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Casal do ES condenado em caso de desvio de remédios do SUS segue foragido

Casal do ES condenado em caso de desvio de remédios do SUS segue foragido

Para a Justiça, Gleidson Lopes e Julianna Ritter Lopes integravam uma organização que furtava remédios para tratamento de câncer, diabetes e TDAH de órgãos públicos em São Paulo

Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 14:54

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Gleidson Lopes e Julianna Zitter são suspeitos de receptar e vender remédios roubados
Gleidson Lopes e Julianna Ritter foram condenados por peculato e organização criminosa. (Reprodução / TV Globo)
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Alvo de uma denúncia de desvio de remédios de órgãos públicos de Campinas, em São Paulo, o casal capixaba Julianna Ritter e Gleidson Soares Lopes foi condenado a 12 e 18 anos de prisão, respectivamente, mas ambos estão foragidos da Justiça desde abril de 2024, quando tiveram a prisão preventiva decretada. A Gazeta teve acesso à sentença que condenou o casal. A defesa disse que eles não sabiam que os remédios eram roubados.

Gleidson e Juliana foram condenados por peculato e organização criminosa, em sentença do juiz Caio Ventosa Chaves, da 4ª Vara Criminal de Campinas, proferida no dia 7 de novembro do ano passado.

Gleidson foi considerado o comprador e principal receptador dos remédios e líder da organização criminosa, tendo recebido penas que somadas chegam a 18 anos e dois meses de reclusão, além de 77 dias/multa. Na decisão, o juiz chegou a classificar Gleidson como "um delinquente contumaz", pelas condenações em processos anteriores.

Juliana, por sua vez, foi considerada a compradora e responsável pelo pagamento dos remédios e condenada a cumprir doze anos e um mês de reclusão, além de 53 dias/multa no valor de cinco salários mínimos por dia.

Casal do ES condenado em caso de desvio de remédios do SUS segue foragido
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As provas e evidências carreadas aos autos deixaram patente que os acusados constituíram organização criminosa com o fito de levarem a efeito, de forma reiterada, as subtrações narradas na denúncia e as subsequentes vendas do respectivos produto.

Caio Ventosa Chaves, juiz da 4ª Vara Criminal de Campinas
Trecho retirado da sentença
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A defesa de Gleidson e Julianna negou a existência de uma organização criminosa, disse que recorreu da sentença e espera a absolvição dos clientes (leia o posicionamento na íntegra ao final da reportagem).

O caso foi revelado há um ano, em janeiro de 2024, pelo programa "Fantástico", da TV Globo. Além de Gleidson e Julianna, também foi apontada a participação de uma família de Campinas no esquema de furto de remédios de hospitais e centros de distribuição de órgãos públicos no estado de São Paulo.

À época, Julianna era assessora parlamentar do deputado estadual Danilo Bahiense (PL) e, com a exposição do caso, ela foi exonerada do cargo.

Os medicamentos de alto custo, comprados com dinheiro público, e destinados ao tratamento de câncer, diabetes e transtorno do déficit de atenção / hiperatividade (TDAH), eram enviados ao Espírito Santo, onde o casal atuava como receptador. O esquema movimentou mais de R$ 1,1 milhão apenas em remédios.

Quem são e o que faziam os envolvidos no esquema

José Carlos dos Santos: servidor público da farmácia judicial de Campinas; responsável pelo furto dos remédios e encaminhamento para Michael Carvalho, seu genro e apontado como líder da organização que vendia os remédios ao casal do Espírito Santo.

Maria do Socorro: tratava das transações financeiras do grupo e repassava a José Carlos, seu marido, a lista dos remédios que deveriam ser desviados.

Michael Carvalho: apontado como líder do grupo e responsável por selecionar os remédios que deveriam ser desviados para a venda ilegal; casado com Gabriela Carvalho, filha de Maria do Socorro e responsável por despachar as encomendas por meio de empresas de logística ao Espírito Santo, declarando que os remédios seriam doações, já que não possuíam nota fiscal.

Gleidson Lopes: também apontado como um dos líderes do grupo, comprava os remédios de São Paulo para repasse no Espírito Santo, onde mantém residência e ligação com uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção na Serra.

Julianna Ritter: dona das contas bancárias utilizadas para transferências bancárias para Maria do Socorro e dona de um carro de luxo que estava em posse de Michael e Gabriella, o que leva a suspeita de que o pagamento do veículo era feito com remédios furtados.

Polícia investiga quem comprava os remédios

Apesar do processo tramitar na Justiça de São Paulo, a investigação ainda deve avançar no Espírito Santo e no Rio de Janeiro para apurar o destino dos desvios do grupo. A sentença do juiz Caio Ventosa Chaves apontou que Julianna pagava pelos medicamentos e mantinha contato com “os destinatários finais: hospitais, clínicas, empresas e particulares” nos estados capixaba e fluminense. Tais destinatários, porém, ainda não foram identificados pela investigação, que segue sendo feita pela Polícia Civil de São Paulo.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que, além do inquérito já relatado à Justiça e que indiciou os seis envolvidos no esquema, um segundo inquérito tocado pela 1ª Delegacia de Investigações Gerais de Campinas investiga possíveis crimes de lavagem de dinheiro e a eventual participação de outras empresas no conluio entre o grupo paulista e o casal capixaba.

Também procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) informou que, diante da expedição dos mandados já existentes contra Gleidson e Julianna, qualquer agência de segurança pode cumprir a prisão do casal. Os mandados estão em aberto desde abril de 2024. 

O que diz a defesa

A defesa do casal capixaba afirma que os clientes não tinham ciência do conluio criminoso da família de São Paulo. A versão é a mesma que já havia sido dada quando o caso tomou proporções nacionais.

“Nós já recorremos [da decisão de sentença] e aguardamos a sessão de julgamento para tentar a inteira absolvição deles. Não havia organização criminosa nenhuma. O Gleidson não sabia de nada e só utilizava as contas da Julianna por ter o nome sujo no mercado e daí ele utilizava as contas dela, é por isso que ela foi envolvida neste caso”, destaca o advogado Danilo Campagnollo

Segundo o advogado do caso, a quebra do sigilo das comunicações telefônicas entre Gleidson e Michael evidenciam que não há nenhuma citação que comprove que Gleidson sabia que o sogro de Michael era servidor público. Em nota enviada à imprensa após a condenação do casal, a defesa afirmou que recebeu com surpresa a decisão e reforçou a posição de inocência de seus clientes.

Polícia não tinha dúvida do envolvimento do casal

Ainda antes da condenação, A Gazeta conversou, em abril do ano passado, com o delegado Elton Costa, da polícia paulista, que afirmou, já naquela época, que não existiam dúvidas sobre a participação de Gleidson e Julianna no esquema, o que se comprovou com a continuidade das investigações.

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Nossa investigação já apontou que eles [Gleidson e Juilianna] repassavam esses remédios para clínicas do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e, inclusive, para uma clínica que está registrada no nome do irmão de Julianna. Há de se entender que ainda é preciso cogitar a possibilidade de essas outras pessoas terem sido enganadas pela quadrilha, já que eles mentiam sobre a procedência dos remédios

Elton Costa, delegado da Polícia Civil de São Paulo
Declaração dada à A Gazeta em 14 de maio de 2024
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