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Polícia desmantela "quadrilha do falso consórcio" que tinha sala em área nobre de Vitória

Polícia desmantela "quadrilha do falso consórcio" que tinha sala em área nobre de Vitória

Grupo alugava um espaço comercial na Enseada do Suá por R$ 4 mil, onde recebia clientes interessados em imóveis por meio de consórcios

Publicado em 12 de maio de 2025 às 18:10

 - Atualizado há 5 dias

Os vídeos mostram o material utilizado pela quadrilha, como armas, munição, e material falsificado de bancos.

Com escritório montado em uma das áreas mais nobres de Vitória, uma quadrilha aplicava golpes com falsas promessas de contemplação em consórcios imobiliários. A estrutura ostentava credibilidade: box alugado por R$ 4 mil no bairro Enseada do Suá, maquininha com adesivo da Caixa Econômica Federal, panfletos com o logotipo do banco, calendários e computadores de alto padrão. A operação que desarticulou foi denominada 'Operação Consórcio Falido' e realizada nesta segunda-feira (12). 

PCES prende líder de golpe em consórcios com prejuízo de R$ 400 mil
Antony de Oliveira Braz Amorim, de 28 anos, foi preso ainda em abril e era o líder da organização Crédito: Divulgação | Polícia Civil

O líder, identificado como Antony de Oliveira Braz Amorim, de 28 anos, foi preso preventivamente no dia 24 de abril. A investigação começou após uma vítima denunciar um golpe de R$ 60 mil. Com base nesse caso, a polícia identificou ao menos outras duas vítimas e apura prejuízos que já ultrapassam R$ 450 mil. Outras ocorrências, inclusive fora do Estado, são investigadas.

Como funcionava o golpe

A quadrilha clonava anúncios reais de imóveis em plataformas de vendas de imóveis. Quando uma vítima demonstrava interesse, era direcionada ao suposto escritório. Lá, o golpista se apresentava como correspondente da Caixa Econômica Federal e oferecia uma falsa proposta de consórcio com contemplação rápida.

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Polícia desmantela "quadrilha do falso consórcio" que tinha sala em área nobre de Vitória

O pagamento inicial era feito em nome de empresas de fachada, registradas em nome de comparsas. Após o recebimento dos valores — geralmente altos, como R$ 20 mil ou R$ 40 mil — o grupo cortava contato com a vítima. “Eles diziam que entregariam uma carta de contemplação logo após o sinal, mas, quando a cobrança aumentava, bloqueavam o número da pessoa”, explicou o delegado Diego Bermond.

PCES prende líder de golpe em consórcios com prejuízo de R$ 400 mil por Divulgação | Polícia Civil

A investigação revelou que a esposa do preso atuava ativamente no esquema: além de ser sócia em uma das empresas usadas, também se passava por secretária no atendimento às vítimas. Durante os mandados de busca e apreensão, a polícia encontrou material de escritório, documentos, panfletos, além de uma pistola Glock 9mm, oito carregadores e 314 munições — itens que ampliaram a suspeita de envolvimento do grupo com outros crimes, como venda ilegal de arma de fogo. 

“O que chamou atenção foi a quantidade de munições e acessórios. Estelionatário normalmente não tem esse tipo de armamento. Ele disse que as armas estavam ‘na oficina’, mas se recusou a dizer onde”, relatou Bermond.

Indiciamentos

Wender, Hudson e Gessica faziam parte da associação criminosa e foram indiciados
Wender, Hudson e Gessica faziam parte da associação criminosa e foram indiciados Crédito: Divulgação | Sesp

Antony Braz foi indiciado por: 

  • Estelionato (três vezes);
  • Associação criminosa;
  • Posse ilegal de acessórios de arma de fogo de uso restrito.

Gessica Bermudes Sopoletto (esposa de Antony), também foi indiciada por: 

  • Estelionato (duas vezes);
  • Posse ilegal de acessórios de arma de fogo de uso restrito.

Wendel e Hudson foram indiciados por: 

  • Estelionato; 
  • Associação criminosa.

