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Tragédia na Serra: casa em que irmãos morreram já teve incêndio em 2020

Tragédia na Serra: casa em que irmãos morreram já teve incêndio em 2020

Após ocorrência nesta segunda-feira (16), Bombeiros identificaram sobrecarga em tomadas, como uso de "T" e de extensões, e ausência de instalação de disjuntores na residência

Publicado em 16 de agosto de 2021 às 18:02

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Os irmãos Israel e Ícaro, de 5 e 6 anos, morreram vitimas de um incêndio no Bairro das Laranjeiras, em Jacaraípe, na Serra
Os irmãos Israel e Ícaro, de 5 e 6 anos, morreram vitimas de um incêndio no Bairro das Laranjeiras, em Jacaraípe, na Serra. (Reprodução / Fernando Madeira)

A casa onde os irmãos Israel e Ícaro Storch, de 5 e 6 anos, morreram em um incêndio na manhã desta segunda-feira (16) já havia recebido um atendimento do Corpo de Bombeiros no ano passado. Em entrevista à Rádio CBN Vitória na tarde desta segunda, Andressa Silva, tenente da corporação, afirmou que, na ocasião, equipes foram acionadas para um incêndio que começou na geladeira da residência, que fica no Bairro das Laranjeiras, na Serra.

Segundo a tenente, as perícias dos Bombeiros e da Polícia Civil foram acionadas para identificar as causas do incêndio que terminou com a morte das crianças. O laudo demora até 20 dias para ser liberado e o prazo pode ser estendido. Andressa Silva pontuou, porém, que há indícios observados nas buscas na casa que podem apontar possíveis motivos para o início das chamas.

"As perícias foram acionadas. Preliminarmente, a instalação era bem precária. Eles tinham muitas instalações elétricas provisórias, o famoso 'gato'. Tinha muita sobrecarga em tomadas, como uso de 'T' e de extensões, não tinha instalação de disjuntores, que protegem a casa de picos e curtos-circuitos. Havia um relato de ocorrência de incêndio na residência no ano passado, que começou em uma geladeira", disse a tenente.

Fotos mostram escombros no interior da casa onde irmãos morreram incendiados na Serra(Fernando Madeira)

A tenente dos Bombeiros também explicou que as chamas ficaram restritas ao quarto das crianças e disse que elas foram encontradas carbonizadas deitadas em cima da cama. De acordo com ela, um dos possíveis combustíveis para o fogo foram várias pilhas de roupas encontradas justamente no quarto de Ícaro e Israel.

"Tinha muito material combustível acumulado, muitas trouxas de roupa no quarto em volta da cama. E, além disso, em um determinado momento do incêndio, cedeu o teto. Quando cede o teto, entra mais oxigênio e alimenta as chamas,  que aumentaram ainda mais", argumentou a tenente.

A avó das crianças e uma adolescente de 15 anos que, segundo a tenente, é irmã de Ícaro e Israel, sofreram queimaduras no rosto e nos cabelos. Para a oficial dos Bombeiros, isso pode significar que elas tentaram socorrer os meninos e acabaram se ferindo. De acordo com Andressa Silva, a adolescente é autista e a avó possui um tumor na cabeça.

"A avó tem um tumor na cabeça, então ela não fala muito bem e não conseguiu nos passar as informações. A adolescente é autista, mas conseguiu repassar as informações. A mãe não estava presente no local", acrescentou.

Demandada pela reportagem de A Gazeta, a Prefeitura da Serra informou que os familiares das duas crianças já foram realocados. Segundo a administração municipal, equipes do serviço do Auxílio Funeral e do Aluguel Social estiveram no local do incêndio. A avó das crianças está na casa de uma filha, já a mãe e a adolescente estão na casa de um parente.

ENTENDA O CASO

Os irmãos Israel, de 6 anos, e Ícaro Storch, de 5, morreram em um incêndio que atingiu uma casa no Bairro das Laranjeiras, na Serra, por volta das 6h44 desta segunda-feira. Segundo o Corpo de Bombeiros, que foi ao local para combater o incêndio, o fogo atingiu a cozinha e o quarto da residência. As crianças foram encontradas carbonizadas no quarto.

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Ícaro, sem camisa, e Israel, morreram no incêndio ocorrido nesta manhã, na Serra. (Arquivo pessoal)

Segundo os Bombeiros, somente após o controle do fogo, e da retirada dos escombros do teto do cômodo que desabou, foi possível localizar e constatar que os irmãos haviam morrido. Ainda conforme os militares que atenderam a ocorrência, o incêndio começou pouco antes das 7 horas da manhã. De acordo com o chefe de operações dos Bombeiros, tenente Schulz, ao chegarem à residência, os militares não tinham a certeza da presença das crianças no interior da mesma.

"A princípio, quando chegamos para combater o incêndio, não havia sido positivado a questão de vítimas. Nós entramos, combatemos (as chamas) no quarto delas (crianças) e posteriormente, quando diminuímos um pouco a temperatura para efetivamente vasculhar o ambiente, nós acabamos encontrando as crianças queimadas. Os vizinhos e moradores apenas pensavam que poderia ter crianças, mas não deram certeza até o início da nossa atuação", explicou o bombeiro, informando que o incêndio ficou concentrado no quarto.

Em choque, a mãe das crianças, Charlene Storch, foi até o local após ser informada de que os filhos haviam morrido. Ela não estava na casa há pelo menos três dias, mas morava no imóvel junto dos filhos e avó deles, segundo apurado pela reportagem de A Gazeta com familiares. Charlene foi levada à Delegacia Regional da Serra e, após prestar depoimento, foi liberada.

Serra
A mãe dos meninos, Charlene Storch, foi à delegacia para prestar depoimento sobre o incêndio . (Carlos Alberto Silva)

Segundo a Polícia Civil, o caso será investigado pela Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra. Os corpos das vítimas, segundo a corporação, foram encaminhados para o Departamento Médico Legal (DML) para serem liberados pela família e para ser feito o exame cadavérico, que vai apontar a causa da morte.

FAMÍLIA EM CHOQUE

Um pouco mais calma, uma das tias dos meninos, Michele Storch, irmã de Charlene, explicou que a família ainda busca entender o que ocorreu e lamentou a perda dos sobrinhos, a quem se referiu como crianças felizes e carinhosas.

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Michele Storch, tia dos meninos, esteve no local onde os sobrinhos morreram no incêndio. (José Carlos Schaeffer)

"Minha irmã (outra tia das crianças) fez o aniversário do caçula recentemente, ela veio aqui ontem, e hoje viria aqui para cortar o cabelo deles. Eles sempre dormiam juntos e, as vezes, com minha mãe (avó dos meninos). Ela (avó) e a menina (de 15 anos) estão em estado de choque e nem conversei com elas direito ainda. Eu estava indo para o trabalho e me ligaram para dizer o que ocorreu. Minha mãe toma remédios, está em estado de choque e não falou coisa com coisa. A dor é muito grande, pois perdemos duas crianças. A lembrança que fica deles é a do aniversário, pois foi a última vez minha com eles, o sorrisinho deles, as brincadeiras no quintal", disse Michele.

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