
O plano de implantação de um Laminador de Tiras a Frio (LTF) e de uma linha de galvanizados na ArcelorMittal Tubarão, na Serra, está a pleno vapor. Um investimento que ficará entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4 bilhões, com início de obra programado para o primeiro semestre de 2026 e, de operação, para o primeiro semestre de 2029. Apesar de o cronograma estar andando, o martelo final ainda não está batido. A decisão final deve se dar até o final de 2025, até lá, os executivos da companhia acompanharão de muito perto dois temas fundamentais: renovação (e até ampliação) das medidas do governo federal para barrar a inundação do mercado brasileiro com aço estrangeiro e as ações antidumping (medidas para a exportação de produtos a preços inferiores aos praticados no mercado interno do país exportador) por parte do Brasil.
"Estamos vivendo uma situação, no mercado mundial e também brasileiro de aço, que não é saudável. Está havendo um desequilíbrio. A quantidade de aço importado pelo Brasil, se comparado com o que era praticado na década passada, quase dobrou. É um movimento que começou há pouco mais de dois anos. Outros países, diante do cenário posto, estão tomando ações para protegerem a indústria local. Não se trata de protecionismo puro e simples, as pessoas precisam entender que está havendo um desequilíbrio no mercado mundial de aço, isso pode trazer graves consequências para a indústria brasileira, como a suspensão de investimentos", explicou Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Brasil e da ArcelorMittal Aços Planos para a América Latina, em visita à Rede Gazeta.
"Os trabalhos para a implantação das novas instalações de Tubarão estão andando normalmente, estamos inclusive tratando do licenciamento ambiental, mas precisamos de viabilidade econômica. A Arcelor quer fazer o investimento, o senhor Mittal (Lakshmi Mittal, acionista majoritário do conglomerado) me pediu toda a atenção na defesa comercial que apresentaremos ao conselho. Ele quer fazer, acredita no potencial do país, mas há riscos no horizonte. Não trabalhamos, por exemplo, com a possibilidade de o governo não renovar a sobretaxa em cima do aço importado, imposta em maio do ano passado e que vence no dia 31 de maio. Esta é uma condição básica e que precisa, inclusive, de mais força. Além disso, há uma investigação em curso sobre dumping, que está para ser concluída, esperamos isso para o segundo semestre. Confirmada a prática, vai ampliar ainda mais a taxação em cima do aço de determinados países. A renovação da sobretaxa é o mínimo que esperamos, caso contrário complica (a decisão de investimentos inclusive para o Espírito Santo). Bom frisar que não é o suficiente, precisamos conversar melhor sobre o tema, mas já seria uma sinalização positiva do governo federal".
Muito se fala na importação de aço como um todo, mas, olhando para o detalhe, a importação de laminados a frio e de galvanizados, justamente o que a Arcelor pretende passar a fabricar em Tubarão, cresceu muito nos últimos dois anos. Muito embora a companhia confie no crescimento do PIB brasileiro no longo prazo e queira fugir da onda de protecionismo que tem tomado conta do mundo (por isso observa o mercado interno), a competição é difícil. A China tem uma capacidade siderúrgica instalada de mais de 1 bilhão de toneladas por ano (a do Brasil é de 34 milhões de toneladas). Isso foi implantado ao longo das últimas décadas, para dar conta do forte crescimento do país. Nos últimos anos, com uma expansão mais lenta da economia e a crise do mercado imobiliário local, está sobrando aço por lá. Para que as fábricas não parem, o produto é vendido, para fora da China, a preços muito baixos, gerando desequilíbrios em toda cadeia mundial. Em 2023, a China exportou 93 milhões de toneladas de aço, em 2024, foram 110 milhões. A guerra tarifária entre China e Estados Unidos, muito embora tenha sido freada nesta segunda-feira (12), tornam o cenário ainda mais nebuloso.
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