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Publicado em 20 de junho de 2023 às 15:36
Uma nova rodada de negociações sobre a reparação aos danos ambientais causados ao Rio Doce e a municípios no entorno da bacia, após o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, está sendo realizada em Vitória até quinta-feira (22). Estará em pauta o impacto ao meio ambiente e à pesca, suspensa no litoral capixaba pela Justiça em decorrência da contaminação de peixes e mariscos.>
Vão ser três dias de negociações no Palácio da Fonte Grande, no Centro de Vitória, conduzidas pelo Tribunal Regional Federal da 6ª região (TRF6), que é o responsável pela homologação do acordo.>
Nesta terça-feira (20) e quarta-feira (21), as negociações ocorrem apenas com o setor público. Participam representantes do Ministério Público Federal (MPF); dos ministérios públicos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo; defensorias públicas dos dois estados; do Conselho Nacional de Justiça (CNJ); dos governo mineiro e capixaba; e da União, com presença dos ministérios do Meio Ambiente, da Pesca, da Saúde e da Agricultura.>
Na quinta-feira (22), a reunião contará ainda com a presença da empresa Samarco, cuja barragem de Fundão, localizada na cidade de Mariana (MG), rompeu, derramando rejeitos de minério no Rio Doce e afetando ainda os municípios da bacia. Também participam as empresas mantenedoras da mineradora: Vale e BHP Billiton.>
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A repactuação do chamado Acordo de Mariana, que visa à reparação ao dano ecológico e aos atingidos pelo desastre ambiental, está na reta final e a expectativa é de que seja assinado ainda em agosto deste ano. >
O rompimento da barragem de Fundão – controlada por Samarco, Vale e BHP –, ocorrido em novembro de 2015, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro (com a presença de metais pesados como cobre, manganês, zinco, cromo cobalto e chumbo) no Rio Doce, atingindo o mar em Linhares (ES), e matou 19 pessoas.>
No início de junho, o representante do Espírito Santo nas negociações, Ricardo Iannotti, subsecretário da Casa Civil, informou que as negociações estão na reta final. “A expectativa é de que seja assinado em agosto. Faltam debates sobre alguns pontos. A União, desde que a nova administração federal assumiu, teve uma concepção diferente de alguns temas, que estão sendo revistos. É natural que venha uma nova proposta e que se busque o consenso”, explicou.>
Os representantes da nova administração federal, do governo Luiz Inácio Lula da Silva, consideram importantes nas negociações três pilares: indenização e auxílio financeiro para os atingidos; os danos ambientais; e o impacto à saúde, com destaque para o Sistema Único de Saúde (SUS). São pontos que a União pretende rever nas discussões que já haviam sido feitas.>
As novas demandas, consideradas importantes, podem afetar o valor global da indenização. O último cálculo feito pela Fundação Getúlio Vargas apontava para uma quantia de cerca de R$ 65 bilhões, a serem partilhados entre os Estados mineiro e capixaba, municípios e os atingidos. >
A parcela do Espírito Santo, segundo os mesmos cálculos, seria de 32% do valor total, o equivalente a cerca de R$ 21 bilhões. E seria destinada à reparação ambiental de 41 municípios afetados na bacia do Rio Doce e ainda no litoral capixaba. Entre os projetos estão reflorestamento e recuperação de nascentes.>
A primeira tentativa de acordo aconteceu junto ao CNJ, em mais de dez rodadas de negociações, sem finalização. Houve discordância dos representantes públicos em relação à proposta das empresas e ao cronograma final de pagamento, que era longo e, em boa parte, ligado à recuperação da empresa Samarco, o que não foi aceito.>
Uma segunda tentativa foi feita pelo MPF em Minas Gerais, no ano passado, mas não foi bem sucedida. Segundo relatos, a nova proposta não era ambientalmente bem feita, não considerando pontos importantes da recuperação ambiental da bacia do Rio Doce e ainda do litoral capixaba.>
O objetivo em fechar o Acordo de Mariana ainda este ano tem ligação com uma ação que está sendo movida na Justiça inglesa pelo escritório Pogust Goodhead, pedindo uma indenização bilionária contra o grupo BHP Billiton, sócio da Vale e um dos controladores da Samarco. A indenização pode chegar a R$ 230 bilhões. A estimativa dos advogados é de que mais de 700 mil foram afetados pelo desastre ambiental, além dos municípios.>
Em entrevista para o jornal Valor, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), informou que o acordo pode ser afetado pelo processo. "Se essa decisão lá for concluída, dificilmente esse acordo aqui ficará de pé nos termos em que nós estamos propondo", afirmou.>
"Vale lembrar que não temos despesas com advogados e, lá fora, os grandes escritórios internacionais de advocacia vão ficar com 30% desse bolo. Então, não vai ser Minas nem Espírito Santo, nem o Brasil ganhando, mas os escritórios internacionais. Para mim, é uma questão de honra que esse acordo seja costurado aqui", acrescentou.>
O julgamento desta ação, marcado para abril de 2024, foi transferido para outubro do mesmo ano. A ação foi iniciada em 2018.>
A Fundação Renova foi demandada pela reportagem e informou que não vai se manifestar sobre o assunto. >
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