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Após 20 anos, empresário acusado de matar a mulher em Vitória vai a júri popular

Após 20 anos, empresário acusado de matar a mulher em Vitória vai a júri popular

Caso aconteceu em 2001 em Jardim Camburi. Segundo a denúncia, dois meses antes do crime, Sergio Magalhães Gaudio teria feito seguro de vida para a mulher em seu nome

Publicado em 17 de março de 2022 às 20:55

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A partir das 9h desta sexta-feira (18), o empresário Sergio Magalhães Gaudio, 77 anos, senta no banco dos réus para ser julgado pelo Tribunal do Júri pelo assassinato da mulher dele, Vanuza de Barros, após mais de 20 anos. O crime aconteceu em 31 de outubro de 2001, em Jardim Camburi, em Vitória.

Vanuza foi morta com dois tiros - um na cabeça e outro no ombro - quando saía de uma clínica de estética onde trabalhava. Ela tinha 28 anos. O Ministério Público Estadual acusa Gaudio de ter planejado o crime depois de descobrir uma traição e por interesse no valor do seguro de vida da companheira, que ele teria feito para ela pouco antes do crime, e do qual ele era o único beneficiário.

Fórum Criminal José Mathias de Almeida Netto, no Centro de Vitória
Fórum Criminal José Mathias de Almeida Netto, no Centro de Vitória. (Ricardo Medeiros)

A denúncia foi oferecida pelo MPES em 2007. Após ser aceita pela Justiça, vários recursos foram interpostos, o que contribuiu para que se levasse mais de 20 anos para que o julgamento do crime fosse marcado.

Sete jurados compõem o júri popular que vai decidir se o empresário é culpado ou inocente. Gaudio é acusado de homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e mediante dissimulação que dificulte a defesa da vítima. O julgamento acontece no Fórum Criminal de Vitória.

O CRIME

A esteticista foi assassinada por volta das 19h40 do dia 31 de outubro de 2001, quando saía do trabalho. De acordo com a denúncia, minutos antes do crime ela tinha recebido um convite do companheiro para ir até um bar como uma forma de monitorar os passos dela e "despistar" o crime.

Gaudio estava com um sócio na Praia do Canto, de onde, segundo o MPES, ele repassava informações para o pistoleiro que teria sido contratado para atirar. 

Na época, A Gazeta publicou uma reportagem sobre o crime. No texto, foi relatado que Vanuza estava na calçada conversando com uma cliente, "quando um homem de cabelos grisalhos se aproximou e disparou cinco tiros contra a vítima". Ela foi atingida por dois disparos, ambos à queima-roupa, e morreu no local.

Após 20 anos, empresário acusado de matar a mulher em Vitória vai a júri popular

Segundo a reportagem, Gaudio só soube da morte da mulher ao chegar na clínica. Ele teria recebido uma ligação de uma funcionária dizendo que Vanuza tinha passado mal. No local do crime, testemunhas disseram que ele se desesperou ao ver o corpo da mulher e gritou: “Meu Deus, eu não acredito que isso aconteceu. Mataram minha mulher”.

Na ocasião, o empresário afirmou não saber o que teria motivado o crime. Ele prestou depoimento à polícia e foi liberado. Chegou-se a levantar a possibilidade de latrocínio (roubo seguido de morte), o que foi posteriormente descartado. Vanuza morreu ao lado da bolsa e nenhum objeto foi levado.

CIÚMES E PERSEGUIÇÃO

Vanuza e Gaudio moravam juntos por dois anos mas, segundo testemunhas, viviam um relacionamento turbulento e com brigas. Dias depois do crime, a família da esteticista contou para a reportagem de A Gazeta que o empresário era ciumento e teria até contratado um detetive para investigar a vida da mulher (confira abaixo).

Reportagem publicada por A Gazeta em 2 de novembro de 2001
Reportagem publicada por A Gazeta em 2 de novembro de 2001. (Arquivo A Gazeta)

Ainda, de acordo com o relato de testemunhas, ele também teria grampeado o telefone de Vanuza e descoberto traições. Esse teria sido o principal motivo para planejar a morte da mulher.

SEGURO DE VIDA

Outro fato que teria motivado o crime, segundo o Ministério Público, foi um benefício financeiro que Gaudio recebeu pela morte da mulher, por meio de um seguro. Em 2001, esse valor era de R$ 150 mil. Hoje, se colocado em poupança desde a ocasião, chegaria a cerca de R$ 1 milhão. 

De acordo com a denúncia, o seguro de vida em nome de Vanuza foi realizado pelo próprio empresário no dia 04/09/2001, quase dois meses antes do crime. Gaudio era o beneficiário na cota de 100% do valor. Na época, ele estaria passando por dificuldades financeiras.

ARMA DO CRIME

Um exame de balística revelou que a arma utilizada no crime pertencia a um sócio de Gaudio, com quem ele tinha um posto de gasolina. Segundo a denúncia, o local era um ponto de encontro de pistoleiros.

O sócio de Gaudio, inclusive, era apontado como um "agiota de pistolagem" e teria intermediado a contratação de uma pessoa para matar Vanuza. Ele foi morto em 2003, dois anos após a morte e Vanuza e um mês depois da arma ter sido apreendida. Segundo a investigação, o objeto teria sido utilizado em diversos outros crimes. 

O QUE DIZ A DEFESA

Procurada pela reportagem, a defesa de Sergio Gaudio, representada pelo advogado Jorge Benedito Florentino de Britto, informou que o empresário não teve participação nenhuma no crime. "Não encontramos nada que possa incriminá-lo, foi tudo uma fabricação para acusá-lo do crime", afirmou Benedito.

De acordo com ele, a contratação de um detetive foi feita porque Gaudio queria saber se a companheira era garota de programa. Benedito também afirmou que a contratação do seguro foi feita porque um outro seguro que o casal tinha foi desfeito na época.

"Ele era empregado de uma empresa de combustível e tinha um seguro. Quando ele foi morar com a Vanuza, ele colocou ela nesse seguro dele, isso em 1999, 2000. Ele saiu dessa empresa e foi montar a própria empresa e, então, fez um novo seguro, incluindo ela", afirmou.  "Toda essa investigação foi direcionada para que se acredita-se que ele mandou matar. Eles tinha um relacionamento normal, sem conflitos", finalizou.

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