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Publicado em 5 de novembro de 2021 às 17:56
Um gigante de água doce que se encontra com o mar e promove um espetáculo da natureza. A beleza da Foz do Rio Doce, em Linhares, impressiona quem vê de longe, mas pessoas que vivem na região estão tomadas pela preocupação. No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, no município de Mariana, em Minas Gerais, matou 19 pessoas e despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no Rio Doce. Seis anos depois, o maior desastre ambiental na história do país ainda causa impactos na vida do rio e da área costeira. >
A lama chegou a Regência, em Linhares, no dia 20 de novembro. O lugar cresceu tendo o mar e o rio como principais fontes de renda dos moradores e atração para os turistas — realidade que está apenas na memória de quem vive na vila. “Seis anos sem poder fazer o que eu fiz a vida toda. Ficamos esperando que um dia voltará a ser liberado pescar no rio, para poder ganhar nosso dinheirinho”, relata o pescador e morador de Regência Ademar Sampaio, em entrevista ao repórter Eduardo Dias, da TV Gazeta Norte.>
Os barcos parados são reflexo da contaminação das águas por metais que vieram com a lama. O presidente da Associação de Pescadores, Leone Carlos, por mais de 30 anos sustentou a família com nove filhos por meio da pesca. Sua embarcação, de nome "Atlântida'', está abandonada desde 2015, quando a lama chegou e a pesca na região foi proibida por tempo indeterminado.>
“Vai fazer seis anos que eu não posso ir ao rio e pegar um peixe, meu (barco) ‘Atlântida’, que alimentou os meus filhos, hoje está abandonado. Minha tristeza é ver os barcos todos abandonados, e os companheiros, que pescavam comigo, precisaram arranjar outros empregos para se manterem", conta.>
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O pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ângelo Bernardino, afirma que mesmo depois de todos esses anos, a água e os peixes do rio ainda estão contaminados por metais pesados. >
“Nossos estudos mostram que a Foz do Rio Doce continua contaminada. O rejeito chegou carregado, principalmente de ferro, e com outros metais, como chumbo. E eles têm se modificado quimicamente e vão sendo liberados pela água, contaminando assim os peixes e assim os humanos que consomem essa carne”, explica Ângelo.>
Os moradores afetados pela lama recebem um auxílio financeiro da Fundação Renova, entidade criada para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem. Há quatro anos, a entidade também faz o monitoramento da qualidade da água em 92 pontos do Rio Doce, entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. >
“Toda essa base de dados já demonstra uma recuperação do Rio Doce frente ao que aconteceu com o rompimento da barragem de Fundão. Os níveis de qualidade da água estão em uma condição muito similar ao que era antes do rompimento, e ela está em condições de ser tratada e consumida pela população”, afirma a coordenadora do Programa Socioambiental da Fundação Renova, Brígida Maioli.>
Além do auxílio financeiro para os moradores, a fundação informou que também auxilia financeiramente os municípios atingidos, para ações voltadas ao tratamento da água.>
“A Renova tem um programa compensatório que vai disponibilizar R$ 600 milhões para os 39 municípios impactados, para ações voltadas ao saneamento, tratamento de esgoto e resíduos urbanos. Nós já concluímos ações em 3 municípios, e os outros estão com obras em andamento, como é o caso de Linhares”, explica.>
Para o pesquisador da Ufes, as ações de monitoramento são importantes, mas pouco se tem feito para corrigir o problema que foi gerado pelo impacto, e esperar a natureza se recuperar sozinha pode levar décadas. Mas existem soluções possíveis, segundo o pesquisador. >
“Existem várias ações possíveis. Como, por exemplo, usar plantas macrófitas aquáticas para remover esses metais, ou a dragagem, que é a remoção direta dos rejeitos, que estão sendo feitas na bacia de Minas Gerais. Mas nenhuma solução efetiva foi adotada no Estado”, afirma>
Em meio a tantos problemas que não foram resolvidos, tem um ar de otimismo voltando para a vila. A praia de Regência voltou a ser para os banhistas, e o turismo gerado pelo surfe ganhou força na região. O dono de pousada, Célio Ferreira Fernandes, passou muito tempo no sufoco, mas já está mais confiante de que a economia voltará a ser movimentada no local.>
“No início, foi uma sensação de medo e incerteza, porque não sabíamos o que vinha no futuro. Agora a vila está voltando. O surfe fomenta muito a economia daqui, e o pessoal está vindo, as pousadas estão enchendo, e com isso, a esperança de dias melhores”, relata.>
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