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Capixabas presos: quem era a brasileira assassinada nos EUA

Capixabas presos: quem era a brasileira assassinada nos EUA

Irmã conta como ocorreu o desaparecimento da jovem, o início das investigações, o desespero da mãe com a perda e a expectativa de que encontrem o corpo da jovem Ana Paula Braga

Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 17:48

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Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, mais conhecida como Ana Paula Braga, assassinada nos EUA. (Reprodução/Instgaram )

Aos 24 anos, Ana Paula Feitosa dos Santos Braga era uma jovem feliz, que não tinha medo de encarar qualquer tipo de trabalho e que era adorada pelos amigos e familiares. Seu sonho de conseguir legalizar sua situação para morar permanentemente nos Estados Unidos  foi bruscamente interrompido no final de janeiro, data em que foi assassinada.

DESCOBERTA DO CRIME

O crime aconteceu em seu apartamento, na cidade de Los Angeles, na Califórnia. A data provável é o dia 30 de janeiro deste ano. Thiago Philipe Souza Bragança e Wenderson Júnior Dalbem Silva são apontados como os autores do seu assassinato. De acordo com a polícia, eles teriam estrangulado a vítima com o fio de um equipamento elétrico. Depois, envolveram o corpo da jovem em um edredom e o descartaram em um contêiner de lixo, em uma localidade há duas horas de distância do local do crime. 

Os dois acusados chegaram gravar vídeos mostrando os detalhes do crime. Na imagem, um dos suspeitos mostra um embrulho com edredom e afirma:"Já está embrulhado", ao se referir ao corpo da vítima.

Foi sua irmã de criação — que pediu para não ter o seu nome divulgado — que desconfiou do seu desaparecimento e mobilizou amigos, a imprensa voltada para brasileiros em solo americano e até a polícia brasileira para investigarem o caso. "Ana ligava todo dia, mandava mensagens, fazia chamadas de vídeo. Ela se sentia sozinha lá e sempre entrava em contato com nossa mãe", relatou.

O dia 29 de janeiro foi a última vez que ela teve contato com Ana. "Conversamos, ela contou que tinha sido flagrada pela polícia, que não passou no teste do bafômetro e que foi levada à Corte americana (Justiça). Pagou as taxas cobradas e tinha que fazer trabalho público na biblioteca local e no necrotério. Rimos muito da situação", contou

QUEM ERA A JOVEM

Ana Paula era da cidade de Mateus Leme, localizada a 61 quilômetros de Belo Horizonte, Minas Gerais. Segundo sua irmã adotiva,  antes de ir para os Estados Unidos Ana trabalhava como maquiadora profissional e dava cursos. "Ela e o marido decidiram ir embora, na esperança de uma vida melhor para eles e o filho, sonho de muito brasileiros", relata.

Há cerca de quatro anos, foram morar no Estado americano de Massachusetts. Um ano depois da chegada, relata a irmã, Ana Paula e o marido se separaram. Ele decidiu ficar com o filho até que ela se estabelecesse profissionalmente. Ana então seguiu para Los Angeles, na Califórnia.

IDA PARA LOS ANGELES

De Massachusetts, ela foi morar em Los Angeles, na Califórnia. Lá, para se manter, conseguir se estabelecer e buscar novamente o filho, ela fazia de tudo. Trabalhou em várias atividades, como relata a irmã. "Ela trabalhava como motorista de aplicativo, com entrega de comida, de pedreiro, faxina, tudo ela pegava. Às vezes, fazia chamada de vídeo para nós, mostrando que na entrega de comida, quando não deixavam ela entrar para fazer a entrega, tinha que ir embora. E ela comia a pizza", lembra da irmã das brincadeiras de Ana.

Segundo a irmã, Ana era uma jovem muito alegre. "Ela era pura alegria, uma pessoa animada, feliz, que adora cantar. Amava cantar. Já tinha feito de tudo por lá. Mas, como estava sozinha, se sentia carente e nos ligava com frequência, mostrando a neve, cantando no carro, adorava mostrar como era a cidade, as luzes de natal. Às vezes fazíamos chamada a três, Ana, Mamade (mãe das jovens) e eu", conta a irmã.

CONHECENDO O ASSASSINO

Foi ainda quando morava em Massachusetts que Ana conheceu o brasileiro que posteriormente foi acusado de matá-la, Thiago Philipe Souza Bragança "Eram só conhecidos. Ele foi apresentado por uma amiga dela. Não havia nenhum relacionamento entre eles", conta a irmã.

Entre o final de novembro e o início de dezembro, segundo a irmã, Thiago Philipe Souza Bragança fez um contato com  Ana por um aplicativo de mensagens. Ele queria ir para Los Angeles. "Ele perguntou se a Ana poderia hospedá-lo e ao amigo Wenderson Júnior Dalbem Silva em sua casa até conseguirem um apartamento para eles. Tinha pouco tempo que ela estava no apartamento, segundo amigos de lá nos informaram. Ela concordou", explicou a irmã.

