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"Falha grave e inaceitável", diz secretário sobre morte de garoto em ambulância no ES

"Falha grave e inaceitável", diz secretário sobre morte de garoto em ambulância no ES

Nésio Fernandes, chefe da Secretaria de Saúde, foi taxativo em apontar falhas dos profissionais no pronto-socorro, que culminaram na morte de Kevinn Belo Tomé da Silva, de 16 anos, que aguardou internação por 4 horas

Publicado em 2 de maio de 2022 às 11:14

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Kevinn Belo Tomé da Silva, de 16 anos, morreu neste sábado (30) após uma parada cardíaca e aguardar horas para dar entrada no Himaba
Kevinn Belo Tomé da Silva, de 16 anos, morreu neste sábado (30) após uma parada cardíaca e aguardar quase 4 horas em uma ambulância até dar entrada no Himaba. (Acervo da família)

O secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, teceu duras críticas ao atendimento prestado ao jovem Kevinn Belo Tomé da Silva, de 16 anos, e classificou o desfecho trágico da morte do adolescente como negligência e omissão por parte das duas médicas intensivistas que estavam no plantão do Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, na madrugada do último sábado (30).

O jovem havia sido trazido de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, e morreu após esperar por quase quatro horas dentro da ambulância, mesmo com a vaga garantida pelo setor de regulação. Após o óbito, as profissionais foram afastadas das funções provisoriamente.

Em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, da TV Gazeta, na manhã desta segunda-feira (2), o secretário foi contundente em apontar falhas já detectadas nos procedimentos realizados junto ao jovem, que foi sepultado neste domingo (1), na cidade de onde havia saído para a Grande Vitória.

"Kevinn foi acolhido pelo sistema de saúde tanto em Cachoeiro quanto pelo serviço de remoção altamente especializado, e contava com a vaga garantida de acesso no Hospital Materno Infantil (Himaba). Por uma falha grave e inaceitável, as profissionais médicas intensivistas, com registro no Conselho de Medicina, e com especialidade para atender ao quadro do Kevinn, se recusaram a admiti-lo no serviço de pronto-socorro na vaga garantida ao adolescente. Já existem elementos explícitos de negligência e omissão por parte dos fatos ocorridos e da gravidade do desfecho", enfatizou Nésio.

Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves, (Himaba)
Kevinn aguardou por horas em uma ambulância à espera do atendimento no pronto-socorro do Himaba. (Fernando Madeira)

Na longa entrevista concedida, Nésio também se solidarizou com os familiares do rapaz e deixou claro que a Secretaria de Saúde está empenhada em buscar explicações para um atendimento deficitário, visto que existiam recursos médicos e profissionais para que o garoto fosse internado e tivesse mais chances em sobreviver.

"O Governo do Estado está profundamente consternado com a situação, nós consideramos como uma falha muito grave das profissionais e que já apresenta elementos suficientes para devidos procedimentos de responsabilização administrativa, civil, criminal e também junto ao conselho profissional destas profissionais (CRM). A vaga estava garantida e o hospital, independente da idade, era o ideal para reduzir o risco de óbito do Kevin", lamentou o secretário

REFERÊNCIA EM NEFROLOGIA

Ao citar que o Himaba era o local ideal para que Kevinn fosse atendido, se dá pelo fato de o hospital ser referência em atendimentos de nefrologia (rins). O garoto apresentava um quadro grave, ao ponto de precisar ser transferido do Sul do Estado para a Região Metropolitana.

Aspas de citação

Existia um quadro renal na evolução do paciente, aonde o serviço do Himaba é a referência estadual para nefrologia pediátrica. Então, independentemente da idade, o principal local para reduzir o risco de óbito era o Materno Infantil de Vila Velha. De fato é uma falha grave e inaceitável

Nésio Fernandes
Secretário estadual de Saúde
Aspas de citação

"A Polícia Civil já conduz o caso provocado pelo próprio Governo do ES e mais uma vez nos solidarizamos profundamente com a Dona Suzana, mãe do Kevin, e toda a família. De fato, é uma dor muito profunda para um pai perder o filho por uma condição que poderia sido evitada, visto que ele foi para o principal recurso que o Governo do Estado e o SUS disponibilizavam para atendê-lo", detalhou o secretário.

Segundo o chefe da Sesa, as duas médicas foram chamadas para prestarem depoimento junto a Polícia Civil já na manhã deste domingo (1), mas alegaram não estarem em condições para darem a versão delas para o ocorrido. Até o momento, não foram reveladas as profissionais apontadas como responsáveis pelo atendimento no referido plantão.

"As informações que a Secretaria de Saúde possui é que elas estão profundamente abaladas e foram chamadas, inclusive, para depor ontem (domingo) na Polícia Civil, mas comunicaram que não tinham condições psicológicas para fazê-los. No entanto, a conduta nesses casos é apurar e delimitar o fato e as responsabilidades dos envolvidos porque toda a operação do sistema ocorreu no sentido de garantir o acesso", enfatizou Nésio.

