Quatro aposentados de Vitória, Serra e Guarapari tiveram os primeiros pagamentos do benefício sacados por golpistas que acessaram os dados das vítimas para retirar o cartão das contas bancárias que permitem movimentações no extrato. Os casos aconteceram nas instituições Santander e Itaú, que foram selecionadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ao todo, foram roubados mais de R$ 44,2 mil.
Três pessoas, clientes do banco Santander, em Vitória e Guarapari, optaram por não sacar o benefício no primeiro mês por discordarem do valor recebido e desejarem rever o tempo de contribuição junto à Previdência. Segundo o INSS, se os valores não forem sacados em até 60 dias após a data marcada para o pagamento, são devolvidos pelo banco à instituição e o benefício é bloqueado. Entretanto, ao tentarem requisitar a quantia, as vítimas se depararam com as contas saqueadas.
O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Aposentados, Pensionistas e Idosos do Espírito Santo (Sintapi), Gerson Maia de Carvalho, ressaltou que, para ser retirado o primeiro pagamento da previdência, é necessário que o titular da conta compareça à instituição financeira escolhida pelo INSS, com os documentos de identificação para a retirada do cartão da conta. Entretanto, nenhum dos afetados compareceu ao banco para fazer essa retirada ou teve acesso à conta de outra forma, antes do ocorrido.
“Para liberar esse pagamento, a pessoa deve ir até o banco que o INSS indicou e apresentar a sua carteira de identidade e CPF para a retirada do cartão bancário. As vítimas nunca chegaram a receber esse cartão, ou seja, houve uma fraude, e o banco entregou o cartão que dá acesso às contas para os suspeitos, que logo passaram no caixa e sacaram os pagamentos. Essas situações ocorrem por falhas nos sistemas bancários e vazamentos de informações do INSS", disse Gerson, que é membro titular do Conselho da Previdência Nacional.
Segundo o boletim de ocorrência aberto pelas vítimas, os valores foram sacados em agências diferentes das indicadas pelo instituto previdenciário, uma delas localizada em São Paulo. Foram sacados, indevidamente, R$ 11,6 mil e R$ 8 mil das vítimas em Guarapari e R$ 4 mil do aposentado em Vitória.
Já no caso que envolve um cliente do banco Itaú na Serra, a vítima teve R$ 24,6 mil retirados da sua conta enquanto estava na Itália. Quando veio ao Brasil para receber seu cartão e sacar pela primeira vez o benefício, o valor já havia sido roubado.
Em decisão judicial, a 1ª Vara Federal de Serra concluiu que houve fraude nas transações bancárias realizadas na conta, expondo "a fragilidade dos sistemas de segurança virtuais utilizados pelo Itaú Unibanco S.A e a vulnerabilidade a que são expostos os clientes da instituição bancária". Foi determinado que o banco deveria restituir os valores e indenizar a vítima por danos morais.
Esse número representa um aumento de 6,5% em comparação ao mesmo período de 2023, quando foram contabilizados 38.780. Somente no penúltimo mês deste ano foram 2.903 casos, de acordo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp).
O Sindicato dos Aposentados, que representam as vítimas, afirmou que os estelionatários conseguem falsificar documentos dos aposentados com os vazamentos de informações da Dataprev – órgão que cuida dos documentos virtuais do INSS –, o que permite que golpistas consigam burlar e receber os benefícios em muitos casos.
A Polícia Civil informou que os casos seguem sob investigação da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic). Até o momento, nenhum suspeito foi detido. A população pode denunciar através do Disque-denúncia (181) qualquer tipo de irregularidade, ilegalidade ou repassar informações que ajudem as polícias na elucidação de delitos ou infrações. A ligação é gratuita e pode ser realizada em qualquer município do Estado.
A reportagem de A Gazeta questionou o Instituto Nacional do Seguro Social sobre os procedimentos de proteção de dados dos beneficiais, que informou que "o INSS tem mantido constante contato com a Dataprev e, principalmente, com a Coordenação-Geral de Inteligência Previdenciária – COINP da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, com o objetivo de identificar as fontes e possíveis falhas nos fluxos internos e externos".
O instituto previdenciário ainda observou que já recebeu denúncias e reclamações pelos canais de atendimento sobre a possível existência de mailings — listas com nome, CPF, endereço, telefone, número e valor do benefício — com cadastros completos de beneficiários, produzidos ou comprados por empresas de softwares maliciosos, num mercado clandestino de dados. Entretanto, destacou que "tais denúncias são sempre encaminhadas à Coordenação de Combate a Fraudes do INSS e à Polícia Federal, posto que aferição da origem de suposto 'vazamento de dados' deverá ser realizada por meio de uma investigação policial".
A reportagem também questionou o Santander e o Itaú sobre os sistemas de segurança e se, nesses casos, foram exigidos e verificados os documentos de identificação antes da entrega dos cartões bancários. Além disso, A Gazeta buscou saber se houve algum vazamento de dados que poderia permitir que os suspeitos tivessem acesso às informações dos beneficiários e dos valores recebidos e como as instituições vão proceder em relação às vítimas. Veja abaixo a respostas dos bancos na íntegra.
“O Santander possui sistemas eficazes que preservam o sigilo dos dados e garantem a segurança das operações efetuadas pelos seus clientes. Nos casos de suspeita de fraude, golpe, roubo ou furto de cartão ou dispositivo móvel, o Banco recomenda que os clientes entrem, imediatamente, em contato com a Central de Atendimento, SAC ou Ouvidoria e relatem o ocorrido para que tudo seja apurado internamente".
“O Itaú Unibanco informa que não identificou a suposta ocorrência relatada pela reportagem. O banco esclarece, adicionalmente, que o procedimento padrão para liberação do pagamento do INSS é a apresentação da carta de concessão do benefício fornecida pelo órgão e um documento de identificação para confirmar a pessoa que está solicitando a entrega do cartão. O banco reforça, ainda, que não houve qualquer tipo de vazamento de dados, inclusive porque a carta de concessão do benefício é gerada pelo órgão responsável, e não pelo Itaú.”
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