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Taxação dos EUA sobre aço e alumínio pode afetar geração de emprego no ES

Taxação dos EUA sobre aço e alumínio pode afetar geração de emprego no ES

Presidente Donald Trump assinou, nesta segunda (10), decreto que impõe taxação de 25% sobre produtos siderúrgicos importados pelos Estados Unidos

Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 17:20- Atualizado há 2 meses

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Bobina de aço, siderurgia
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos. (ArcelorMittal/Divulgação)

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, assinou, nesta segunda-feira (10), um decreto que impõe tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio para o país norte-americano a partir de 4 de março. A medida liga um sinal de alerta no Brasil, que é o segundo maior exportador de aço para os EUA, e pode causar desdobramentos também no Espírito Santo, onde fica uma das unidades da ArcelorMittal, considerada uma das maiores siderúrgicas do mundo. Uma das consequências da taxação, na opinião de economistas ouvidos por A Gazeta, pode ser a queda na geração de empregos no Estado.

De janeiro a dezembro do ano passado, o Brasil enviou 4,49 milhões de toneladas líquidas de aço para os Estados Unidos, ficando atrás apenas do Canadá, que exportou 6,57 milhões de toneladas líquidas para a indústria norte-americana, conforme relatório divulgado pelo Instituto Americano de Ferro e Aço. Dados levantados pelo economista e consultor do Tesouro Estadual Eduardo Araujo mostram que, em termos absolutos, o Brasil produz cerca de 36,2 milhões de toneladas de aço por ano, representando aproximadamente 2% da produção mundial

No cenário nacional, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentraram o maior volume de produção siderúrgica. Embora o Espírito Santo não esteja entre os maiores polos de produção, sua importância reside no papel estratégico na logística e no escoamento dos produtos. “O Estado atua como elo vital na cadeia de suprimentos, contribuindo para que os insumos produzidos no país alcancem mercados internacionais com eficiência”, destaca Araujo.

O economista Ricardo Paixão avalia que, com a possível taxação do aço por parte dos EUA, o Brasil pode ter uma redução no valor exportado para o exterior até que consiga se realocar no mercado mundial, o que pode impactar a geração de empregos no Estado.

“Uma medida como essa deixa os produtores em situação complicada. O Brasil exporta para os Estados Unidos algo em torno de US$ 6 bilhões. Nesse primeiro momento, o país vai ter uma redução nesses ganhos. Acredito que, posteriormente, a indústria brasileira vai conseguir realocar a produção para outros países. Mas, no curto prazo, a tendência é haver perda nas vendas. Se essa tarifa elevada se perpetuar por três, quatro ou seis meses, aí deverão ocorrer impactos mais severos, como perda de postos de trabalho, até que os gestores façam o ajuste logístico de negociar o aço para outros países", analisa Ricardo Paixão.

Na mesma linha, Eduardo Araujo, entende que as tarifas norte-americanas vão afetar a cadeia produtiva.

“A indústria de transformação, que engloba a metalurgia, representa aproximadamente 12% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado, o que implica que qualquer redução na competitividade desse setor pode ter efeitos multiplicadores significativos em toda a economia local. Ademais, o Espírito Santo possui uma estrutura econômica relativamente menos diversificada, o que o torna mais vulnerável a choques setoriais. Caso haja retaliações comerciais e uma redução das exportações para os Estados Unidos, a necessidade de buscar mercados alternativos poderá demorar a se consolidar, afetando diretamente a geração de empregos e o dinamismo industrial”, avalia.

O analista de mercado e CEO da iHub Investimentos, Paulo Cunha, também entende que o mercado de trabalho no Estado deve ser negativamente afetado.

“A taxação do aço pelos EUA representa um grande desafio para a indústria siderúrgica nacional, reduzindo a competitividade das exportações e impactando diretamente empresas como a ArcelorMittal, que já vinha sofrendo com a desaceleração do mercado global. O impacto pode ser sentido na geração de empregos e na economia local, especialmente no Espírito Santo, onde a siderurgia tem forte presença econômica. Além disso, essa medida pode acabar favorecendo a China, que pode ganhar mais espaço no mercado americano”, avalia Paulo Cunha.

Motivos da taxação

Ricardo Paixão avalia que a taxação proposta por Trump tem por objetivo criar um clima de tensão no mercado para depois negociar com os países condições mais vantajosas para os Estados Unidos.

“Os Estados Unidos produzem 5% do aço mundial. Acabam importando muito. Trump quer sobretaxar essa importação, só que ele não tem produção para atender o mercado interno. Assim, é uma estratégia para ele fazer um rearranjo em acordos internacionais de compra de aço em condições melhores para os Estados Unidos. Quando anuncia isso, faz com que o mercado se desestabilize. Depois, ele vai se sentar em uma mesa de acordo para impor condições mais vantajosas para o país dele”, observa o economista.

Eduardo Araujo, por sua vez, entende que a medida tem a dupla finalidade de proteger a indústria norte-americana e pressionar parceiros comerciais.

“Do ponto de vista político-econômico, uma das justificativas é que o custo de produção nos EUA é relativamente elevado, em parte devido a questões trabalhistas, ambientais e de infraestrutura, o que torna os insumos importados mais atrativos e, consequentemente, ‘desleais’ para os produtores locais. Esse cenário cria um argumento para que, ao elevar artificialmente os preços dos insumos estrangeiros, os produtores americanos sejam incentivados a produzir internamente, gerando um reforço à base política local que defende a preservação de empregos e a soberania econômica. No entanto, a estratégia é amplamente criticada pela teoria econômica clássica e por abordagens modernas como a teoria de jogos", destaca.

“Tradicionalmente, os economistas argumentam que, segundo o princípio da vantagem comparativa, os países devem se especializar naquilo em que são mais eficientes – e impor tarifas distorce esse equilíbrio, elevando custos e prejudicando o bem-estar dos consumidores. Do ponto de vista da teoria dos jogos, essa política pode ser vista como uma estratégia de 'jogo de soma zero', que, embora tente garantir ganhos para um grupo (os produtores domésticos), gera retaliações de parceiros comerciais e eleva os custos para toda a economia, criando um ciclo de medidas protecionistas que prejudicam o comércio global e a eficiência produtiva”, completa Araujo.

Errata Atualização
10 de fevereiro de 2025 às 22:05

Esta reportagem foi atualizada com a confirmação da assinatura do decreto por Donald Trump que impõe taxação de 25% sobre aço e alumínio importados pelos Estados Unidos.

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