> >
Onde procurar ajuda de graça para tratamento contra a obesidade no ES

Onde procurar ajuda de graça para tratamento contra a obesidade no ES

A porta de entrada para o tratamento da obesidade está na atenção primária à saúde, cuja responsabilidade é dos municípios

Publicado em 26 de março de 2023 às 08:29

Ícone - Tempo de Leitura 9min de leitura

Com a alta incidência de casos de excesso de peso no Espírito Santo, não é raro que muitos precisem buscar orientação de profissionais de saúde para retomar hábitos mais saudáveis. A porta de entrada para o tratamento da obesidade pelo SUS está na atenção primária, cuja responsabilidade é dos municípios. Para as pessoas que precisam e querem auxílio para emagrecer, o primeiro passo é recorrer às unidades básicas da cidade em que moram.

Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) ressalta que, nesses locais, devem ser ofertadas consultas ambulatoriais com orientações sobre hábitos de vida saudáveis e exames especializados.

Alimentação saudável; obesidade
Adotar alimentação mais saudável é uma das medidas para quem quer emagrecer. (Shurkin Son/Freepik)

Nas unidades básicas, acrescenta a Sesa, o usuário deve ter seu peso e altura aferidos, para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC) e classificar o estado nutricional em baixo peso (menos de 18,5), peso adequado (acima de 18,5 até 24,9), sobrepeso (de 25 a 29,9) e obesidade (acima de 30). O indicador é obtido pela divisão do peso pela altura ao quadrado e serve para orientar o tratamento.

“A atenção primária é a grande organizadora e ordenadora do sistema de saúde. Faz o pré-natal, aplica a vacina, atende crianças, identifica os hipertensos e também os cidadãos que estão acima do peso. Lamentavelmente, o que no passado foi a desnutrição, hoje o problema é o sobrepeso”, observa Tadeu Marino, subsecretário da Assistência em Saúde da Sesa.

Ele diz que o usuário é identificado na unidade de saúde e, se constatado o excesso de peso, deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar, com assistência psicológica, nutricional, estímulo à alimentação saudável e à prática de exercício físico.

Mesmo que a pessoa apresente uma condição em que a bariátrica (operação que reduz o tamanho do estômago) possa ser indicada, o protocolo é similar. “Às vezes, se considera que um paciente é candidato à cirurgia e, com um acompanhamento nutricional, ele pode perder 10, 15 quilos e restabelecer peso para qualidade de vida, para ter mobilidade. Então, não quer dizer que, chegando à unidade, já vai ser encaminhado para fazer a cirurgia”, afirma o subsecretário.

Mas, se após o acompanhamento, a bariátrica for a opção, o Estado tem três unidades hospitalares de referência para esse atendimento: Hospital Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória, o Evangélico de Vila Velha e o de Cachoeiro de Itapemirim.

Para orientar a assistência nessa área, a Sesa organizou um documento — Linha de Cuidado do Sobrepeso e Obesidade — que foi compartilhado no início deste ano com os municípios, descrevendo os fluxos assistenciais e a regionalização dos serviços oferecidos pelo governo do Estado. Nesse material, a secretaria propõe o acompanhamento por equipe multiprofissional conforme a classificação do estado nutricional dos usuários e a presença de comorbidades associadas, tais como diabete e hipertensão arterial.

“Temos hoje, na Sesa, mais de 200 Linhas de Cuidado escritas sobre muitas doenças e, agora, para excesso de peso porque este é um problema de saúde pública”, frisa Tadeu.

Uma das autoras do documento, a nutricionista Raiany Boldrini Christe Jalles, referência técnica da Atenção Primária à Saúde da Sesa, explica que o material relaciona todo o itinerário terapêutico sobre quem precisa de cuidado, otimização de recursos, quem é elegível para cirurgia.

Raiany diz que, para pessoas com IMC menor que 50, é feito um tratamento clínico longitudinal de pelo menos dois anos, antes de haver indicação para a bariátrica.

