Publicado em 24 de novembro de 2020 às 06:02
Um profissional da saúde capixaba, que preferiu não ser identificado, recebeu dois exames com resultado positivo para a Covid-19 em um intervalo de sete meses no Espírito Santo. Morador de Vila Velha, o homem de 31 anos teve a primeira confirmação para o novo coronavírus em um teste PCR em abril, e outra confirmação, com o mesmo tipo de exame, no início de novembro. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) investiga atualmente 22 pacientes como suspeitos de reinfecção, mas não confirma se este é um dos casos. Especialistas dizem que reinfecções são prováveis, mas de difícil comprovação. >
O homem entrou em contato com A Gazeta após uma reportagem em que o subsecretário de Estado da Saúde, Luiz Carlos Reblin, diz que o Espírito Santo não tem casos de reinfecção pelo coronavírus. Com o resultado de dois testes positivos, o profissional considera ser uma prova contrária. O teste PCR é considerado padrão ouro para diagnóstico da Covid-19. >
Na primeira vez, eu estava assintomático. Mesmo assim, cumpri as recomendações médicas e fiquei em isolamento. Desta vez, fiz o teste porque apresentei sintomas da doença e, para a minha surpresa, deu positivo novamente. Como isso pode acontecer?, questiona. >
A reportagem, então, entrou em contato com a Sesa, enviando os dois resultados positivos do paciente e questionando se este era um caso tratado ou investigado como reinfecção, e a análise técnica do quadro. Por nota, a Sesa informa que, seguindo critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde, há 22 casos em investigação de indivíduos com dois resultados positivos de RT-PCR em tempo real (as duas amostras precisam estar disponíveis para análise), em um intervalo igual ou superior a 90 dias.>
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"As amostras são analisadas no Lacen ou enviadas para laboratórios de referência nacional em pesquisa por métodos avançados. A Sesa esclarece que informações sobre pacientes em investigação não são divulgados", resume o órgão, na nota. >
Para entender melhor o processo de comprovação de uma nova infecção, a reportagem de A Gazeta conversou com especialistas. A infectologista Rubia Miossi destaca que é preciso analisar a estrutura genética do vírus nos dois episódios. Caso sejam diferentes, é possível garantir que se trata de uma reinfecção. Além disso, um teste negativo entre o período dos dois resultados positivos também poderia corroborar a tese. >
Não temos visto comprovação científica de reinfecção sem essa condição. Isso foi colocado por algumas entidades para poder tentar caracterizar uma reinfecção. É claro que estamos falando de uma doença muito nova. São muitas perguntas que não têm resposta. Com base em dois exames positivos, não é possível afirmar com 100% de certeza que foi uma reinfecção; é uma probabilidade, disse. >
Também infectologista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Crispim Cerutti Junior afirma que essa comprovação é difícil pela falta de armazenamento de material nas coletas, o que acontece em casos estudados de maneira mais específica. >
Provavelmente, eles não guardaram o material genético do teste que ele fez lá atrás. Isso é feito em condições muito controladas. Em algumas situações em que isso aconteceu fora do Brasil, houve a oportunidade de fazer essa comparação. Então, as pessoas publicaram os casos comprovando geneticamente que se tratava de vírus diferente, observa. >
Crispim também cita outras possibilidades para casos suspeitos de reinfecção, embora pouco prováveis. Uma é de que o vírus pode persistir no organismo durante o período; a outra é de que algum dos testes possa ter dado falso positivo. >
A persistência do vírus no organismo é uma coisa improvável do ponto de vista do comportamento biológico do coronavírus. Ele é um vírus de curta persistência no organismo humano. Outra possibilidade é de ter sido um falso positivo em um desses testes. A frequência de falso positivo no PCR é muito baixa. Falso negativo é até possível, tem margem maior. Mas falso positivo é muito improvável. Então, tirando essas duas explicações alternativas, a mais provável é a reinfecção, analisa.>
Por isso, o médico reforça a necessidade da manutenção dos protocolos de segurança, mesmo entre as pessoas que já tiveram a doença. Segundo Crispim, ter contraído o vírus e se curado não é garantia de que uma nova infecção não possa acontecer. >
O que precisa ser assumido é o seguinte: nem todo mundo produz anticorpo na quantidade necessária para neutralizar o vírus. Então, as reinfecções são possíveis. Não são frequentes até onde sabemos - pelo que foi possível observar do comportamento do vírus em termos epidemiológicos até hoje, existem relatos muito esporádicos de reinfecção. Mas é um evento possível. Então, o fato de uma pessoa ter sido infectada uma vez não significa um passaporte de segurança. Ela tem que manter todos os cuidados e medidas preventivas para evitar a infecção, porque ela pode ser reinfectada, conclui.>
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