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Publicado em 14 de agosto de 2021 às 13:58
Um estimulante, descrito como natural, proveniente do mel de abelhas, que aumenta o prazer e não tem efeito colateral. Esta é a promessa de anunciantes sobre o "melzinho do amor" ou "melzinho da revoada" — produto que tem sido consumido, principalmente pelos jovens, em busca de melhor desempenho sexual. Apesar de ser facilmente encontrado em plataformas de vendas on-line e com pontos de distribuição no Espírito Santo, a substância não possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é proibida no Brasil. Em algumas amostras, inclusive, foram encontrados o cloridrato de sildenafila, princípio ativo do Viagra.>
Em rápida pesquisa realizada pela reportagem, três marcas foram achadas, todas comercializadas em sachês individuais, com preços que variam de R$ 20 a R$ 25. As unidades podem ser compradas pelo WhatsApp ou até mesmo retiradas em pontos físicos, em Vitória, como constatado nos anúncios. >
Esses são apenas três dos rótulos proibidos pela Anvisa de serem comercializados no Brasil. Desde maio, o órgão tem recebido denúncia sobre o produto e, no dia 27 do mesmo mês, a agência proibiu a comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e uso, além de determinação de apreensão das unidades encontradas no mercado.>
Segundo a Anvisa, a proibição aconteceu após investigação sobre o produto, em que foi avaliada a composição no rótulo, com a indicação, para determinar o enquadramento do produto como medicamento. Não foi encontrado, porém, registro ou cadastro de medicamento com a denominação em epígrafe e nem pedido de regularização dos produtos. Desta forma, por não possuir nenhum tipo de registro, a mercadoria não tem a chancela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. >
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"Para produtos registrados, a Anvisa pode realizar análises fiscais para verificar se a composição (teor do princípio ativo) está adequada com as informações do registro/cadastro. Nesse caso, identificamos que se trata de produto irregular, sem registro na Anvisa", disse o órgão em nota. >
"Já os produtos sem registro são passíveis de determinação de retirada imediata do mercado conforme Lei 6360/77 e Lei 9782/99 e às Infrações Sanitárias, após a devida instauração do Processo Administrativo Sanitário, tais como são passíveis de pena, conforme artigo 10, inciso IV, Lei 6437/77", complementou a assessoria do órgão.>
O uso indiscriminado de produtos não registrados pode trazer riscos à saúde de quem o consome. Recentemente, no Estado, um casal da Serra morreu após um quadro grave de contaminação e intoxicação por dietilenoglicol contido em um produto descrito como óleo de semente de abóbora natural.>
No caso do "melzinho do amor", a ingestão também é arriscada, mas por outro fator. Segundo a endocrinologista Queulla Garret, o afrodisíaco feito à base de mel de abelha pode, sim, ser estimulante, mas não naturalmente. >
"Pelos estudos já realizados em relação à composição do 'melzinho do amor', não há apenas substâncias naturais, mas também o cloridrato de sildenafila em doses superiores ao que está presente no comprimido do Viagra — usado para disfunção erétil. Essa substância é vasodilatadora, podendo provocar queda na pressão arterial", salienta a especialista.>
A médica explica que o cloridrato de sildenafila não deve ser usado por mulheres e pessoas menores que 18 anos. Além disso, por ser um vasodilatador, o mesmo deve ser consumido com cautela por pessoas com algumas comorbidades, como, por exemplo, hipertensão e diabetes.>
O uso desenfreado do estimulante pode até mesmo causar efeito contrário. A médica explica que o "melzinho do amor" não interfere na produção hormonal da pessoa, entretanto, pode gerar dependência e, consequentemente, piorar o desempenho sexual de quem o utiliza. Por isso, a endocrinologista reforça sobre a necessidade de pesquisar sobre qualquer produto antes de consumir.>
"Quando não existe autorização da Anvisa, não há como garantir a segurança do produto. Todos os medicamentos liberados são avaliados através de protocolos de pesquisas clínicas. E os resultados destes estudos é que podem comprovar a segurança. A Anvisa sempre avalia estes estudos. Acredito que a ciência deve ser soberana, portanto, todo medicamento precisa ser avaliado para haver segurança e efetividade na dose disponibilizada", destaca Queulla.>
Sachês de "Melzinho do amor" são anunciados em classificados na internet no ES
A endocrinologista ressalta que no Brasil há vários medicamentos rotulados como naturais que prometem efeitos rápidos, como os criados para o combate à obesidade. Ao invés de buscar por estas fórmulas e receitas milagrosas, a médica orienta que as pessoas procurem por especialistas na doença em questão para receberem orientação adequada e baseada na ciência.>
Embora amplamente encontrado em anúncios no Espírito Santo, a Polícia Civil, informou, em nota, que até o momento nenhuma denúncia sobre o produto foi registrada na delegacia especializada para casos do tipo. >
Ainda em nota, a Polícia Civil explicou que essa fiscalização de produtos compete à Vigilância Sanitária que, ao constatar alguma irregularidade, aciona a Delegacia Especializada da Defesa do Consumidor (Decon). "Até o momento, não há investigações na Decon relacionadas ao produto citado", finalizou a PC. >
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