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Made in ES: capixabismo vira moda sustentável do consumidor

Made in ES: capixabismo vira moda sustentável do consumidor

Movimento de consumidores que têm dado preferência a produtos locais passou a crescer e atinge itens do agro ao setor de vestuário

Publicado em 3 de abril de 2022 às 09:51

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Patrick Rocha gosta de valorizar as produções locais na hora de comprar
Patrick Rocha e Tatiana Felicio Campos gostam de valorizar as produções locais na hora de comprar. (Acervo Pessoal)

Um movimento que começa ganhar força entre os consumidores no Espírito Santo têm um grande poder de transformar a economia local.

São os capixabas que, na hora de comprar, dão preferência aos produtos fabricados e cultivados no Estado. A atitude, além de ser responsável pela ampliação dos negócios, é capaz de gerar emprego, renda e a confiança de quem aposta no empreendedorismo.

Os produtos são os mais diversos, como frutas, chocolate, roupas, vinhos, laticínios, carnes, acessórios ou mesmo móveis, e são produzidos em municípios de Norte a Sul do Estado.

A enfermeira Tatiana Felicio Campos é uma dessas consumidoras que valoriza o que é da terra. Ela mora em Linhares, no Norte do Estado, e busca escolher aqueles itens que estejam alinhados com qualidade e preço.

Produtos agrícolas como morango, cogumelo e geleias são adquiridos em Pedra Azul, quando a profissional visita a irmã, que mora na Região Serrana.

“Os produtos têm preço bom e qualidade. No caso do morango, o fruto é maior, mais doce e muito fresco. Até a minha prima que mora em Linhares costuma comprar de produtores de lá. Há um restaurante na Região Serrana que trabalha com artigos artesanais como cachaça e licor, queijos e charque e que entrega tudo na minha cidade”, comenta.

Além de produtos agrícolas, a enfermeira também gosta de comprar roupas de marcas capixabas. Ela comenta que empresas de Linhares e Colatina, por exemplo, fabricam peças com bons acabamentos, qualidade e preço.

“Gosto de privilegiar as coisas locais. Acredito que esta iniciativa seja uma maneira de valorizar o que é produzido aqui. Somos um Estado rico de talentos, mas ainda são pouco aproveitados. Essa é uma forma de fazer a economia girar”, acredita Tatiana.

Convento da Penha, em Vila Velha
Convento da Penha, em Vila Velha. (Ricardo Medeiros)

O produtor de eventos e social mídia Patrick Rocha é um defensor de tudo que é produzido e fabricado por aqui. Ele ressalta que desde o primeiro ciclo da pandemia tem trabalhado na divulgação de produtos locais.

“Desenvolvi um perfil no Instagram com esse conteúdo e um programa de rádio, numa rádio comunitária, em que sempre valorizamos os empreendedores da terra, no meu caso Vila Velha. O capixaba é um empreendedor caprichoso, tudo o que se propõe a fazer faz bem feito, é só olhar nossa panela de barro. Gosto muito desse capricho e qualidade”, destaca.

Ele se diz consumidor de todo tipo de produto, seja alimentício, artesanato e moda. Rocha entende que preferir itens capixabas aquece a economia a partir do universo local, além de trazer melhorias financeiras e sociais para todos do entorno.

“Sou defensor do consumo consciente e a valorização do comércio local é um dos pilares desse tipo de consumo. Eu gosto muito das indicações de amigos. Tenho minhas preferências, mas estou sempre experimentando coisas novas. Para o vestuário sou fiel aos produtos feitos com bons tecidos, bom caimento e boa durabilidade e o produto capixaba não fica devendo nada ao mercado internacional”, aponta.

A coordenadora de conteúdo da CDL Jovem e gestora do coworking Makers, Juliana Silveira, acredita ser importante a valorização do empreendedorismo local. Como consumidora, ela busca e encontra produtos de altíssima qualidade e com bom custo benefício. E foi justamente o que Juliana fez durante a construção de sua empresa, dando preferência para encontrar fornecedores e prestadores de serviços capixabas, além de comprar todos os materiais e instrumentos no Estado.

“Antes o capixaba tinha um costume chato de só valorizar o que vinha de fora. Fico feliz que estamos conseguindo colocar o empreendedor local no patamar que ele merece, pois somos um Estado que oferece serviços e produtos de vários segmentos. Até porque a nossa essência é conectar as pessoas e a gente quer mesmo ver isso acontecendo, os capixabas realizando e construindo juntos”, diz.

