não tiraram título para votar em 2022

90% dos adolescentes do ES ainda não tiraram título para votar em 2022

Com a baixa procura neste ano, caso o prazo para tirar o título de eleitor terminasse agora, essa eleição teria a menor presença de adolescentes nas urnas desde 1992

Publicado em 28 de março de 2022 às 20:10

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Em pleno ano eleitoral e às vésperas do fim do prazo para tirar o título de eleitor, apenas 9,6% dos adolescentes de 16 e 17 anos no Espírito Santo procuraram fazer o documento. Dos cerca de 112 mil capixabas nessa faixa de idade, só 10,8 mil estão atualmente aptos a votar nas eleições de outubro.

Os dados são do Tribunal Regional Eleitoral do Estado (TRE-ES) e mostram que, caso o prazo para tirar o título de eleitor terminasse agora, esse pleito teria a menor presença de adolescentes nas urnas desde 1992.

Termina prazo para pedir a 2ª via do título de eleitor
Prazo para tirar título de eleitor acaba em 4 de maio. (Adriana Toffetti/A7Press/Folhapress)

O título de eleitor pode ser feito até 4 de maio e com a data limite se aproximando, até mesmo artistas e influenciadores têm se unido para incentivar esse público a participar das eleições. O movimento incluiu Anitta, Whindersson Nunes, Larissa Manoela, Luisa Sonza, entre outros.

Desde 2004, a parcela de eleitores capixabas que tem 16 ou 17 anos está em queda. Naquele ano, eles eram 3,24% das pessoas com título de eleitor. Em 2022, até fevereiro, são 0,37%, a menor taxa da série histórica.

Segundo especialistas há múltiplas hipóteses para o desinteresse dos jovens em participar efetivamente do processo eleitoral. Entre elas está a descrença no sistema político brasileiro, o envelhecimento das lideranças políticas e a dificuldade na comunicação entre as instituições que fazem parte do processo eleitoral e esse público.

“Há o envelhecimento dos líderes partidários. Ao longo dos anos, essa renovação tem sido muito pequena. Também é claro o desencanto e a desconfiança no sistema político. A falta de perspectiva de emprego e renda causa desânimo e a facilidade de justificar ausência pelo celular não podem ser desconsideradas”, afirma a juíza e diretora da Escola Judiciária Eleitoral do TRE-ES, Heloisa Cariello.

O sociólogo e cientista político da faculdade Mackenzie Rodrigo Prando concorda. Segundo ele, ainda é preciso fazer pesquisas com os adolescentes para entender exatamente essa movimentação, mas ele aponta ainda outras hipóteses para o desinteresse desse público em tirar o título.

90% dos adolescentes do ES ainda não tiraram título para votar em 2022

Uma delas é a pandemia, que fez cair a qualidade do ensino em todo o país. Com isso, os jovens que deixaram o ensino médio nesse período estavam menos preparados para entrar no mercado de trabalho.

“Educacionalmente, o que já era ruim piorou na pandemia. A preocupação (dos jovens) está muito mais ligada à preocupação em sanar problemas na sua trajetória escolar do que questões ligadas à política", avalia.

0,37%
é a parcela do eleitorado do ES que corresponde aos adolescentes

Além disso, ele cita o ambiente tóxico das redes sociais. Se por um lado os algoritmos promovem o compartilhamento de informação quase exclusivamente entre pessoas com pensamentos parecidos, por outro, quando há posições contrárias, elas são apresentadas de forma violenta, que não contribuem para um debate saudável.

"Quando o jovem posta algo de política e alguém curte, vai dar para ele um viés de confirmação. Ao contrário, quando alguém acaba comentando algo diferente do que você espera, esse ambiente degenera pra agressividade, para o ódio, o cancelamento, a ‘lacração’”, pondera.

Aspas de citação

Muitos jovens evitam esse tipo de debate. Pra quê tirar o título se a discussão é sempre raivosa?

Rodrigo Prando
Sociólogo e cientista político da faculdade Mackenzie
Aspas de citação

Ele avalia ainda que os jovens e as instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os tribunais eleitorais regionais estão em dimensões de comunicação diferentes. A mensagem não chega para eles de forma clara e através dos ambientes onde eles transitam.

Sobre a representatividade cada vez menor dos adolescentes entre os eleitores, ele afirma que ela forma um círculo vicioso. Como os jovens são poucos a votar, os políticos acabam se abstendo de colocar no debate político as ideias e políticas públicas voltadas para essa parcela da população.

“Poucos jovens participam da vida política, discutem política. Assim, o eleitorado diminui e as propostas para essa população perdem espaço. São barreiras difíceis de quebrar”, diz.

TRE-ES PREPARA CAMPANHA PARA INCENTIVAR ADOLESCENTES NA RETA FINAL

Para incentivar os adolescentes a tirarem o título, o TRE-ES lançou a campanha #SerEleitor e conta com a parceria de órgãos como Secretaria de Estado da Educação (Sedu), Ifes, Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe), Ministério Público, Defensoria Pública e OAB-ES.

Apesar do cenário crítico, a magistrada esclareceu que a campanha será perene e "não tem como foco apenas as eleições deste ano, mas o incentivo ao alistamento eleitoral dos jovens, nessa faixa etária, ao longo do tempo e de forma contínua".

Será enviado até 1º de abril um material preparado pelo órgão que vai orientar principalmente as escolas parceiras a criar planos de ação voltados a promover a cidadania e o incentivo ao alistamento eleitoral.

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