Publicado em 26 de outubro de 2020 às 19:00
Uma série de mudanças em normas trabalhistas está sendo tocada pelo governo federal para que ocorra a desburocratização de processos para facilitar a contratação e a manutenção de dados dos empregados.>
O Ministério da Economia deu o primeiro passo para isso com o lançamento, na última quinta-feira (23), do programa Descomplica Trabalhista, com a promessa de modernizar as regras, trazer mais produtividade às empresas e melhorar o ambiente de negócios. Uma das mudanças foi a simplificação do eSocial, programa em que são prestadas informações ao governo por empregadores.>
As medidas são consideradas um avanço pelos especialistas, mas ainda são pequenas diante das necessidades do mundo empresarial, que cobra do governo federal a construção de um marco legal do trabalho, com novas flexibilizações. Enquanto isso não ocorre, os empregadores apoiam a simplificação das rotinas que precisam desenvolver nos Departamentos de Pessoal.>
Apesar de ainda não ter divulgado todas as iniciativas que passarão por alterações de normas dentro do Descomplica, já se sabe que o novo eSocial tem um número de layouts dentro do sistema 40% menor do que o anterior. Ou seja, a quantidade de campos para preenchimento foi reduzida. Com as atualizações, o tempo de processamento das folhas de pagamento dos empregados caiu em 40% de acordo com o governo federal, o que deverá reduzir custos para as empresas.>
>
Além das mudanças no eSocial (veja a lista no final da matéria), também ocorreu revisão de uma norma de segurança do trabalho para o setor agrícola (NR31) e a revogação de 48 portarias da área consideradas obsoletas, em sua maioria normas internas da Secretaria do Trabalho, do Ministério da Economia, ou de órgãos ligados à pasta >
Segundo o ministério, as regras revogadas não têm impacto direto para o trabalhador. São procedimentos internos como recebimento e despacho de documentos e autorização para delegar competência aos Superintendentes Regionais do Trabalho e Emprego, por exemplo, para celebrarem termos de cooperação técnica para a promoção e desenvolvimento de ações conjuntas no campo da saúde dos servidores. >
Elas fazem parte das 2 mil normas que estão passando por revisão do Ministério da Economia, com objetivo de desburocratizar a tramitação interna de processos.>
Apesar de o governo não ter divulgado tudo que será extinto ou adaptado, a medida foi bem recebida pelo setor empresarial. >
Para o especialista em relações trabalhistas da área de defesa de interesses da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marco Antonio Redinz, as mudanças serão muito bem-vindas pelas empresas. >
Ele aponta que há uma excessiva quantidade de normas trabalhistas, onde muitas realmente necessitam serem revistas e modernizadas, para que possam se adequar às mudanças ocorridas nas últimas décadas no campo das relações do trabalho. >
Um dos pontos apresentados diz respeito à nova Norma Regulamentadora nº 31 (NR 31), que fala sobre a segurança do trabalho dos profissionais do agronegócio. O texto que está em vigor é de 2005 e, segundo o especialista, sempre gerou muitas dúvidas em relação à aplicação de normas urbanas no meio rural.>
Outro problema é que a redação não leva em consideração as peculiaridades do setor, que envolve a agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura. A nova norma pretende exatamente resolver esses problemas, trazendo mais segurança jurídica para os produtores. >
Outra questão muito importante, e que já vinha sendo reivindicada pelo setor produtivo, é a simplificação do eSocial, com a eliminação de campos do formulário que, além de desnecessários, tomavam grande tempo das instituições no seu preenchimento. Com certeza, todas essas mudanças serão bem recebidas pelas empresas e também pelo mercado de trabalho, pois visam a facilitar a vida de trabalhadores e empregadores brasileiros, principalmente no momento presente, onde a economia necessita de novos impulsos para se recuperar dos efeitos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus, destaca Redinz. >
O advogado trabalhista e professor da UVV Christiano Menegatti também achou válida a revisão de normas, que segundo ele já estavam ultrapassadas, e a redução das burocracias presentes no preenchimento do eSocial. >
