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Publicado em 28 de janeiro de 2021 às 15:53
- Atualizado há 5 anos
Com saldo 5.071 novas vagas criados entre janeiro e dezembro do ano passado, a construção civil foi a principal responsável pela sustentação do mercado de trabalho formal no Espírito Santo em 2020, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Ministério da Economia. >
A indústria (4.089) e o comércio (1.722), que também tiveram resultado positivo, contribuíram para que o Estado chegasse ao final do ano passado com 6.812 contratações a mais do que as demissões realizadas. O desempenho só não é melhor por causa da agropecuária e do setor de serviços, que extinguiram 720 vagas e 3.350 vagas, respectivamente.>
Segundo o economista Marcelo Loyola Fraga, o resultado poderia ter sido pior se não fossem as medidas criadas pelo poder público para mitigar alguns dos efeitos da crise do coronavírus. Como exemplo, ele citou o programa de suspensão de contratos ou redução de jornada e salários e a liberação de empréstimos para que as empresas pudessem arcar com a folha de pagamento, que ajudaram a segurar as demissões.
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“Todas essas medidas adotadas no ano passado beneficiaram o mercado de trabalho. Em relação ao setor da construção, particularmente, também tivemos outras contribuições importantes, como a queda da taxa de juros, a portabilidade de financiamento. Isso tudo foi positivo.”>
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Ele observa ainda que, embora o Caged não faça essa comparação e traga somente os dados de demissões e contratações do ano, até 2019, o setor da construção civil vivia ainda os impactos das crises anteriores, e estava estagnado. Diversas obras estavam paradas, ou sequer haviam saído do papel.>
“Essa queda dos juros foi extremamente benéfica e permitiu um crescimento expressivo, mas foi um movimento, principalmente, de recuperação. Ainda temos muito espaço para crescer neste ano, uma vez que o contexto de juros baixos é o mesmo.”>
Além das moradias e imóveis comerciais, o ano também foi marcado por obras de infraestrutura, tanto do governo do Estado, que vem anunciando investimentos frequentes, quanto dos municípios – neste caso, sob efeito do ano eleitoral, conforme os especialistas.>
A indústria, por sua vez, parece caminhar para uma recuperação. Isso porque alguns setores tiveram aumento da demanda durante a pandemia, como as empresas de segmento alimentício, de embalagens, química, entre outras, segundo avaliação do economista Eduardo Araújo.>
“No ano passado, também tivemos um resultado positivo de algumas commodities após as perdas iniciais. O minério de ferro, por exemplo, teve um bom desempenho, e o dólar mais alto favoreceu muito as exportações, de modo geral. Isso contribuiu para a retomada das indústrias, e é um movimento que deve permanecer ainda por alguns meses.”>
O comércio, contudo, apesar de ter registrado resultado positivo no emprego em 2020, deve sofrer principalmente neste primeiro trimestre. O motivo é o fim do auxílio emergencial, que foi depositado até dezembro para uma parcela considerável da população capixaba.>
“Se não houver nenhuma ajuda, os resultados serão comprometidos. O que fez com que a economia, não só do Espírito Santo, mas do Brasil de modo geral, não afundasse tanto quanto se esperava foi justamente o auxílio emergencial. A possibilidade de sacar o Fundo de Garantia também foi benéfica. Todos esses mecanismos ajudaram a minimizar os efeitos da crise porque ampliaram o consumo das famílias”, avaliou o economista Mário Vasconcelos.>
A expectativa para este ano é que o governo tire “novos coelhos da cartola”. Enquanto a renovação do auxílio emergencial é improvável, um novo saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) já estaria em estudo. >
Em relação à agropecuária, a contribuição foi considerada pequena. Mas as perdas acumuladas pelo setor de serviços devem se estender por mais algum tempo. O setor, que depende muito do contato entre as pessoas, é, ainda, o mais afetado pela pandemia. >
“A aposta para reverter esse cenário é a vacina contra a Covid-19, claro. Mas ainda há uma confusão muito grande em relação a isso. Começamos a vacinar, mas não sabemos quando a vacina vai chegar para a população em geral. Ao mesmo tempo, temos visto muitas pessoas deixando de levar a sério a pandemia. E isso tudo tem um impacto sobre a economia, além da questão sanitária”, observou Vasconcelos.>
O ponto é reforçado pelo economista Eduardo Araújo. Ele observa que o início da vacinação é um indicativo positivo para o mercado, pois o cenário começa a ficar mais claro. Mas explica que os próximos meses serão decisivos. >
Além do risco das novas variantes do vírus, para que a vacinação tenha efeito real na economia, é preciso que uma parcela maior da população seja imunizada. Sob esse aspecto, Araújo destaca que o país tem uma vantagem que é a capacidade de vacinar rapidamente, já observada em outras campanhas de vacinação.>
“Mas é importante, inclusive, que as pessoas que acreditam e querem que a atividade econômica retome façam uma campanha em prol da vacinação. Há muitas fake news disseminadas, e isso cria uma interferência indireta na atividade econômica, pois cria um ambiente de incerteza, que é o que a gente menos precisa nesse momento.”>
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