Alvo de uma denúncia de desvio de remédios de órgãos públicos de Campinas, em São Paulo, o casal capixaba Julianna Ritter e Gleidson Soares Lopes foi condenado a 12 e 18 anos de prisão, respectivamente, mas ambos estão foragidos da Justiça desde abril de 2024, quando tiveram a prisão preventiva decretada. A Gazeta teve acesso à sentença que condenou o casal. A defesa disse que eles não sabiam que os remédios eram roubados.
Gleidson e Juliana foram condenados por peculato e organização criminosa, em sentença do juiz Caio Ventosa Chaves, da 4ª Vara Criminal de Campinas, proferida no dia 7 de novembro do ano passado.
Gleidson foi considerado o comprador e principal receptador dos remédios e líder da organização criminosa, tendo recebido penas que somadas chegam a 18 anos e dois meses de reclusão, além de 77 dias/multa. Na decisão, o juiz chegou a classificar Gleidson como "um delinquente contumaz", pelas condenações em processos anteriores.
Juliana, por sua vez, foi considerada a compradora e responsável pelo pagamento dos remédios e condenada a cumprir doze anos e um mês de reclusão, além de 53 dias/multa no valor de cinco salários mínimos por dia.
A defesa de Gleidson e Julianna negou a existência de uma organização criminosa, disse que recorreu da sentença e espera a absolvição dos clientes (leia o posicionamento na íntegra ao final da reportagem).
O caso foi revelado há um ano, em janeiro de 2024, pelo programa "Fantástico", da TV Globo. Além de Gleidson e Julianna, também foi apontada a participação de uma família de Campinas no esquema de furto de remédios de hospitais e centros de distribuição de órgãos públicos no estado de São Paulo.
À época, Julianna era assessora parlamentar do deputado estadual Danilo Bahiense (PL) e, com a exposição do caso, ela foi exonerada do cargo.
Os medicamentos de alto custo, comprados com dinheiro público, e destinados ao tratamento de câncer, diabetes e transtorno do déficit de atenção / hiperatividade (TDAH), eram enviados ao Espírito Santo, onde o casal atuava como receptador. O esquema movimentou mais de R$ 1,1 milhão apenas em remédios.
José Carlos dos Santos: servidor público da farmácia judicial de Campinas; responsável pelo furto dos remédios e encaminhamento para Michael Carvalho, seu genro e apontado como líder da organização que vendia os remédios ao casal do Espírito Santo.
Maria do Socorro: tratava das transações financeiras do grupo e repassava a José Carlos, seu marido, a lista dos remédios que deveriam ser desviados.
Michael Carvalho: apontado como líder do grupo e responsável por selecionar os remédios que deveriam ser desviados para a venda ilegal; casado com Gabriela Carvalho, filha de Maria do Socorro e responsável por despachar as encomendas por meio de empresas de logística ao Espírito Santo, declarando que os remédios seriam doações, já que não possuíam nota fiscal.
Gleidson Lopes: também apontado como um dos líderes do grupo, comprava os remédios de São Paulo para repasse no Espírito Santo, onde mantém residência e ligação com uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção na Serra.
Julianna Ritter: dona das contas bancárias utilizadas para transferências bancárias para Maria do Socorro e dona de um carro de luxo que estava em posse de Michael e Gabriella, o que leva a suspeita de que o pagamento do veículo era feito com remédios furtados.
Apesar do processo tramitar na Justiça de São Paulo, a investigação ainda deve avançar no Espírito Santo e no Rio de Janeiro para apurar o destino dos desvios do grupo. A sentença do juiz Caio Ventosa Chaves apontou que Julianna pagava pelos medicamentos e mantinha contato com “os destinatários finais: hospitais, clínicas, empresas e particulares” nos estados capixaba e fluminense. Tais destinatários, porém, ainda não foram identificados pela investigação, que segue sendo feita pela Polícia Civil de São Paulo.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que, além do inquérito já relatado à Justiça e que indiciou os seis envolvidos no esquema, um segundo inquérito tocado pela 1ª Delegacia de Investigações Gerais de Campinas investiga possíveis crimes de lavagem de dinheiro e a eventual participação de outras empresas no conluio entre o grupo paulista e o casal capixaba.
Também procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) informou que, diante da expedição dos mandados já existentes contra Gleidson e Julianna, qualquer agência de segurança pode cumprir a prisão do casal. Os mandados estão em aberto desde abril de 2024.
A defesa do casal capixaba afirma que os clientes não tinham ciência do conluio criminoso da família de São Paulo. A versão é a mesma que já havia sido dada quando o caso tomou proporções nacionais.
“Nós já recorremos [da decisão de sentença] e aguardamos a sessão de julgamento para tentar a inteira absolvição deles. Não havia organização criminosa nenhuma. O Gleidson não sabia de nada e só utilizava as contas da Julianna por ter o nome sujo no mercado e daí ele utilizava as contas dela, é por isso que ela foi envolvida neste caso”, destaca o advogado Danilo Campagnollo
Segundo o advogado do caso, a quebra do sigilo das comunicações telefônicas entre Gleidson e Michael evidenciam que não há nenhuma citação que comprove que Gleidson sabia que o sogro de Michael era servidor público. Em nota enviada à imprensa após a condenação do casal, a defesa afirmou que recebeu com surpresa a decisão e reforçou a posição de inocência de seus clientes.
Ainda antes da condenação, A Gazeta conversou, em abril do ano passado, com o delegado Elton Costa, da polícia paulista, que afirmou, já naquela época, que não existiam dúvidas sobre a participação de Gleidson e Julianna no esquema, o que se comprovou com a continuidade das investigações.
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