Algumas normas são de 1978 e, desde então, houve uma série de implementos. As regras precisam passar por constante revisão para que sejam adequadas à realidade. A modificação de normas, como a NR31, e a simplificação do eSocial são necessárias e válidas para eliminar a burocratização, afirma Menegatti. >
Ele ainda defende uma modernização da Consolidação das Lei Trabalhistas (CLT), que é de 1943. No entanto, o advogado avalia que essas mudanças divulgadas pelo governo foram sutis e que ainda precisam de complementação. >
Passou da hora da edição de um novo código de trabalho, que está em descompasso da realidade. A burocratização dificulta a produção das empresas, a criação de empregos, entre outros fatores. Modernizar significa abrir novos postos de trabalho, ampliar investimentos e ganhos das empresas, resume. >
O advogado Guilherme Machado Costa lembra que, há tempo, o setor produtivo vem reivindicando mudanças no preenchimento e lançamento das informações no eSocial, que muitos o consideravam engessado. >
O sistema contava com uma burocracia exacerbada que precisava ser abolida para tornar viável ao cidadão comum e até mesmo ao próprio setor contábil, que muitas vezes precisa contratar vários empregados para municiar o eSocial de uma gama de informações desnecessárias", afirma. >
Com a nova regra no cadastro, o número do CPF passará a ser a única identificação do trabalhador no eSocial, não exigindo o preenchimento de outros números que, muitas vezes, nem mesmo o trabalhador detinha com facilidade, como o PIS e Pasep. >
O objetivo principal do programa é unificar a simplificação das informações no eSocial com a retomada econômica no próximo ano, auxiliando no alavancamento dos grandes e pequenos negócios, resume Costa. >
Para o advogado Victor Passos Costa, como ainda não foram detalhadas todas as portarias que serão revogadas, ainda é cedo para avaliar que mudanças serão essas e como vai impactar o trabalhador. "Por enquanto, não houve alteração nas leis trabalhistas, que para isso precisa de aprovação de uma lei específica, complementa.>
Na opinião do advogado especializado em Direito Trabalhista e membro da Comissão do Direito de Trabalhador da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Espírito Santo (OAB- ES), Wiler Coelho, é temerária a revogação de tantas normas de regulamentação trabalhista sem um estudo e uma discussão ampliada com todos os setores e, principalmente, com o trabalhador ou o setor que o representa, além de representação dos empresários.>
É sempre temerária a exclusão de direitos sem a intervenção de todos os autores envolvidos. Então, vai ter que ser analisado detalhadamente, destaca. >
De acordo com o Ministério da Economia, o número do CPF será a única identificação do trabalhador no eSocial. Com isso, o empregador não precisará mais informar outros números cadastrais como PIS e Pasep.>
Informações que já constam nas bases de dados do governo federal também foram excluídas. Dentre elas estão o Registro Geral (RG) e a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). >
Uma parceria entre o eSocial do Ministério da Economia e as juntas comerciais permitirá o registro de empregados no momento de inscrição da empresa.>
Os módulos do Empregador Doméstico e do Microempreendedor Individual (MEI) sofreram alteração da linguagem e passaram a contar com um assistente virtual e um campo automático do 13º salário.>
Segundo o Ministério da Economia, no novo eSocial as regras de validação não impedem mais a transmissão de dados e os impedimentos foram substituídos por avisos, evitando, assim, a cobrança de multas por atraso na entrega de informações. As exigências que não estavam previstas em lei também foram retiradas.>
O novo eSocial tem um número de layouts dentro do sistema 40% menor do que o sistema anterior. Com as atualizações, o tempo de processamento das folhas de pagamento dos empregados caiu em 40% de acordo com o governo federal. >
O ministro da Economia, Paulo Guedes, assinou, na última quinta-feira (22), a nova Norma Regulamentadora Número 31 (NR31) está relacionada às atividades e operações trabalhistas dos setores de agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura. >
De acordo com Guedes, houve o fim da exigência de aplicação de normas urbanas no meio rural sem levar em conta as peculiaridades do setor. Segundo o Ministério da Economia, com a nova NR 31 o setor do agro no país vai economizar cerca de R$ 4 bilhões por ano. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta