Obesidade: saiba como prevenir e combater a condição crônica

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado que a prevalência de obesidade triplicou em todo o mundo desde 1975. No Brasil, a doença crônica afeta quase 1/4 da população

Obesidade

No Brasil, a doença crônica afeta quase 1/4 da população, mas o sobrepeso acomete quase seis em cada 10 brasileiros. Crédito: Shutterstock

A obesidade é uma doença crônica, multifatorial e que merece atenção, cuidado e tratamento. A classificação de obesidade é feita pelo Índice de Massa Corporal (IMC), onde o peso do paciente é dividido pelo quadrado da altura.

"Entretanto, o IMC é falho porque ele nos informa sobre, além do peso da gordura, o peso dos músculos e de massa óssea. Uma forma muito importante é avaliarmos a cintura do paciente, em que o homem deve ter cintura abaixo de 94 cm e a mulher abaixo de 80 cm. O valor aumentado da cintura nos mostra a existência de gordura visceral, que é a que causa doenças. O problema da obesidade é que ela é uma doença inflamatória, que causa uma série de outras comorbidades, que podem levar a uma série de complicações na vida do paciente", diz a endocrinologista Mariana Guerra, da Unimed Vitória.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado que a prevalência de obesidade triplicou em todo o mundo desde 1975. No Brasil, a doença crônica afeta quase 1/4 da população, mas o sobrepeso acomete quase seis em cada 10 brasileiros. Para conscientizar a população sobre o problema, o dia 4 de março é lembrado como o Dia Mundial da Obesidade. 

A médica explica que a obesidade gera um processo inflamatório que vai levar a uma série de doenças crônicas. "A obesidade leva à resistência insulínica, que acaba levando ao desenvolvimento de diabetes; leva também à hipertensão arterial, à Síndrome dos Ovários Policísticos (e consequentemente ao aumento de acne, de pelos e dificuldade para engravidar)", diz Mariana Guerra. 

"Obesidade, hipertensão e diabetes provocam o infarto ou, mesmo que não chegue ao infarto, o paciente tem risco de implantação de stent, ponte de safena. Eles aumentam também o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de desenvolvimento de osteoarticulares, como artrose de joelho. Todos esses problemas podem ser prevenidos a partir do tratamento da obesidade"

"Obesidade, hipertensão e diabetes provocam o infarto ou, mesmo que não chegue ao infarto, o paciente tem risco de implantação de stent, ponte de safena. Eles aumentam também o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de desenvolvimento de osteoarticulares, como artrose de joelho. Todos esses problemas podem ser prevenidos a partir do tratamento da obesidade"

Mariana Guerra

CAUSAS

A endocrinologista Camila Pitanga Salim, da Rede Meridional, diz que são inúmeras as causas da obesidade, por isso é considerada uma doença multifatorial. "Em uma pessoa geneticamente predisposta, os maus hábitos alimentares e sedentarismo precipitarão o desenvolvimento da obesidade. Algumas disfunções endócrinas também podem levar ao desenvolvimento da doença. Por isso, na hora de pensar em perder peso, o recomendado é procurar um especialista".

A médica ressalta que a obesidade é fator de risco para uma série de doenças. O portador de obesidade tem mais propensão a desenvolver problemas como hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, apneia do sono além de problemas físicos como artrose, pedra na vesícula, artrite, cansaço, refluxo gastroesofágico, infertilidade e irregularidade menstrual. "Alguns tipos de câncer também são mais comuns em pacientes com obesidade", diz Camila Pitanga Salim.

Ao todo, cerca de 13 tipos de câncer já possuem alguma relação com a obesidade, sendo os mais comuns, os de fígado, mama, tireóide, ovário, rim, pâncreas e estômago. E essa é uma realidade que tende a evoluir de forma negativa: até 2025 serão 29 mil novos casos de câncer causados pelo excesso de peso (4,6% do total) segundo o estudo epidemiológico, feito em colaboração com a Harvard University (Estados Unidos) e publicado em 2018.

“A obesidade é a segunda maior causa evitável da doença, perdendo apenas para o tabagismo. No entanto, devido a diminuição do número de fumantes, é esperado que nos próximos anos ela seja a condição prevenível mais comum”, comenta Daniel Gimenes, oncologista do Grupo Oncoclínicas.

ARTICULAÇÕES

O sobrepeso também pode causar trauma repetitivo no joelho e desgastar articulações. “Quando o corpo fica maior devido ao acúmulo de gordura, há uma sobrecarga sobre as articulações, com um ‘trauma’ repetitivo e excessivo da cartilagem, levando a sua degeneração. Além disso, o sobrepeso e a obesidade inflamam o corpo e geram diversas condições e propensão para desenvolver problemas, como artrite e artrose, além de aumentar as dores”, explica o ortopedista Marcos Cortelazo.