A empresária Tainah Souza Farias tem uma loja de moda fitness e praia e aposta no consumo sustentável. Para ela, valorizar o produtor local é uma alternativa que ajuda os pequenos agricultores e comerciantes a crescerem. Dentre as preferências dela estão frutas, verduras, legumes, queijos, roupa, sapato, entre outros itens.

“Quando compramos algo, estamos adquirindo mais do que um produto, são as ideias de alguém. Busco escolher empresas que tenham consciência ambiental, que visem ao sustentável. Gosto da ideia de que sejam produções menores e personalizadas. Por isso, incentivo pessoas a fazerem o mesmo. Acredito que a gente vive numa corrente e cada um é um elo importante. Essa troca é fundamental para fazer um negócio crescer”, salienta.

O empresário do ramo moveleiro Joanir Smarçaro também opta por produtos fabricados por capixabas e privilegia o comércio local. Para ele, o Estado tem bons produtos gastronômicos, utensílios domésticos, vestuário, prestadores de serviços, entre outros, tudo com uma rede de distribuição (comércio) muito forte.

“Essa valorização interfere diretamente em nossa economia, por meio da geração de empregos, do crescimento da indústria, comércio e serviços locais e o fortalecimento do Estado por meio dos impostos. Já existe uma maior procura em nossas lojas por ser uma empresa local, mas ainda há espaço para uma maior conscientização do consumidor”, observa o empresário.

O doutor em Administração de empresas e professor da Fucape Bruno Félix avalia que, tradicionalmente, consumidores se baseiam mais na ideia de utilitarismo para decidirem o que consumir.

“No entanto, com o maior desenvolvimento dos mercados, regiões mais específicas, como a de um Estado, já conseguem produzir itens a um custo benefício muito similar ao dos grandes centros. E aí entra em cena o regionalismo, fenômeno de consumo que faz com que alguns indivíduos optem por consumir produtos locais com o objetivo de fortalecer a economia local e gerar empregos e renda para famílias da região. Esse fenômeno é comum em regiões com culturas bairristas, como nos Estados do Rio Grande do Sul e Pernambuco, e hoje também se mostra presente no consumo de famílias capixabas”, avalia Félix.

O professor lembra ainda que tal hábito só se torna viável dado o desenvolvimento do empreendedorismo local, pois quando a diferença de qualidade ou preço em relação a marcas de outras regiões é grande, o consumidor não adere ao regionalismo.

“Em vez de se direcionar para os grandes centros, esse padrão de consumo facilita que o dinheiro circule entre os indivíduos de uma mesma região, o que leva a maiores índices de renda e emprego”, ressalta.

Na opinião do economista Antônio Marcos Machado, esse movimento de consumo local tem muito a ver com o conceito de cidades inteligentes, com a criação de uma identidade do município ou da região, muito comum em países como Suíça e Itália. Isso quer dizer, segundo ele, que duas ou três cidades podem se unir para dividir custos e desafios como segurança e saneamento, para ajudar a preservar os pontos turísticos e produtos artesanais, formando um pequeno núcleo.

“É uma coisa muito bacana. Um bom exemplo é Venda Nova do Imigrante com o agroturismo. É preciso que haja uma conscientização cultural e comportamental do consumidor, pois a tentação é grande na internet. E não é só responsabilidade do governo, é também das associações comerciais, clubes de lojistas, entre outros. Todos eles podem fazer este trabalho.”

Para comprar o que é local, é necessário ter uma produção compatível com a demanda. Neste quesito, prefeituras locais e o governo do Estado podem dar incentivos para quem produz em determinadas regiões. Isso vale para flores, frutas, legumes, carnes, roupas, entre outros.

Aspas de citação

Cada município tem uma sua características que pode ser usada. Um exemplo são móveis de Linhares ou confecções de Colatina e Vila Velha

Antônio Marcos Machado
Economista
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Já o economista Ricardo Aquilar acredita que este movimento funciona como um consumo solidário porque reúne um conjunto de atividades econômicas que ajudam a potencializar a circulação de dinheiro na região, gera empregos diretos e indiretos, crédito, serviços, entre outros.

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“Até festas regionais como a da Polenta ou do Morango ajudam a fomentar a cultura e a necessidade de mão-de-obra. Há todo um movimento de valorização de nosso Estado por meio de um marketing cultural local. Esse conjunto de coisas faz com que o empresário da região se sinta seguro e confiante para continuar investindo, produzindo e abrindo novos postos de trabalho. Quanto mais se consome, mais se produz e mais a economia gira. Práticas bem organizadas incentivam essa produção do bem”, destaca.

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