Os dois comparsas (Wendel e Hudson) e a esposa de Antony seguem respondendo o processo em liberdade, segundo a Polícia Civil. A reportagem tenta contato com a defesa de Antony e o espaço segue aberto para manifestação.

A Caixa Econômica Federal informou na tarde de terça-feira (13) que "atua conjuntamente com os órgãos de segurança pública nas investigações e operações que combatem fraudes e golpes. Tais informações são consideradas sigilosas e repassadas exclusivamente à Polícia Federal e demais autoridades competentes, para análise e investigação".

Vida de luxo com dinheiro de vítimas

O casal vivia em uma casa de três andares no bairro Vale Encantado, em Vila Velha, e sustentava que o negócio era “legalizado”. No entanto, segundo a Polícia Civil, tudo fazia parte de uma encenação para convencer as vítimas. Há indícios de que Antony e Gessica mantinham uma rotina de ostentação nas redes sociais e teriam promovido uma festa de aniversário para o filho com um gasto estimado de R$ 200 mil.

“Obviamente a gente não tem como comprovar isso, mas a Polícia Civil tem a convicção que foi com dinheiro das vítimas que eles aplicaram os golpes", afirmou o delegado. 

Além disso, Polícia Civil acredita que o número de vítimas pode ser bem maior. “Temos certeza de que há outras pessoas que caíram nesse golpe. A divulgação é essencial para que essas vítimas nos procurem”, afirmou o delegado. Antony também é investigado em outros dois procedimentos em São Paulo e em um caso da Delegacia de Defraudações (Defa), por golpe semelhante de R$ 232 mil.

"Ambiente profissional"

Uma das vítimas do golpe, que preferiu não ser identificada, contou ao repórter Daniel Marçal, da TV Gazeta, que perdeu R$ 25 mil após procurar por um imóvel mais espaçoso para a família em 2022.“O ambiente era todo montado para parecer legítimo. Ele usava crachá, a sala tinha televisão rodando imagens do banco, panfletos, tudo dava a impressão de que era algo oficial”, relatou.

Segundo ela, o homem se apresentou como correspondente da Caixa Econômica e ofereceu a possibilidade de aquisição de um imóvel, com preço abaixo do valor de mercado. Como alternativa para facilitar o pagamento, foi oferecido um consórcio com promessa de contemplação antecipada. “Quem não quer ser contemplado logo? Acreditei. Fiz o consórcio e no dia seguinte já realizei os pagamentos via Pix. Saí dali acreditando que estava tudo certo”, contou.

A vítima só começou a desconfiar no dia seguinte, quando tentou entrar em contato novamente com os golpistas. “Fui atrás para tentar cancelar, falar de desistência e não fui mais atendida. Tive medo até de insistir muito e sofrer algum tipo de retaliação”, afirmou.  

Mesmo com o prejuízo, ela afirmou que o desfecho da investigação e a prisão do principal suspeito trouxeram certo alívio. “O sentimento é de que, pelo menos, a justiça começou a ser feita. Dá esperança. Eu só quero alertar outras pessoas para pesquisarem, não fechem negócio no impulso e sempre desconfiem", finalizou.

Confira a nota completa da Caixa Econômica Federal

"A Caixa informa que atua conjuntamente com os órgãos de segurança pública nas investigações e operações que combatem fraudes e golpes. Tais informações são consideradas sigilosas e repassadas exclusivamente à Polícia Federal e demais autoridades competentes, para análise e investigação. 

O banco aperfeiçoa, continuamente, os critérios de segurança em movimentações financeiras, acompanhando as melhores práticas de mercado e as evoluções necessárias ao observar a maneira de operar de fraudadores e golpistas. 

Adicionalmente, a Caixa ressalta que monitora ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias para identificar e investigar casos suspeitos. E a instituição também esclarece que possui estratégias, políticas e procedimentos de segurança para a proteção dos dados e operações de seus clientes e dispõe de tecnologias e equipes especializadas para garantir segurança aos seus processos e canais de atendimento".

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