Há umas três semanas, segundo a irmã, Ana teria reclamado com alguns amigos que tinha medo de Thiago. "Ela relatou para amigos de lá que Thiago era agressivo, que ela tinha medo e que queria sair de perto dele. Os dois foram lá e foi o que aconteceu", conta.

INVESTIGAÇÃO

No dia 2 de fevereiro, a irmã percebeu que o aplicativo de mensagens dela já estava sem a foto. "Mandei mensagem perguntando o motivo e ela não respondeu. Achei que estava com problemas de carga e não dei muita ênfase. Nos dias seguintes ela não retornava mais nenhum contato. Falei com a nossa mãe, que entrou em desespero", relatou a irmã.

Pelas redes sociais ela conseguiu entrar em contato com amigos da Ana nos Estados Unidos, em busca de informações. No dia 9 de fevereiro ela criou um grupo no aplicativo de mensagens e começou a pedir ajuda a todos, inclusive para a imprensa local voltada para brasileiros. Foi partir daí que chegaram informações de amigos que relatavam o caso de uma brasileira que teria sido morta por um outro brasileiro, e que ele teria fugido para o Brasil.

Por intermédio do mesmo grupo, ela conseguiu ajuda de um policial militar, que acionou a Polícia Federal. "Eles entraram em contato com a nossa família no dia 12 de fevereiro falando que participariam das investigações e que ficássemos tranquilos. Tentou nos acalmar porque estávamos muitos desesperados, recebendo até ligações de ameaças. Tínhamos medo de que eles nos matassem", relatou a irmã.

Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, mais conhecida como Ana Paula Braga, assassinada nos EUA. (Reprodução/Instgaram )

A tranquilidade veio no último sábado, quando a família recebeu a ligação informando que os dois suspeitos haviam sido presos. "O mesmo policial federal nos ligou  e avisou que eles tinham sido presos e que poderíamos ficar em paz", relatou a irmã.

COMO ESTÁ A MÃE

Delma Félix, mãe de Ana Paula, teve três filhas e criou uma quarta. Duas delas foram morar com uma tia e têm pouco contato com a mãe. "Eu estou aqui, mas a mais apegada a ela era a Ana. As duas se falavam todos os dias. Ela ligava o tempo todo. Minha mãe está sofrendo muito com a situação", relata.

Nos últimos dias, Delma tem passado dopada com medicamentos. Segundo a irmã de Ana, a mãe é depressiva e a situação é ainda mais crítica porque eles vivem uma situação difícil, e a Ana ajudava a mãe, financeiramente. "O dinheiro enviado por Ana a ajudava no dia a dia e também na compra de seus remédios. Agora estamos enfrentando muitas dificuldades e fazendo até uma vaquinha para mantê-la. É muito difícil para uma mãe perder uma filha nessas condições", relatou.

CORPO E TRASLADO PARA O BRASIL

A expectativa agora, segundo a irmã, é com a localização do corpo de Ana e encontrar uma forma de trazê-lo para o Brasil. "Mas posso te garantir que não temos a menor condição financeira de trazê-la para o Brasil. Nossa situação é muito difícil", conta.

Em vídeo, Delma Félix pediu ajuda do governo brasileiro não só para encontrar o corpo de sua filha, mas também para ajudar a fazer um enterro digno para a sua filha."Não tenho como trazer o corpo da minha filha. Estou em uma crise muito difícil. Era minha filha que me sustentava e não tenho como arcar com as despesas. Me ajude, é uma mãe desesperada que pede", desabafa.

Para a irmã, os capixabas presos, que a polícia aponta como assassinos de sua irmã, deveriam ser levados para julgamento nos Estados Unidos. "O crime aconteceu lá, deveriam ser julgados por lá. Acho que seriam ainda mais duros com eles", ponderou a irmã.

FILHO E EX-MARIDO

O filho de Ana Paula, de 4 anos, permanece com o ex-marido, nos Estados Unidos. Segundo a irmã, ele já sabe que a mãe morreu. Seus nomes não estão sendo divulgados a pedido da família.

PRISÃO NO ES

Thiago Philipe Souza Bragança e Wenderson Júnior Dalbem Silva foram presos em uma residência onde estavam, em Cariacica, no sábado (22). Segundo a decisão da Justiça estadual, ambos ficarão presos temporariamente por 30 dias com base nos artigos 240 e 242, do Código de Processo Penal. Eles não devem ser extraditados por serem brasileiros.

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De acordo com o secretário de Segurança do Estado, Roberto Sá, em entrevista à TV Gazeta, os dois confessaram o crime para a polícia capixaba. Ainda segundo ele, houve uma ação integrada entre a polícia americana, que ainda continua investigando o crime. No Brasil também atuou a Polícia Federal em parceria com o Grupo Integrado de Operação de Segurança Pública (Giosp), que integra todas as inteligências das agências de segurança do Estado.

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