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Consumo dos mais ricos vai guiar recuperação econômica em 2021, diz economista

Consumo dos mais ricos vai guiar recuperação econômica em 2021, diz economista

Com auxílio emergencial menor e desemprego em alta, renda das famílias mais pobres cai. Paralelamente, parcela mais rica da população se beneficia de investimentos e tende a voltar primeiro ao mercado de trabalho, analisa Ricardo Amorim

Publicado em 25 de maio de 2021 às 21:39

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Presidente da FIndes, Cris Samorini, apresentou evento com palestra com o economista Ricardo Amorim
Presidente da Findes, Cris Samorini, apresentou evento com palestra com o economista Ricardo Amorim. (Divulgação/Governo do ES)

Enquanto a recuperação da economia no ano passado foi liderada pelas classes mais baixas, principalmente por conta do auxílio emergencial, neste ano, são os mais ricos que devem guiar o crescimento econômico brasileiro. Essa é a análise do economista Ricardo Amorim, que esteve nesta terça-feira (25) em evento da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) em comemoração ao Dia da Indústria.

Amorim apontou que, sem a ajuda do governo aos mais pobres e com a possível retomada do emprego graças à vacinação, as famílias de classes mais altas devem gastar mais, promovendo avanço econômico em áreas diferentes daquelas observadas no ano passado. Em 2020, o setor de alimentos teve forte alta, por exemplo, já que essa foi a prioridade de quem recebeu o auxílio emergencial.

“Com o auxílio, os produtos que mais cresceram em consumo foram aqueles voltados para as famílias de renda mais baixa. Porque a expansão da renda com o auxílio aumentou o consumo dessas classes. Como o auxílio vai ser menor, a renda das classes D e E cai. Neste ano, o consumo vai ser puxado pela classe A, produtos voltados para consumidores de classe mais alta”, projeta.

Ele registra que, embora mais da metade das famílias brasileiras estejam nas classes D e E e apenas 3,4% na classe A, em termos de consumo, ambas têm representatividade similar.

Para o economista, alguns fatores vão favorecer essa dinâmica. O primeiro deles é a retomada do emprego que deve acontecer primeiro para quem tem mais qualificação, ou seja, integrantes de classes mais altas.

“Quando a recuperação começa a se sustentar, o que já está acontecendo, quando a demanda cresce, as empresas precisam contratar. Como o desemprego está muito alto, a empresa consegue alguém com mais qualificação mesmo com salário menor. O trabalhador aceita o salário menor para conseguir se recolocar", diz.

Com isso, o desemprego cai primeiro entre os trabalhadores mais qualificados e a renda desse grupo começa a se recuperar.

Ricardo Amorim é economista. (Everton Rosa)

Além disso, ele lembra ainda que esse grupo investe mais em ativos como ações, imóveis, metais preciosos, fundos imobiliários, propriedades rurais, criptomoedas, entre outros. Todos eles tiveram forte alta durante a pandemia, o que fez crescer a riqueza de quem já tinha dinheiro.

“A classe A não só está tendo ganho de renda, mas ganho de riqueza. Se sentindo mais rica, ela pode gastar mais. Por isso que o consumo está mudando. Além disso, há o efeito ‘eu mereço’: o cara se limitou com tanta coisa, que ele se dá direito de ter determinados luxos que talvez antes ele não tivesse”, pontua.

Para o especialista, uma terceira onda da pandemia, contudo, pode atrasar esse processo, já que é preciso que haja movimentação de pessoas, principalmente jovens e adultos, para que a retomada aconteça.

CRESCIMENTO MAIOR E INFLAÇÃO ACELERADA

Apesar da preocupação com uma nova alta de casos e mortes por coronavírus e com o ritmo de vacinação, Amorim acredita que o país deve crescer mais do que vem sendo projetado até então para este ano.

“Acho que o Brasil crescerá entre 4% e 5% este ano. Até outro dia, a projeção era de pouco mais de 3%. Ainda assim é menos que o mundo. Em contrapartida, a inflação vai ser mais alta do que está sendo projetado. O mercado vem revisando para cima as projeções de inflação, eu temo que terá que revisar mais e, por consequência, as projeções de alta de juros”, avalia.

Ele acredita que a Selic, taxa básica de juros, alcance entre 7% e 9% até o fim deste ano e o início de 2022. O boletim Focus, de 10 de maio, trouxe previsão de 5,5% para 2021.

TENDÊNCIA PARA A INDÚSTRIA

Um ponto apresentado pelo economista como crucial para que o Brasil tenha competitividade nesse momento de crescimento é a reforma tributária. “Quanto mais longa a cadeia produtiva, pior é o problema porque há de imposto em cima de imposto. A gente perde competitividade nos produtos que mais interessam, que são os industrializados.”

Ele afirma ainda que a indústria brasileira precisa “se plugar” na cadeia produtiva asiática, que é praticamente a única que vem crescendo nos últimos anos, e ressalta a importância do investimento em inovação para ampliar a produtividade.

“Nunca tive tanto dinheiro para a inovação porque os juros de financiamento no mundo despencaram, assim como no Brasil. A indústria brasileira viveu uma década muito triste. Há uma oportunidade única, principalmente no Espírito Santo, de virar esse jogo”, aponta.

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