Falha grave e inaceitável, diz secretário sobre morte de garoto em ambulância no ES

OUTROS PONTOS DA ENTREVISTA

Vaga para internação

"Tínhamos uma vaga garantida pela regulação (de vagas), pelo comando assistencial do hospital, o núcleo interno de regulação da unidade hospitalar autorizou a internação, a chefia assistencial da unidade também, existe uma coordenação dentro do próprio hospital para que em casos graves ocorra uma internação rápida em leito de terapia intensiva. O hospital já identificou que teria condições, inclusive, de além de acolhimento no pronto-socorro, tanto internar o paciente como empregar outros recursos dentro da unidade. O pronto-socorro conta com bomba de fusão, medicamentos, antibióticos e uma equipe de nefrologia especializada ali para acolher o paciente. Então foi uma falha muito grave, inaceitável e que será apurada com muita rapidez, buscando a responsabilidade sobre o fato da não garantia de acesso a um leito que todo o sistema de saúde se preparou e autorizou para que Kevin tivesse o risco de óbito reduzido".

4 HORAS DE ESPERA NA AMBULÂNCIA
"O plantão naquela noite no hospital não estava tumultuado, houve somente uma admissão no período entre meia-noite até as 4h30 da manhã. Havia toda uma equipe de suporte capaz de garantir o acesso. A direção do hospital, quando acionada perto das três horas da madrugada, ela interviu diretamente e a gerente assistencial que estava em casa foi até o hospital. Em menos de 30 minutos a vaga foi garantida. De fato existe um momento complexo da madrugada de sexta-feira, aonde a responsabilidade pela admissão é dos médicos e assistentes ali do pronto-socorro. A omissão de socorro e a negligência destas duas profissionais infelizmente teve uma evolução catastrófica, inaceitável e será devidamente apurada e responsabilizada nos termos que podem ser aplicados".

FALTA SUPORTE NO SUL DO ES?
 "Existe hospital (infantil) e ampliamos a referência da pediatria na região Sul. No entanto, no serviço hospitalar de pediatria da região Sul existe uma restrição por pacientes acima de 16 anos. Entretanto, no caso do Kevinn, por ter uma complicação renal, de fato o melhor serviço para que ele pudesse ser acolhido e avaliado seria no Himaba. É um hospital com mais de 200 leitos, uma equipe altamente qualificada, com indicadores de mortalidade hospitalar muito baixos. Um hospital que, de fato, é uma grande referência na pediatria do Estado e que foi ampliado durante a pandemia com mais 80 leitos novos já inaugurados, e que terá uma nova ampliação de mais 140 leitos dentro da unidade hospitalar".

PIORA DO QUADRO CLÍNICO E MORTE
 "Ao longo da evolução do quadro do Kevinn, ele não teve paradas cardíacas na remoção, durante a espera, até a parada que ele teve ao final do desfecho catastrófico dele. Ele foi entubado, veio sedado durante toda a remoção com uma equipe altamente qualificada, e o Hospital Himaba, para o caso do Kevinn, sem dúvidas era o melhor recurso assistencial disponível no Estado para reduzir o risco de óbito do quadro do paciente".

INVESTIGAÇÃO E RESPOSTA À FAMÍLIA
 "Já existem elementos explícitos de negligência e omissão por parte dos fatos ocorridos e da gravidade do desfecho, ao ponto do próprio Governo registrar um boletim de ocorrência contra a negligência apresentada pelas profissionais que estavam no pronto-socorro naquele momento. Agora existe toda uma instrução processual dentro da Secretaria para que elas apresentem suas explicações e tenham a garantia à ampla defesa para que a gente possa concluir com todos os elementos após a ampla defesa, a condenação do caso".

AFASTAMENTOS
 "Algumas decisões já foram tomadas de antemão. O afastamento imediato delas aconteceu na manhã de sábado (30) após os fatos acontecidos na transição do plantão. Elas foram contatadas pela Polícia Civil por meio dos contatos disponibilizados pelo Governo para que elas pudessem depor. Ao longo dos próximos dias a Polícia Civil deve já estar concluindo as primeiras avaliações diante dos elementos apresentados pela equipe da Sesa. Neste momento, falta ouvir as profissionais sobre a posição e explicação delas para este fato tão grave". 

 CAUSA DA MORTE
 "Ainda não temos acesso a toda documentação e conclusão investigativa, mas havia um quadro de síndrome nefrítica, um quadro renal do paciente, com uma complicação também no aparelho respiratório, que evoluiu pouco depois das quatro horas da manhã para uma parada cardiorrespiratória com o desfecho do óbito".

Com informações de Aurélio de Freitas, da TV Gazeta

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