Publicado em 15 de abril de 2020 às 13:19
Em meio à incerteza na economia devido à crise agravada pelo coronavírus, Estados e municípios cobram do governo federal medidas de socorro. Para tentar solucionar a queda da arrecadação, um projeto aprovado pela Câmara dos Deputados Federais prevê o repasse de R$ 88 bilhões aos entes federativos. >
Especialistas têm criticado o modelo da proposta que não exige nenhuma contrapartida. Também analisam a falta de critérios mais claros sobre como o seguro-receita será aplicado.>
Se a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS, estadual) e do Imposto Sobre Serviços (ISS, municipal) cair 30%, como projetam os economistas, o custo da recomposição para os cofres federais seria superior a R$ 80 bilhões. >
O projeto aprovado na Câmara dos Deputados na última segunda-feira (13) prevê a recomposição, pelo governo federal, durante seis meses, das perdas de arrecadação de Estados e municípios em razão da crise do novo coronavírus. Mas para que entre em vigor precisa passar pelo Senado e depois pelo presidente da república. >
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O problema é que o governo federal já sinalizou que quer mudar o seu teor ainda no Senado e, caso não consiga, o presidente deve vetá-lo. Além disso, corre por fora outro projeto, esse de R$ 77,4 bilhões, mais enxuto e segundo especialistas, com uma pegadinha. >
De acordo com os economistas, o projeto que está no Senado prevê um impacto fiscal de R$ 89 bilhões à União. Desse valor, R$ 80 bilhões será para o chamado seguro receita, que será um repasse direto para entes da federação que tiveram queda na arrecadação de impostos. Os outros R$ 9,6 suspensão de dívida com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).>
Por outro lado, o projeto substitutivo apresentado nesta terça-feira (14) pela equipe econômica do governo federal, prevê: R$ 77,4 bilhões, sendo R$ 40 bilhões em transferência direta ( R$ 19 bilhões para Estados e R$ 21 bilhões para municípios), R$ 14,8 bilhões para a suspensão de dívidas com a Caixa e com o BNDES neste ano (R$ 10,6 bilhões dos EstadosR e R$ 4,2 bilhões dos municípios) e outros R$ 22,6 bilhões para a suspensão de dívidas com a União (R$ 20,6 bilhões dos Estados e R$ 2 bilhões dos municípios).>
Com a suspensão de dívidas com a União já havia sido anunciada para pelo menos doze Estados, incluindo o Espírito Santo, em março. Com isso, o governo federal inflou o número em R$ 22,6 bilhões, como apontou o secretário de Estado da Fazenda, Rogélio Pegoretti. "O que a União está propondo nesse novo projeto é reduzir o Seguro Receita pela metade", afirmou. >
Ele ainda aponta que "é muito cedo para comemorar", já que o executivo nacional vem fazendo uma série de movimentos para que o projeto que está no Senado não vá adiante. >
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (Democratas), criticou a proposta do governo e disse que o plano é insuficiente. Segundo ele, governadores e prefeitos "não sobrevivem três meses" com os recursos oferecidos pelo governo federal como resposta ao coronavírus.>
De acordo com Maia, o anúncio do governo para recompor as perdas das receitas de Estados e municípios com ICMS e ISS garantem R$ 22 bilhões a governadores e prefeitos, valor considerado insuficiente pelo presidente da Câmara.>
"O que o governo está propondo para estados e municípios, pela regra, pelo que está na planilha deles, são R$ 22 bilhões que não resolvem três meses dos Estados, muito menos a inclusão dos municípios, afirmou Maia.>
Maia e o secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, apontaram que o governo federal está reduzindo a proposta afirmando que, para a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, a proposta da Câmara é um cheque em branco que abre a porteira também para os Estados suspenderem pagamento de tributos e concederem renúncia fiscal.>
Enquanto o Executivo e o Legislativo batem cabeça para aprovar um projeto que ajude aos Estados e Municípios, os economistas apontam que o projeto que está em tramitação no Senado precisa ser aprimorado. Isso porque, segundo eles, a falta de informações de como será a distribuição dos recursos gera margem para dúvidas.>
A economista e professora da Fucape Arilda Teixeira aponta que as informações sobre os custos do projeto ainda são muito precárias e incompletas, o que dificulta uma posição mais clara em relação ao que está sendo decidido. "É preciso que na hora que for sancionado, o projeto tenha todas as regras de partilha e prazos definidos. O executivo foi muito lento para reagir e providenciar recursos que seriam necessários para conter os efeitos negativos da pandemia. A equipe econômica comeu mosca e demorou para reagir", aponta.>
O economista e consultor do Tesouro Estadual do Espírito Santo, Eduardo Araújo, aponta que o projeto foi aprovado sem conter nenhuma cláusula de contrapartida dos Estados e municípios. "De uma lado tem que tratar a situação emergencial da crise com a devida gravidade que tem, mas também deveria se ter algum esforço fiscal para que isso não represente um endividamento publico como um todo", comenta.>
Ainda de acordo com Araújo, as medidas do governo federal não podem existir como um motivo para o desforço para que Estados e municípios arrecadem tributos. Por isso, de acordo com ele, é também preciso em pensar na gestão financeira dos Estado e municípios, de forma que os entes federativos se comprometam também a usar de forma consciente os recursos liberados pela União. >
Araújo complementa que transferências para compensar a perdas de ICMS e ISS tendem a compensar mais as unidades federativas mais "ricas", que conseguem arrecadar mais tributos localmente. Já se fosse via Fundo de Participação dos Estados e dos Municípios (FPE e FPE), seria o oposto. "A adoção de um critério de repartição do recurso federal por população traria mais benefícios a capixabas. Do jeito que está sendo proposto, São Paulo acaba se beneficiando com uma parcela extra de recursos", aponta. >
O secretário de Estado da Fazenda, Rogelio Pegoretti, pondera que "de fato, o texto aprovado na Câmara dos Deputados Federais ainda carece de aperfeiçoamento para não gerar insegurança do gestor do Tesouro Nacional na hora de pagar e dos Estados para receber. Ainda é preciso saber o que acontecerá se esses R$ 80 milhões forem usados apenas no primeiro mês, por exemplo. O governo vai aportar mais dinheiro?", indaga.>
Com relação à cobrança por uma contrapartida por parte dos Estados, o secretário avalia que nesse momento o principal é que não sejam criados entraves para que o dinheiro chegue aos Estados. Mas, ele aponta que o Tribunal de Contas, por exemplo, deve sim acompanhar como o dinheiro está sendo empregado e que os governos precisam fazer sua parte reduzindo gastos não essenciais.>
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