Segundo o médico, essa situação é chamada de degeneração da cartilagem articular, de causa principalmente mecânica. “Hoje, sabemos que essa é uma das maiores preocupações na área da ortopedia e reumatologia, possuindo relação direta com a osteoartrose”, explica o médico. Além disso, há um risco também de condromalácia, condição que mais afeta indivíduos com alto grau de obesidade. “Nesse caso, a sobrecarga gera inflamação na cartilagem, que fica mole com o tempo. Se o diagnóstico demorar a ser feito, o joelho pode ficar inoperável, piorando suas condições gradativamente”, diz o médico.

Outras lesões geradas por excesso de carga são: lesão da cartilagem e lesão meniscal degenerativa. “Em ambos os casos, podemos ter quadros graves, ainda mais em pacientes em que a obesidade intensificou problemas no joelho já existentes”, argumenta  Marcos Cortelazo.

INFERTILIDADE

O excesso de gordura corporal também pode inflamar o corpo e diminuir até as chances de gravidez. “A ovulação e a função reprodutiva são eventos biológicos dependentes das reservas energéticas do corpo. Não só o peso em específico, mas principalmente a composição corporal e a distribuição de gordura no corpo, além da qualidade da dieta e o sedentarismo, podem, sim, estar ligados à infertilidade feminina e masculina”, explica Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana da Neo Vita.

Quanto às mulheres, a obesidade está associada a distúrbios do ciclo menstrual e infertilidade, especialmente porque interfere na fase de ovulação. “Sabemos que os distúrbios ovulatórios representam 25 a 50% de todas as causas de infertilidade em mulheres, e uma proporção significativa está direta ou indiretamente relacionada ao sobrepeso e à obesidade”, conta o médico.

O aumento de peso corporal também está associado à anovulação, termo que define a ausência da ovulação. “Além disso, quando ocorre a gravidez, aumenta-se o risco de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gestação) e de parto prematuro, situações muito perigosas para a mãe e o bebê. A mulher que deseja engravidar, se apresentar alterações metabólicas como obesidade e resistência insulínica ou histórico familiar de diabetes, deve ser orientada quanto aos riscos do desenvolvimento de diabetes gestacional e encorajada a fazer mudanças imediatas no hábito alimentar”, diz o médico Fernando Prado. 

Com relação aos homens, aqueles com 20 quilos a mais no peso corporal ideal são 10% mais propensos a ter infertilidade. “Quanto maior o índice de massa corporal de um homem, mais chances de a sua contagem de espermatozoides ser baixa, com pior qualidade do esperma e baixa motilidade. A própria gordura que fica entre as coxas esquenta os testículos, prejudicando a produção de espermatozoides”, destaca Fernando Prado.

PREVENÇÃO

A médica Camila Pitanga Salim conta que a obesidade é considerada uma doença crônica, porém existem tratamentos e medidas de prevenção. "O tratamento deve ser contínuo e orientado por profissional capacitado. Mesmo quando se opta por tratamentos mais definitivos como a cirurgia bariátrica, os cuidados devem permanecer, pois o paciente pode voltar a engordar caso não mantenha uma rotina de alimentação e atividade física". Ter uma alimentação saudável e adotar a prática de atividade física fazem parte da prevenção da doença.

"A alimentação é peça fundamental no tratamento e na prevenção da obesidade. O estilo de vida sedentário, as refeições com poucos vegetais e frutas, além do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar precipitam o aumento do número de pessoas com obesidade, em todas as faixas etárias, inclusive crianças. Deve-se privilegiar alimentos ‘in natura' como frutas e vegetais frescos e alimentação não processada, sempre preservando o equilíbrio entre os grupos alimentares"

"A alimentação é peça fundamental no tratamento e na prevenção da obesidade. O estilo de vida sedentário, as refeições com poucos vegetais e frutas, além do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar precipitam o aumento do número de pessoas com obesidade, em todas as faixas etárias, inclusive crianças. Deve-se privilegiar alimentos ‘in natura' como frutas e vegetais frescos e alimentação não processada, sempre preservando o equilíbrio entre os grupos alimentares"

Camila Pitanga Salim

Também é importante inserir as atividades físicas na rotina. Além de ajudar na prevenção da obesidade, é um forte aliado na manutenção da perda de peso no tratamento da obesidade. "Além disso previne também outras doenças associadas com a obesidade como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares", finaliza Camila Pitanga Salim.

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