Aspas de citação

A gente avalia se vai ter sucesso no tratamento. E o que seria isso? Ter um IMC de normalidade? Não! Se perder de 5 a 10% do peso, é sucesso; se melhorar o diabete e controlar a hipertensão com menos medicamentos, também. Porque obesidade não tem cura e a pessoa pode fazer bariátrica e voltar a ter IMC elevado

Raiany Boldrini Christe Jalles
Nutricionista autora do documento Linha de Cuidado do Sobrepeso e Obesidade
Aspas de citação

A nutricionista ressalta que a obesidade é uma doença crônica que precisa ser controlada e, por essa razão, mudanças de hábitos, como buscar alimentação mais saudável e a prática de atividade física, são necessárias.

“Por isso que a orientação é que o tratamento seja realizado na atenção primária, onde ocorre o acompanhamento ao longo da vida, o princípio do cuidado longitudinal. O tratamento da obesidade é sempre baseado em estilo de vida; a bariátrica é o último recurso disponível a ser realizado”, completa.

Raiany esclarece que a Linha de Cuidado é uma diretriz, um ponto de partida para os municípios, que também devem investir na qualificação das equipes para esse atendimento. As pessoas em tratamento de obesidade precisam de apoio, serem cuidadas sem preconceito, porque a perda de peso não é um processo fácil. 

Serra

Na Grande Vitória, há serviços disponíveis para quem busca o tratamento de obesidade. Na Serra, a Secretaria de Saúde informa, em nota, que tem atendimento em todas as 40 unidades. "Em 2021, através do projeto de pesquisa Prevenção da Obesidade Infantil (Prevoi), em parceria com a Ufes, o município iniciou atendendo a crianças com idades entre sete e 10 anos de oito regiões da Serra. Atualmente, esse trabalho é realizado em Planalto A, Cidade Continental, Morada de Laranjeiras, Campinho da Serra e Barro Branco, com uma média de 80 crianças participantes", diz. 

Ainda segundo a nota, em 2022, a saúde começou o projeto de enfrentamento à obesidade no município, na região de Serra-Sede. Esse projeto conta com a atuação de uma equipe multidisciplinar, com médico, enfermeiro, educador físico, nutricionista, psicólogo, assistente social. 

Em todas as unidades básicas de Saúde da Serra, pelo Programa de Orientação ao Exercício Físico (Proef), há profissionais de Educação Física e Nutrição. As atividades oferecidas são variadas, tais como danças, exercícios funcionais, corrida, vôlei adaptado, hidroginástica, aulas festivas, eventos, oficinas, rodas de conversa, reuniões, palestras. As unidades regionais também têm nutricionistas na equipe.

O Proef/Nutrição atende em diferentes locais, como centros comunitários, ginásios esportivos, parques, praças e nas unidades de saúde. Também há horários diferenciados, conforme a demanda, nos três turnos, a exemplo do Parque da Cidade, em Laranjeiras, e no Parque Caminhos do Mar, em Cidade Continental.

Os interessados devem procurar a equipe da unidade de saúde de referência para obter os detalhes de dia e horário para agendamento de avaliação individual e outras orientações. 

Cariacica

Em Cariacica, a Secretaria de Esportes e Lazer (Semesp) diz, também em nota, que conta com 40 academias populares no município. Além disso, oferece escolinhas de esporte gratuitas na Estação Cidadania e Esporte e no bairro Bandeirantes, com atividades como futebol de campo, futsal, futebol de areia, judô, vôlei, basquete, atletismo, balé, ginástica rítmica, além de ginástica para idosos e para adultos e circuito funcional, em diversos horários.

Cariacica oferece atividades gratuitas na Estação Cidadania e Esporte
Cariacica oferece aulas gratuitas na Estação Cidadania e Esporte. (Divulgação/PMC)

Outro local com atividades físicas é o mirante da orla de Porto de Santana, onde a Semesp oferece, todas terças e quintas, das 6 às 7 horas, aulas de alongamento, step e musculação com orientação de professor. A Semesp conta ainda com o projeto Cariacica Saudável, na qual oferta atividades para adultos como ginástica e dança em mais de 30 bairros na cidade.

Ainda em nota, a Secretaria de Saúde de Cariacica (Semus) informa que os profissionais da rede de atenção primária estão passando por um processo de educação permanente e continuada, com o envolvimento de todas as categorias profissionais, visando o melhor acolhimento e manejo do usuário com obesidade.

