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Moradores do ES tinham anticorpos de Covid antes da China anunciar doença

Moradores do ES tinham anticorpos de Covid antes da China anunciar doença

Investigações em amostras de sangue de pacientes com dengue e chikungunya identificaram que o coronavírus já circulava no Estado desde dezembro de 2019

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 16:09- Atualizado há 3 anos

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Coronavírus
Coronavírus se espalhou por todo o mundo. (Pixabay)

Antes mesmo de a China comunicar oficialmente o surgimento de uma nova doença misteriosa no dia 30 de dezembro de 2019, moradores do Espírito Santo já apresentavam anticorpos contra o coronavírusindicando que a Covid-19 circulava no Estado quando ainda nem havia registro sobre ela no Brasil. 

A informação foi divulgada pelo coordenador do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-ES), Rodrigo Rodrigues, e pelo secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, na manhã desta terça-feira (12). A constatação foi feita a partir de análises em amostras de sangue de pacientes que tiveram dengue e chikungunya entre o final de 2019 e 2020. 

Foram investigados pelo Lacen  7.320 exames coletados originalmente para identificar infecção por doenças provocadas pelo mosquito Aedes aegypti. Desse total, 210 apresentaram a presença de anticorpos próprios contra a Covid-19. O primeiro registro é de 18 de dezembro de 2019, de uma moradora de Vitória, de 60 anos, que apresentou ao mesmo tempo IgG para dengue e coronavírus. O segundo exame que acusa contato com o coronavírus é de uma criança de 8 anos, que também teve chikungunya.  

A presença de anticorpos para combater infecção por coronavírus no Espírito Santo, identificada pelo governo estadual, é anterior ao primeiro caso brasileiro que se tem registro, de 26 de fevereiro de 2020, e a contaminação ocorreu antes mesmo do primeiro anúncio mundial da doença, feito pela China, considerada epicentro da pandemia. 

“As amostras reativas para IgG anti-SARS-COV foram colhidas antes da data de 26 de fevereiro de 2020, portanto, antes do anúncio oficial do primeiro caso no Brasil. A primeira amostra positiva (anticorpos contra a Covid-19) foi oriunda de uma coleta feita no dia 18 de dezembro de 2019 e, se levarmos em consideração que a IgG só atinge níveis detectáveis de 15 a 20 dias pós-infecção, podemos sugerir que a exposição tenha ocorrido preteritamente: ou no final de novembro ou bem no início de dezembro 2019, o que coloca essa sugestão de que pode ser um caso que ocorreu no Estado do Espírito Santo anterior ao anúncio oficial da doença pelo governo chinês", detalhou.

No dia 30 de dezembro de 2019, a Comissão Municipal de Saúde da cidade chinesa de Wuhan, capital de Hubei, notificou os hospitais locais sobre uma “pneumonia de causa desconhecida” e pediu para que eles informassem casos com sintomas semelhantes observados na semana anterior. Na sequência, no dia 31 de dezembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu para o mundo todo o primeiro alerta da doença, cujo vírus ainda era desconhecido.

Somente em janeiro de 2020 foi que o Laboratório de Xangai identificou um coronavírus similar à Sars (Síndrome respiratória aguda grave). Em novo comunicado, a OMS relatou que as autoridades chinesas detectaram que o surto estava sendo causado por um novo coronavírus, com transmissão pessoa para pessoa.

Ainda em janeiro, foi registrado oficialmente o primeiro caso da doença fora da China. Tratava-se de uma pessoa que havia viajado de Wuhan para a Tailândia. Logo em seguida outro caso foi identificado nos Estados Unidos, de um viajante que retornava da mesma cidade chinesa. No dia 11, ocorreu a primeira morte pelo vírus: um homem de 61 anos, que faleceu em Wuhan.

Já no dia 26 de fevereiro, o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado no Brasil, em um homem de 61 anos, que morava em São Paulo e havia regressado de uma viagem à Itália. A quarta-feira de Cinzas, de 26 de fevereiro, também era a data de registro da primeira paciente com coronavírus no Espírito Santo. A mulher, moradora de Vila Velha havia retornado de viagem para a Itália, onde contraiu o vírus, no dia 20 do mesmo mês.

Porém, as novas descobertas feitas pelo Lacen durante a investigação em amostras de sangue de pacientes que tiveram dengue e chikungunya indicam que o vírus já circulava no Estado e no país antes do imaginado pelas autoridades de saúde. 

O coordenador do Lacen acrescentou que a ausência de diagnóstico precoce de SARS-COV-2  pode ter contribuído para a rápida expansão da Covid-19 no Brasil. Ele acrescentou ainda que surtos concomitantes de dengue ou chikungunya com o coronavírus podem ter dificultado o diagnóstico da Covid. "Mesmo com a confirmação da doença em solo brasileiro no dia 26 de fevereiro e a decretação da pandemia em março, muitos casos de SARS-COV-2 continuaram sendo perdidos entre pacientes com suspeita clínica de arbovirose (dengue ou chikungunya)", apontou.  

Segundo o secretário estadual de Saúde, após a identificação de anticorpos de Covid em amostras de 2019, a investigação sobre o histórico da doença no Espírito Santo continuará. "Agora nós devemos passar por outras etapas laboratoriais para avaliar a cinética de anticorpos e vamos voltar a testar esses pacientes a partir do trabalho estabelecido. Vamos proceder com a investigação”, afirmou. 

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