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Como agia funcionária presa por desvio de dinheiro de empresa no ES

Como agia funcionária presa por desvio de dinheiro de empresa no ES

A mulher, de 45 anos, está presa e confessou o crime; após os desvios, a mulher passou a morar de frente para a praia, comprou carro importado e a viajar para as montanhas capixabas

Mikaella Mozer

Repórter / [email protected]

Publicado em 21 de agosto de 2025 às 18:02

 - Atualizado há 4 meses

Sandra Helena de Souza, suspeita de desviar dinheiro de empresa no ES
Sandra Helena de Souza, suspeita de desviar dinheiro de empresa no ES, foi presa e teve carro apreendido Crédito: Divulgação | Polícia Civil

Ao longo de dez meses Sandra Helena de Souza, de 45 anos, furtou R$ 560 mil da empresa de locação de imóveis em Santa Lúcia, em Vitória, onde trabalhava. Para conseguir desviar a quantia, a mulher usou de dois artifícios: a confiança do sócio-proprietário, de 72 anos, e os conhecimentos técnicos para modificar e fraudar pelo menos 60 boletos de pagamento. 

Além do valor desviado, ela ainda prejudicou em R$ 177 mil o negócio imobiliário devido a cobrança de juros pelos impostos não pagos. "Como ele achava que tinha pago, não se preocupava, mas o dinheiro ia para a conta de Sandra. Todas as contas a serem pagas ficavam em aberto", disse em coletiva de imprensa nesta terça-feira (21), o titular do 3º Distrito Policial de Vitória, delegado Diego Bermon.

A investigação começou no dia 16 de junho, após denúncia da vítima. O delegado contou ainda que mais de um mês depois, em 31 de julho, a mulher foi presa em um apartamento de frente para o mar, em Praia de Itaparica, em Vila Velha. O valor do aluguel era pago com o dinheiro desviado.

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Como agia funcionária presa por desvio de dinheiro de empresa no ES

Bermon também explicou como ela praticou o crime. Veja como ela agia:

  • Por ser de confiança, ela emitia os boletos de impostos, planos de saúde e contas pessoais do sócio;
  • Ao emitir, ela fraudava os dados por meio de conhecimentos técnicos;
  • Para isso, ela fazia os documentos com o nome do serviço que deveria ser pago. Por exemplo, se fosse uma dívida de plano de saúde, ela colocava o nome do serviço que receberia o pagamento (veja foto abaixo);
  • Quando a vítima digitava o código de barras aparecia o nome de uma intermediadora financeira. O dinheiro caía na conta da entidade e depois o sistema enviava para a conta pessoal dela;
  • Por aparecer o nome de um intermediadora, o sócio não desconfiava;
  • O plano só foi descoberto após a vítima receber uma mensagem de cobrança do Governo Federal (Fisco) cobrando o pagamento dos impostos. Como havia recebido os boletos das mãos de Sandra e realizado o pagamento, o homem a procurou para cobrar explicações.

“Ele marcou uma reunião e ela não foi. Depois uma segunda, mas Sandra não compareceu novamente. Ele passou a situação para a contabilidade e eles viram os boletos falsificados. Eles acham que prejuízo foi maior do que o repassado até agora porque ainda estão aferindo”, frisou o delegado. 

Alguns dos boletos usados por golpista para desviar dinheiro de empresa no ES
Alguns dos boletos criados e emitidos pela golpista para desviar dinheiro de empresa no ES Crédito: Divulgação | Polícia Civil

Toda a situação demorou meses para ser descoberta pela confiança posta pelo sócio na funcionária. Há sete anos na empresa, além de cumprir com as obrigações oficiais, ela ainda auxiliava em questões pessoais ao entregar os boletos de dívidas do sócio e de pessoas próximas a ele. O homem ainda a ajudava pagando uma bolsa para um dos filhos da investigada. 

“Ele achava que estava pagando impostos, mas não estava. A ação chamou atenção porque ela era de extrema confiança. De uma hora para outra, virou a chave e começou a aplicar o golpe. Isso pode acontecer com qualquer um. No dia da prisão, a conduzimos para a delegacia e ela admitiu que tinha desviado. Representamos pela manutenção da prisão dela, que foi aceito”, explicou o delegado.

Dinheiro “sumiu”

Durante o interrogatório, Sandra detalhou os próprios gastos mensais. Conforme Bermon, entre eles estavam R$ 15 mil em cartões de crédito, R$ 1.800 em plano de saúde e R$ 1.000 em condomínio.

Os agentes realizaram a somatória dos valores citados por ela, porém, os agentes identificaram que os gastos não chegavam a R$ 25 mil durante o mês. Sendo assim, ficaram em, no máximo, R$ 250 mil durante os dez meses.

“Então há mais de 300 mil a serem indicados por essa investigada que acreditamos que ainda esteja em posse dela. Após a quebra do sigilo financeiro, o laudo vai conseguir constatar onde estão os valores subtraídos. Ela disse que gastou tudo, mas acreditamos que ela omitiu durante o interrogatório”, frisou o titular do 3º Distrito Policial de Vitória.

A Polícia Civil apreendeu aparelhos eletrônicos de Sandra para analisar o conteúdo Crédito: Divulgação | Polícia Civil

Mudança de vida

Além dos boletos falsos, a mulher deixou outros rastros de um crescimento financeiro iincompatível com os três salários mínimos que ela recebia de salário.

Entre eles estavam a mudança de Cariacica para um apartamento de frente para o mar em Praia de Itaparica e um carro importado. “Ela viajava toda sexta para Domingos Martins e ela era uma pessoa que ganhava entre dois e três salários mínimos”, disse o delegado. 

Segundo Bermon, ela foi autuada por estelionato na modalidade de fraude eletrônica, majorado por sem contra idoso e por ser em continuidade delitiva. “Foi um crime sem grave ameaça violenta e mesmo assim o juiz manteve a prisão. Isso é um recado que isso é um crime grave",  destacou. 

A reportagem tenta localizar a defesa e o espaço segue aberto para um posicionamento. 

Correção
22/08/2025 - 15:38hrs
A Polícia Civil usou o termo 'administradora' ao se referir à mulher presa. Após a publicação da reportagem, o Conselho Regional de Administração do Espírito Santo (CRA-ES) informou que ela é bacharel em Administração e não tinha registro no conselho. Por isso, não poderia receber o título. O texto foi corrigido.

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