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'Vacina é a esperança', diz capixaba que está na fila, em Londres

"Vacina é a esperança", diz capixaba que está na fila, em Londres

A enfermeira Áurea de Souza trabalha como cuidadora em um asilo no centro da capital inglesa e está na expectativa para a imunização, que começou na terça-feira (8)

Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 12:59

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A capixaba Áurea de Souza está entre os primeiros na fila na Inglaterra para a vacina da Covid-19
A capixaba Áurea de Souza está entre os primeiros na fila na Inglaterra para a vacina da Covid-19. (Divulgação/Lar St Augustine's)

Esperança. Essa é a palavra-chave para a enfermeira capixaba Áurea de Souza, que vive em Londres, na Inglaterra, e está nas primeiras posições para receber a vacina contra o novo coronavírus, que começou a ser aplicada na terça-feira (8). Ela trabalha em um asilo para idosos na região central da capital britânica e, em entrevista para o repórter Fábio Botacin, da Rádio CBN Vitória, nesta quarta-feira (9), falou sobre a expectativa de poder ver a cidade novamente ter a alegria que possuía antes da pandemia.

Áurea contou que sua experiência como cuidadora de idosos começou na Itália, onde morou antes de se mudar para a Inglaterra. Segundo a enfermeira, ela chegou ao país britânico sem saber falar a língua, o que foi um grande empecilho no começo de sua trajetória. A princípio, ela trabalhava na área de limpeza e frequentava um centro de empregos para conseguir uma oportunidade melhor.

"Às vezes as pessoas pensam que no exterior é tudo fácil, mas sofri bastante no começo, chorei muito, porque era uma língua que eu não conseguia falar. Trabalhei na área da limpeza e lembro que ia todo dia em um centro de empregos. A moça olhava pra mim e perguntava o que eu estava fazendo ali. Eu só sabia dizer que trabalhei em farmácia por seis anos, estudei enfermagem e trabalhei em hospital na Itália. Até que achei um trabalho como cuidadora de idosos no centro de Londres, o primeiro lugar que trabalhei na Inglaterra. Apliquei para o trabalho e cheguei na entrevista sem falar uma palavra em inglês. Fui contratada e, depois de seis meses, fui escolhida a melhor cuidadora de idosos daquele ano da companhia, que tem mais de 80 asilos pela Inglaterra", disse.

A enfermeira de 38 anos explicou que, no começo da pandemia, havia uma indefinição muito grande, não se tinha muita certeza sobre os sintomas da Covid-19. Ela contou que sua família pedia que voltasse ao Brasil, mas ela decidiu ficar e foi até morar no asilo onde trabalha.

"No começo, foi muito difícil. Me lembro quando a pandemia chegou aqui, todo mundo estava naquele pânico total. Cheguei a fazer um vídeo para minha família no Brasil, tentando acalmar um pouco o coração deles, minha mãe estava preocupada… minha mãe falava 'volta filha, volta pro Brasil', mas eu não podia voltar. Tomei a decisão de morar no asilo, porque a gente começou a ter pessoas doentes e não sabia o que estava acontecendo", afirmou.

Por ser uma população extremamente sensível à ação do vírus, os idosos foram as primeiras vítimas da Covid-19. E Áurea afirmou que acompanhou de perto as perdas de pacientes e até de funcionários queridos para um doença implacável e, até então, sem cura. E, apesar de estar constantemente vulnerável ao vírus, ela precisou continuar trabalhando, já que não podia deixar de cuidar dos idosos que moram no seu asilo, mesmo com a falta de conhecimento e prevenção sobre o coronavírus.

"AGORA JÁ SABEMOS O QUE É O CORONAVÍRUS"

Assim como vários outros países da Europa, a Inglaterra enfrenta uma forte segunda onda de casos da Covid-19. Para Áurea, a principal diferença da primeira onda de infecção é que, atualmente, tanto as autoridades quanto a população já sabem como o vírus se comporta e o que é necessário fazer para combatê-lo.

Além disso, a enfermeira explicou que houve um grande investimento do governo britânico no combate à Covid-19. Por isso, os asilos receberam equipamentos e kits de testagem para impedir o avanço da pandemia sobre a população mais sensível.

"Agora, posso identificar pelo teste que o governo manda pra gente. O governo investiu muito nos asilos, eu pude comprar um sistema, que se chama purificador de ar, para combater o vírus. Tem muito equipamento e tudo de graça. Com esse teste também, mesmo que o funcionário não tenha sintomas, posso identificar se ele estiver infectado e mandá-lo para casa. Tenho funcionários que estão em isolamento hoje. O governo manda checar se a família também está em isolamento, o governo monitora isso também", disse.

"VACINA É A ESPERANÇA"

Com a aprovação da vacina desenvolvida pela Pfizer em parceria com a BioNTech para ser distribuída na Inglaterra, Áurea afirmou que o sentimento é de esperança. Ela contou que, antes da pandemia, Londres era uma cidade alegre e que isso deu lugar ao medo por conta da presença do coronavírus.

"Eu estava com muito medo, minhas funcionárias estavam com medo, mas agora, estamos chegando a um ponto que, para nós, é esperança. A gente tem vivido muita tristeza. Londres é uma cidade tão bonita, de tanta alegria, as pessoas nos bares, com os amigos, e aquilo acabou! Não tem pra onde correr, a gente não pode viajar… se eu for para o Brasil, tenho medo de levar risco para minha família e, quando voltar, tenho que ficar 14 dias trancada ainda. Tenho funcionários da Polônia, de Portugal, que não podem ver a família", contou.

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A gente teme (a pandemia), então vê a vacina como esperança. Não dá pra viver no medo, no sofrimento. Pode optar por essa vacina, que é como se fosse esperança pra gente, ou continuar vivendo no medo

Áurea de Souza
Enfermeira capixaba que vive em Londres, na Inglaterra
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A enfermeira ainda garantiu que o clima na cidade e em toda a Inglaterra é de muita expectativa e positividade em relação à disponibilização da vacina para o público geral. Ela afirmou que, no asilo, existe um preparo muito grande, já que os idosos devem assinar um documento aceitando a imunização. Áurea contou que é um momento de muita conversa com as famílias, para entender o que é melhor para os pacientes, mas que ela tem certeza de que 99% do asilo onde trabalha será imunizado.

"Aqui tá todo mundo na expectativa. Já aconteceu que duas pessoas tiveram reação alérgica, mas isso é normal de acontecer, a positividade está muito grande. Tem uma brasileira que já tomou vacina, que trabalha em um hospital de pesquisa. A expectativa está grande, está todo mundo de olho na Inglaterra. A pessoa tem o direito de dizer não, não posso forçar ninguém a tomar. Mas, creio que no meu asilo, 99% vai tomar", finalizou.

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