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ES tem 470 crianças de até 14 anos vivendo em uniões conjugais, mostra Censo

ES tem 470 crianças de até 14 anos vivendo em uniões conjugais, mostra Censo

Informações se baseiam em relatos dos próprios moradores sobre relações. Para especialista ouvido pela reportagem, o dado reflete a vulnerabilidade de uma parcela da sociedade brasileira

João Barbosa

Repórter / [email protected]

Publicado em 5 de novembro de 2025 às 17:57

Parcela de brasileiros que vivem em união conjugal consensual supera a proporção de matrimônios religiosos e civis
Parcela de brasileiros que vivem em união conjugal consensual supera a proporção de matrimônios religiosos e civis Crédito: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

O Espírito Santo tem 470 crianças entre 10 e 14 anos vivendo em uniões conjugais. São 71 meninos e 399 meninas dentro das relações, segundo dados do Censo 2022 sobre nupcialidade e estrutura familiar, divulgado nesta quarta-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para especialista ouvido pela reportagem, o dado reflete a vulnerabilidade de uma parcela da sociedade brasileira. 

O IBGE esclarece que as informações se baseiam em relatos dos próprios moradores, por meio de autodeclaração. Por isso, os números podem não representar a situação legal das relações, mas sim trazer interpretações pessoais e equivocadas. Em todo o país, são 34.202 pessoas entre 10 e 14 anos afirmaram estar em uma relação consensual.

No Estado, de acordo com as autodeclarações, 51 crianças estariam casadas no civil e no religioso, 3 somente no civil e 416 em algum tipo de união consensual. Nenhuma delas estaria em um casamento apenas religioso.

Quanto à educação, o Censo detalha que 383 crianças e adolescentes que se dizem em uma relação conjugal não têm nível de instrução escolar ou têm o ensino fundamental incompleto. Outros 87 têm o fundamental completo e o ensino médio incompleto.

O que diz a lei?

No Brasil, o casamento civil de pessoas menores de 16 anos é proibido por lei. Jovens com 16 e 17 anos dependem de autorização de pais ou responsáveis para consumação da união. No país, relações sexuais com menores de 14 anos é crime, com pena que varia de 8 a 15 anos de reclusão.

O IBGE, que fez o levantamento dos dados, esclarece que não verifica a legalidade das relações, apenas registra a informação repassada pelos moradores.

Para Rennan Moraes Rodrigues, geógrafo e doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), os dados refletem a vulnerabilidade de grupos específicos da sociedade.

“Podemos observar questões sociais, estruturais e históricas que mostram que meninas mais jovens tendem a se relacionar com homens mais velhos. Esses dados mostram que nós esbarramos em diversas questões de vulnerabilidade, principalmente em regiões periféricas”, avalia o também professor da educação básica.

Diante dos dados, Rennan defende a necessidade de estudos sobre os resultados do Censo, para esclarecimentos sobre o padrão dos relacionamentos. “É preciso entender a faixa de renda das pessoas nessas uniões, os locais de moradia e também a estrutura familiar delas”, pondera o professor.

No Espírito Santo, além das crianças de 10 a 14 anos, o Censo revela que 1,7 milhão de pessoas mantinham em uma relação de união em 2022, considerando capixabas de 15 a 80 anos ou mais.

Isso significa que 53,1% da população do Estado vive uma união conjugal, um aumento de 2,1% em relação ao Censo de 2000, quando o percentual era de 51%, e de 0,8% em relação ao levantamento de 2010, quando 52,3% dos capixabas declararam as relações.

Outros recortes

Segundo o IBGE, no Estado, os casamentos somente no civil e as uniões consensuais aumentaram de 2000 a 2022. Por outro lado, no mesmo período, os casamentos no civil e no religioso caíram.

“As mudanças que vêm ocorrendo nos padrões de organização familiar no Brasil podem ser vistas olhando as formas das uniões. Em 2022, no conjunto do estado, 20,7% das pessoas que viviam em união declararam que essa união era somente no civil, percentual superior ao observado em 2000 (17,4%) e em 2010 (17,6%). Já as uniões consensuais tiveram seu grande aumento entre 2000 (25,9%) e 2010 (30,8%), tendo reduzido o ritmo desse crescimento de 2010 para 2022, quando o percentual dessas uniões foi de 31,3%”, divulga o instituto.

Ainda nesses recortes, o Censo também mostra que, em 2022, 17,4 mil pessoas relataram ter união com pessoas do mesmo sexo no Espírito Santo. O número representa 1% do total de pessoas com 10 anos ou mais que viviam em união.

A distribuição por sexo das pessoas nesse tipo de união mostrou que 62,0% (10,8 mil) eram mulheres e 38,0% (6,6 mil) eram homens.

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