Além das equipes da atenção básica e estratégia de saúde da família, o município conta com profissionais das equipes multiprofissionais, como os nutricionistas, que estão lotados em 14 unidades básicas, realizando consultas individuais e coletivas e desenvolvendo atividades como abordagens educativas, oficinas culinárias e cultivo de hortas terapêuticas.

Para iniciar o acompanhamento, basta o usuário procurar a sua equipe de saúde, na unidade básica de referência, onde será acolhido, passará por uma avaliação e será encaminhado para a continuidade do cuidado dentro da atenção primária.

Além do manejo da pessoa com obesidade, as equipes têm investido em ações de promoção de saúde, como o incentivo ao aleitamento materno, a prática da introdução alimentar adequada e saudável, as práticas corporais, bem como a intensificação das ações do PSE (saúde do escolar) e Crescer Saudável, para prevenir e tratar a obesidade infantil a partir de intervenções nas escolas, com o apoio da secretaria de Educação.

Para ampliar o cuidado, a secretaria tem investido também na implementação das Práticas Integrativas e Complementares (PICs), para qualificar a escuta e ampliar as possibilidades de cuidado, como a auriculoterapia.

Vitória

Já Vitória ampliou a oferta de consultas especializadas em Nutrição. Nesta gestão, segundo nota da Secretaria da Saúde, são oferecidas 600 consultas mensalmente. Antes, eram feitos 140 atendimentos por mês.

Além de consultas com nutricionista, a secretaria incentiva a prática de atividades físicas nos 14 módulos do Serviço de Orientação Física (SOE), espalhados por vários pontos da Capital. Para participar, o aluno pode procurar o professor ou a sua unidade de saúde de referência. Os pacientes são encaminhados para consultas a partir da avaliação dos profissionais das unidades de saúde.

600 consultas
especializadas em Nutrição são realizadas em Vitória, mensalmente

Vila Velha

O município de Vila Velha, segundo nota da Secretaria da Saúde, não tem um programa específico para tratamento da obesidade, mas existem os grupos de hipertensão e diabete que abordam o tema, já que o excesso de peso impacta diretamente nas alterações de taxas de glicose, colesterol, entre outros). Para participar, basta o morador procurar a unidade de saúde mais próxima da sua residência e passar por uma avaliação médica. Na rede, há também endocrinologistas e nutricionistas para atender esse público. 

Na avaliação do endocrinologista Fernando Gerchman, diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os gestores públicos precisam investir em propostas de educação escolar, como forma de prevenção à obesidade, assim como também incorporar estratégia de mudança de estilo de vida nos colégios, com alimentação saudável.

Aspas de citação

Também precisam de estratégias que permitam uma urbanização dos nossos grandes centros, que torne as pessoas mais ativas, no sentido de caminhar mais, fazer mais exercícios e terem segurança para realizar essas atividades

Fernando Gerchman
Diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade
Aspas de citação

Ações de prevenção e tratamento

Programa Saúde na Escola (PSE), do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação, foi instituído em 2007 pelo Decreto Presidencial nº 6.286 contribuindo para o fortalecimento de ações na perspectiva do desenvolvimento integral e para proporcionar à comunidade escolar a participação em programas e projetos que articulem saúde e educação, para o enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens brasileiros. Dentro do PSE, são desenvolvidas 13 ações de promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos nas escolas, dentre elas alimentação saudável, prevenção da obesidade e promoção da atividade física

O Proteja é uma estratégia brasileira que envolve vários setores para deter o avanço da obesidade infantil e contribuir para o cuidado e para a melhoria da saúde e da nutrição das crianças. Incentiva a implementação de ações nos espaços frequentados pelas crianças e suas famílias. No Espírito Santo, os municípios de Marilândia, Mimoso do Sul, Muqui e Presidente Kennedy implantaram esse projeto.

 O SUS capixaba dispõe do Programa de Atendimento de Alta Complexidade ao Indivíduo com Obesidade Grave, também conhecido como Programa de Cirurgia Bariátrica. Indicado para o tratamento dos casos de obesidade grave, conforme preconiza a Linha de Cuidado, que devem ser indicados e direcionados pela Atenção Primária à Saúde. Atualmente, as referências para esse tratamento são o Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), o Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) e Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI).

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais